Por: Eduardo Costa

Esta versão 2007-08 dos Red Wings é a mais indócil força pós-locaute da NHL. Eles não perdoam.

O Pittsburgh Penguins pode vencer os Red Wings. Possuem atributos para tal. Mas isso nunca acontecerá se:
1) Em um intervalo de doze minutos desperdiçar quatro vantagens numéricas;
2) cometer erros grosseiros que gerem situações de gol — como as fatais falhas de Jarkko Ruutu e Evgeni Malkin na noite de sábado; e
3) os três ases ofensivos não estiverem inspirados.

Após esfriar o ímpeto de Pittsburgh — com méritos de sobra para Osgood — durante seu indisciplinado primeiro período, Detroit deu uma aula de hóquei, sempre amparado pela melhor defesa da liga, dois candidatos ao Troféu Selke e um aproveitamento superior nos faceoffs. Como prêmio construíram um 4-0 que colocam os Penguins em uma posição inédita para eles nesta pós-temporada. De quebra manteve a meta vermelha imaculada.

Embora um número superlativo de chutes nem sempre significa amplo domínio, uma quantidade ínfima certamente nos diz algo. Mesmo com um arsenal ofensivo de respeito, Pittsburgh chutou apenas sete vezes contra Osgood nos dois tempos finais. Tendo Marian Hossa, Sidney Crosby, Malkin e Sergei Gonchar e mesmo assim sete chutes em 40 minutos de hóquei?!

Considerando apenas as situações de igualdade numérica os Pens chutaram apenas dez vezes em todo o jogo.

Nas raras vezes em que a resistência vermelha era vencida, havia Chris Osgood, de poucas, porém ótimas intervenções. Negou duas vezes o gol para Hossa e, no momento ímpar do jogo, evitou que Pascal Dupuis, após passe preciso de Crosby, fizesse o primeiro estrago do embate — desnecessário dizer como vem sendo importante para ambas as equipes marcar o primeiro tento nesses playoffs.

Dupuis não capitalizou, mas outra fonte tão secundária quanto o ex-Thrashers não desperdiçou quando teve a chance.

Mikael Samuelsson, que na constelação sueca dos Wings só está acima de Andreas Lilja em termos de popularidade, vestiu a capa de herói ao vazar Marc-Andre Fleury duas vezes. Logo ele, de esquecível passagem pelo preto e dourado da cidade do aço, cujo único momento destacável foi ter feito parte do pacote enviado para os Panthers que acabou rendendo, no final das contas, o goleiro do presente e futuro dos Penguins.

Primeiro Samuelsson tirou grande proveito de uma má decisão de Ruutu. Em vez de rifar o disco com a força e urgência devida, mandou um preguiçoso passe para o centro do gelo. A troca de linha sem sucesso rendeu na abertura do placar. Além de oportunismo, vale destacar a belíssima ação do sueco na hora de iludir Fleury.

Se o primeiro gol foi belo, o segundo começou com um bom trabalho nas bordas do próprio Samuelsson. Em comum apenas o fato que mais uma vez a colaboração de um membro dos Pens foi essencial. Malkin não conseguiu cumprir a simples missão de tirar o disco, bem ao seu alcance, de sua zona. Vantagem aumentada e fim de conversa. Reverter em placar desses contra o time que mais e melhor mantém o disco na linha é tarefa faraônica até para os Penguins. Como bônus, os Wings marcaram mais duas vezes.

Malkin merece um parágrafo à parte devido a sua pobre atuação. Era esperado que Mike Babcock colocasse Niklas Kronwall e Brad Stuart como barreira para a linha do russo. É sabido que o vice-artilheiro da temporada regular nem sempre responde bem quando sofre uma marcação cerrada e limpa, vinda de um adversário de proporções físicas parecidas. Tudo funcionou de acordo com a cartilha do treinador dos Wings. Malkin, além de nulo na frente, foi desastroso na parte defensiva. De tão mal, há quem ache que fisicamente ele não está 100% fisicamente — acredito que ninguém esteja totalmente saudável a essa altura do campeonato.

