Se você curtiu a NHL nos tempos em que a ESPN transmitia jogos para
o Brasil, você sabe quem é Barry Melrose. Ainda que você não seja desse
tempo, Melrose tinha um espaço cativo no site de hóquei da ESPN. Enfim,
para um torcedor de hóquei que acompanha a NHL há algum tempo é difícil
não saber quem é Barry Melrose.
Técnico do Los Angeles Kings de Wayne Gretzky em 1993, levou o time
às finais da Copa Stanley daquele ano, mas perdeu para o Montreal Canadiens.
Nos dois anos seguintes, manteve-se no comando dos Kings, mas colheu
dois fracassos, sem sequer conseguir classificar-se para os playoffs.
Depois disso, virou analista de hóquei da ESPN.
Ficou lá por mais de uma década, com um estilo descolado (dentro dos
padrões televisivos norte-americanos, claro) que gerou adeptos e detratores
— geralmente atrelada à sua marca mais famosa, o mullet.
Para esta temporada ele foi contratado pelo Tampa Bay Lightning para
voltar a ser técnico na NHL. O retorno não durou muito. Depois de 13
anos, foram pouco mais de 13 jogos de sabor. Cerca de um mês e meio.
Qual o problema com Melrose?
Talvez seja não ter feito mágica. Ou não ter conseguido, em pouco tempo,
dar um conjunto a um bando de jogadores recém-chegados.
Mas, na verdade, o problema maior não é com Melrose. O problema estava
e está na gestão do Tampa Bay. Vejamos: primeiro eles assinaram
um gordo e longo contrato com Dan Boyle, para que ele liderasse a defesa
da equipe.
Meses depois, negociaram Boyle.
Veio então, no pacote da troca, Matt Carle. Ok, não é um Dan Boyle,
mas é um jogador promissor. Ele seria o principal defensor da equipe,
em cima de quem a linha de defesa da equipe seria desenvolvida.
Meses depois, negociaram Carle.
E então chegou Steve Eminger. Claro que Eminger não vai liderar defesa
alguma na NHL, e a gerência do Tampa Bay sabe (ou deveria saber) disso.
A troca foi realizada mais para reduzir a folha de pagamento.
Então foi assim: você começa com Dan Boyle e termina com Steve Eminger.
Tudo isso para diminuir a folha de pagamento, devidamente engordada
pela gerência para esta temporada com a contratação de um notável número
de veteranos com passe livre. Cerca de 70% dos jogadores do time não
estavam lá na temporada passada. Era com isso que Melrose também tinha
de lidar: um elenco majoritariamente renovado. Não conseguiu.
Como anda o time? No gol, Mike Smith surpreende, e a defesa não faz
tão feio. O bom defensor Andrej Meszaros (uma contratação cara para
a temporada) assumiu a liderança do corpo defensivo e dá conta do seu
quinhão. O ataque, outrora o ponto forte do time (ainda que com o estigma
de "time de uma linha só"), é que decepciona. A dupla Vincent Lecavalier
e Martin St. Louis, agora com o bom Vaclav Prospal para completar, anda
abaixo das expectativas. Como parte dessa baixa produção
é creditada a um conflito permentente que tinham com Melrose
— que publicamente os convocava a se empenhar mais —, vamos
ver se as coisas mudam.
Então o time vem mal até aqui? Depende do seu ponto de vista, do que
você esperava do Tampa Bay na temporada. Digamos que tem sido um time
no máximo mediano, com aspiração máxima de conseguir chegar aos playoffs.
Na terça-feira estava atrás do Atlanta Thrashers na classificação dentro
da divisão, e isso já diz tudo.
Entretanto, para a gerência isso é pouco. As expectativas, dada a carteira
aberta para as contratações, eram (e talvez ainda sejam) bem maiores.
A ilusão foi mantida mesmo com o começo cambaleante da equipe, então
lá foi a gerência defenestrar o homem do mullet do seu retorno ao banco
de um time na NHL.
Como avaliar então o retorno de Barry Melrose? Não há
como, não houve tempo, e não poderíamos esperar
mágica de alguém que não comanda um time da NHL
há 13 anos. Para mim, a conclusão dessa história toda
é a má gestão do time. Todo esse contrata-e-troca defensor, contrata-e-aumenta-a-folha
para depois fazer trocas ruins pra diminuir a folha, e ainda demitir
um técnico com menos de dois meses de temporada são retratos de uma
gestão ruim.
Questionado sobre a diferença entre agora e quando era técnico da NHL,
13 anos atrás, Melrose disse que a grande diferença era que naquele
tempo havia uns três jogadores milionários no Los Angeles Kings. Agora
há somente uns três no Tampa Bay que não são milionários.
A comparação é válida, mas aplica-se a todo o mundo esportivo. No caso
do Tampa Bay, são milionários que possivelmente terão férias mais cedo.
Marcelo Constantino era simpático ao Melrose da ESPN.