Por: Humberto Fernandes

Foram 17 vitórias consecutivas e 97 dias de invencibilidade na Mellon Arena até o Pittsburgh Penguins cair diante de um adversário superior. Os Penguins marcaram o primeiro gol, tiveram diversas oportunidades de vantagem numérica e até mesmo um 5-contra-3 por 86 segundos no terceiro período, mas nada disso adiantou, porque o Detroit Red Wings derrubou tudo.

Os três dias de choradeira de Michel Therrien após o jogo 3 e todas as reclamações do treinador em outras conferências de imprensa, criticando a arbitragem mesmo quando era perguntado sobre o ataque dos Penguins ou as condições do gelo, renderam as oportunidades que ele tanto queria e que seu time foi incapaz de concretizar.

Então quer dizer que os Red Wings apelam para a obstrução para vencer as disputas na zona neutra? Vejamos. Barry Trotz, treinador do Nashville Predators, há oito anos na liga, não viu nada disso. Joel Quenneville, então no Colorado Avalanche, com mais de 800 jogos como técnico, também não. E Dave Tippett, do Dallas Stars, o mais "inexperiente" da turma e ainda assim com mais jogos no currículo que Therrien, não se preocupou com a arbitragem.

Por que não pára de chorar, Michel?

A postura do treinador influencia o time dentro do gelo. Sidney Crosby só faz chorar, dando chilique no final do jogo, disparando contra Henrik Zetterberg. Mais tarde o precoce capitão dos Penguins foi ainda mais infeliz ao comentar a jogada mais importante da partida, quando Zetterberg impediu seu gol no 5-contra-3 ao bloquear seu taco: "Ele apenas bloqueou meu taco. Eu não acho que ele tenha feito algo de extraordinário que qualquer outro não faria em 5-contra-3."

Ah, não, Crosby? Deve ser por isso que a maioria dos jornalistas da América citam a intervenção de Zetterberg como a jogada da partida, o lance em que os Red Wings garantiram sua vitória e se aproximaram da Copa Stanley. Aliás, naqueles 86 segundos com dois jogadores a menos, foi justamente o sueco do Detroit que teve a melhor oportunidade de gol. Com dois jogadores a menos, repita-se. Talvez você não tenha dado o devido valor porque não mata penalidades, nunca pisa no gelo quando seu time está em desvantagem.

Por que não aprende a perder, Sidney?

Zetterberg não é finalista do Troféu Selke porque simpatizaram com seu nome. É finalista porque é capaz de aliar inteligência e habilidade para impedir um gol certo do adversário. O sueco foi fantástico naquele 5-contra-3, que nasceu quando o próprio Crosby deliberadamente mergulhou antes mesmo de Andreas Lilja tocá-lo. Não sei qual é a força da equipe de saltos ornamentais do Canadá que disputará os Jogos Olímpicos de Pequim, mas a julgar pelo seu desempenho ao longo dos playoffs, Crosby poderá ser convocado. E não sou apenas eu quem afirma que o jogador cavou a penalidade. Em caso de dúvida, reveja o lance.

Por que não pára de mergulhar, Sidney?

Outro que mergulhou no gelo no jogo de ontem foi o polvo, uma tradição de Detroit nos jogos na Joe Louis Arena. Mas ontem os Red Wings eram visitantes e os donos da casa não permitiriam esta liberdade. Entretanto, um torcedor de 19 anos, que não tinha medo das consequências, protagonizou a ação. Zach Smith foi expulso da arena pelos seguranças, sob ameaça de prisão se retornasse ao jogo, enquanto era hostilizado pelos fãs dos Penguins.

Mas Smith e seus dois amigos tinham um plano. Eles compraram um ingresso a mais antes de ser expulso, pagando US$ 300 a um cambista. Fora da arena, ele trocou a camiseta normal que usava por seu uniforme dos Red Wings e retornou ao portão 3, entrando normalmente na Mellon Arena. Smith foi aplaudido pelos demais fãs dos Wings e tornou-se o torcedor do qual todos se orgulharam.

Ao atirar o polvo no gelo Smith fez mais pelo Detroit que Evgeni Malkin fez pelos Penguins no jogo 4. O russo teve uma péssima atuação, especialmente no terceiro período, quando atuou por dez minutos. Se com o disco ele tomou decisões erradas, sem ele foi ainda pior, tornando-se um jogador não confiável e desinteressado, em contraste com sua imagem anterior de melhor jogador da segunda metade da temporada e começo dos playoffs. O Pittsburgh não tinha outra opção senão lançá-lo ao gelo, como fez Smith com o polvo. A diferença é que para o torcedor não faltou coragem.

Já para Therrien faltou sabedoria e experiência, algo que Don Cherry tem de sobra e nos oferece na televisão. Atenção: a observação a seguir é de sua autoria, embora descrita aqui com palavras deste colunista.

No primeiro gol, marcado por Marián Hossa em rara falha de Chris Osgood, lá estava Gary Roberts atrapalhando o trabalho da defesa do Detroit em frente ao gol. Em outra oportunidade de vantagem numérica, os Penguins quase marcaram enquanto o velho Roberts lutava com os defensores a centímetros do goleiro. E então na melhor chance da equipe em todo o jogo, com dois patinadores a mais em 86 segundos, o veterano não pisou no gelo sequer uma vez — algo que Ron Cook deve ter adorado, ele que é crítico de Roberts na vantagem numérica.

Assim os Red Wings ficaram a uma vitória da Copa, justamente quando a série retorna a Detroit para o jogo 5.

"É claro que você fica excitado por estar em uma posição como essa," afirmou Nicklas Lidström. "É por isso que você joga o ano todo. Quando começam os treinos, você está se preparando para chegar aqui. Então é isso o que você quer, ter a chance de vencer a Copa Stanley."

Ao lado de Zetterberg, Lidström foi o melhor jogador na noite de sábado, atuando por quase metade da partida (como de costume) e marcando o gol de empate poucos minutos depois do gol de Hossa, impedindo que os Penguins se empolgassem com a liderança e ajudando a derrubar um dos tabus destes playoffs: o time que marcou primeiro não venceu pela primeira vez nesta série e apenas pela 25.ª vez em 84 jogos nos playoffs. Até quando estava no gelo sem fazer absolutamente nada Lidström era essencial, não por seu posicionamento perfeito ou segurança defensiva, mas porque a cada vez que o sueco saía do banco, Crosby buscava o caminho de casa, evitando o confronto contra o melhor defensor da liga.

Os Red Wings venceram o jogo quando Zetterberg impediu aquele chute no 5-contra-3, mas também ganharam a cada defesa de Osgood, seguro quando tinha que ser, e especialmente no gol de Jiri Hudler, um atacante da quarta linha que dominou o disco — recebido de Brad Stuart após grande esforço na linha azul — praticamente de costas para o gol e chutou de esquerda, encontrando um caminho para derrotar Marc-André Fleury.

Em 29 vezes nas finais da Copa Stanley que um time abriu 3-1, o recorde é de 28-1 favorável a ele. E quando o detentor do mando de gelo abre 3-1, o recorde é de 20-0. Definitivamente não são boas notícias para os Penguins.

Na segunda-feira o Detroit jogará por sua quarta Copa Stanley em 11 anos, o feito mais próximo de dinastia dos últimos tempos na NHL.

Humberto Fernandes vendeu seu ingresso para o show do Capital Inicial (com 25% de lucro) e ficou em casa vendo o jogo 4.
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Página publicada em 1.º de junho de 2008.