Por: Gene Collier

Brooks Orpik e Jiri Hudler, o central da quarta ou da quinta ou da sexta linha dos Red Wings, estavam no círculo à esquerda de Marc-André Fleury, de costas para o goleiro, guerreando por um metro quadrado de gelo.

Quando o disco deslizou desde onde estava Darren Helms até a mistura de dança desesperada com duelo de tacos, a pouco mais de dois minutos do terceiro período ontem, a lâmina do taco de Hudler encontrou-o antes, e isso pareceu ativar em Hudler a lembrança instantânea de um dos mandamentos do hóquei ofensivo, espeficamente aquele que diz que um chute a gol nunca é uma má jogada.

Então ele deu de backhand sem ver na direção de Fleury, que estava encostando seu ombro esquerdo na trave só por precaução. Precaução para que um disco de borracha aleatório em um festival de chutes de 60 minutos poderia passar pelo único lugar onde poderia fazer algum estrago. Mera precaução.

O chute de Hudler foi parar naquele lugar.

E passou por aquele lugar.

O estrago?

Irreparável.

"Tivemos uma ou duas chances de tirar o disco dali", lamentou o técnico Michel Therrien dez minutos depois de o gol de Hudler bater os Penguins por 2-1, ampliando a vantagem do Detroit nas finais da Copa Stanley para 3-1. "Este é um bom time, um time muito bom. A quarta linha deles marcou o gol da vitória. O que mais se pode dizer?"

Pode-se dizer que é ainda mais incrível que as talentosas estrelas de primeira linha dos Penguins, Sidney Crosby, Marián Hossa, Evgeni Malkin e Sergei Gonchar, não conseguiram marcar o gol que poderia ter empatado o jogo mesmo tendo 86 segundos de cinco-contra-três sete minutos depois do gol de Hudler.

"É difícil explicar", comentou Therrien. "Não executamos muito bem."

O que não é tão difícil explicar é que o chute de Hudler é o tipo que acaba com seqüências improváveis como as com que os Penguins chegaram ao jogo 4. Já fazia muito tempo que era para eles perderem em casa, onde eles não eram derrotados no tempo normal desde 13 de fevereiro e onde eles tinham campanha de 9-0 nos playoffs. Já fazia muito tempo que era para eles perderem, apesar de terem marcado primeiro, o que lhes tinha garantido a vitória em todas as 11 vezes que isso aconteceu antes nesta pós-temporada. Já fazia ainda mais tempo que era para Fleury ser derrotado em casa, onde ele não perdia no tempo normal desde 21 de novembro de 2007.

"Ainda tenho muita confiança nesses caras em tudo quanto é situação", disse o central Adam Hall, outro central de quarta linha que marcou um gol da vitória nesta série. "Na nossa perspectiva, não está 3-1. Há apenas um jogo, na segunda-feira à noite, e é assim que temos de encarar."

No começo do segundo período, com os Red Wings operando uma vantagem numérica revivida, Mikael Samuelsson sobrou no lado de fora do círculo esquerdp e deu um chute que pareceu sumir por um instante.

Sem trocar dramaticamente de ângulo e sem mudar nem um milímetro da postura de Fleury, o disco reapareceu em cima do travessão e deslizou por cima dele como um esquilo, mergulhando ao gelo no outro lado do gol. Jogadores de hóquei, que não costumam se deixar desanimar por concussões, sérios cortes na cabeça, olhos tão inchados que não conseguem se abrir ou tornozelos inchados como melões, certamente não têm medo de esquilos, mas, ainda assim, daquele ponto em diante no jogo 4 ambos os times pareceram meio ariscos pela primeira vez nestas finais da Copa Stanley.

Seguiu-se um segundo período extremamente cauteloso e sem gols, com ambos os times gerando apenas umas poucas chances decentes de gol e assumindo uma postura de basicamente evitar erros, especialmente o erro.

Estamos em junho, afinal, e as apostas não poderiam sem maiores.

Fleury e Chris Osgood, por um notável contraste, na verdade até pareciam mais relaxado na medida em que o período foi passando. Osgood parou Crosby e Jordan Staal na mesma seqüência. Osgood parou todos os sete chutes que viu no segundo período. Os dois times desperdiçaram uma chance de vantagem numérica.

Apesar de ser impossível ignorar a importância do primeiro gol nesta série e, no caso dos Penguins, ao longo dos playoffs, os 17 mil torcedores recusaram-se a deixar o estádio quando Hossa mandou para dentro um rebote de Gonchar ao lado da trave direita e abriu o placar menos de três minutos depois de o disco cair.

O time de Therrien simplesmente joga de maneira diferente e muito mais confiante quando está na frente, e o mesmo pode ser dito do time de Mike Babcock. O Detroit chegou ao jogo 4 com uma campanha de 12-1 quando marca primeiro, então o gol em vantagem numérica de Hossa, aos 2:51 do primeiro período, 40 segundos depois de Dallas Drake ser punido por atacar Ryan Whitney, foi um pequeno sinal.

Por causa disso, foi um grande problema quando Nicklas Lidström anulou aquele primeiro gol ao marcar em Fleury aos 7:06. Pascal Dupuis tinha acabado de deixar o banco de penalidades depois de servir por tranco em cruz, mas ainda não tinha chegado à jogada quando a bomba de Lidström a partir do ponto esquerdo empatou o placar.

Os Red Wings terminaram o primeiro período com 14 chutes, um total sinistro para Fleury. Os Penguins tinha nove, um número razoavelmente saudável. Quando o jogo acabou, o Detroit tinha dado 30 chutes e teve outros 22 bloqueados. O pior deles deve ter sido o de Hudler. Tenha certeza de que é assim que os Penguins se sentem.

Gene Collier é colunista do jornal Pittsburgh Post-Gazette. O artigo foi traduzido por Alexandre Giesbrecht.
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Página publicada em 1.º de junho de 2008.