Podemos ver também porque a defesa dos Wings é seu grande trunfo. Mesmo com os Penguins apresentando um aproveitamento parecido em sua caminhada rumo à final, isso não significa paridade no confronto direto com Detroit. A linha azul do time da Pensilvânia tem grandes méritos, mas está longe da dos oponentes em material humano. E é bom Therien trabalhar ao máximo para que Hal Gill e Rob Scuderi não estejam no gelo quando por lá estiverem Henrik Zetterberg e Pavel Datsyuk. No pouco que coincidiram a coisa ficou feia para o duo defensivo.

Muito se falou que os Red Wings ainda não haviam enfrentado um adversário como os Penguins e vice-versa. Verdade absoluta. Mas, apesar de apenas uma batalha ter sido travada, parece que os Pens terão que buscar bem mais antídotos para combater o inimigo do que o contrário.

Veteranos na tribuna
Chris Chelios compreendeu. Gary Roberts nem tanto. Mas a velha máxima prevaleceu: em time que está vencendo não se mexe.

Como ficou demonstrado que a garra e estrela de Roberts fizeram falta no jogo 1, é bem possível que ele retorne à equipe. Se dependesse da maior parte da torcida a volta teria acontecido já no jogo inaugural da série. Se Roberts não for relacionado para o embate dessa segunda-feira, veremos um desgaste incontornável (?) entre o veterano e Michel Therien.

Juro que estava ansioso para ver Chelios na abertura da Copa contra os Penguins. Ele foi um dos personagens principais do jogo 1 das finais de 1992. Qualquer lista dos dez maiores confrontos de finais de Copa Stanley tem que ter aquele Pittsburgh-Chicago. Apesar da idade avançada, acredito que ainda Chelios guarde lembranças amargas daquele confronto. Os Blackhawks vinham de 11 vitórias consecutivas e abriram uma vantagem de 4-1 no cortejo. Guiados por Mario Lemieux, os Penguings venceriam por 5-4 e abriram o caminho para o bicampeonato.

Agora um reencontro entre o veterano e os Penguins depende de uma derrota dos Wings e uma má atuação — geralmente interligadas — de Andreas Lilja.

Fator Crosby
Obviamente a primeira aparição do fenômeno canadense na Copa Stanley não poderia passar inadvertida. Ele lutou, encarou o duelo com Lidstrom com força — o que rendeu penalidades para ambos —, deu um disco açucarado para Dupuis e exigiu uma defesa superlativa de Osgood; mas a expressão de decepção durante a coletiva pós-jogo mostrava o saldo negativo da noite. Pelo menos a hostilidade que vinha da arquibancada adversária nas duas séries anteriores não teve eco na JLA.

Niklas Kronwall, o novo empalador!
Antti Miettinen não está só. Jordan Staal e Ryan Malone foram apresentados a Niklas Kronwall. Seu tranco em Malone foi poesia em movimento. Seu +3 também atestam o grande momento vivido pelo defensor. Do lado contrário, Ruutu, além de ajudar os Wings no primeiro gol, foi ineficaz em suas tentativas de tirar os adversários do sério, além de cometer uma penalidade desnecessária, que acabou levando ao quarto gol dos Wings, anotado por Zetterberg.

Dan O'Halloran Kaput!
Comentar mais um gol anulado de Tomas Holmstrom é perder tempo. Já faz parte das regras não oficiais da NHL. Uma porcentagem mínima de dúvida e qualquer tento dele será anulado. Pelo menos dessa vez as opiniões estão divididas.

Eduardo Costa não vê na NHL um treinador do mesmo nível de Mike Babcock na atualidade.
Bruce Bennett/Getty Images
Além de ótimos, os Red Wings ainda receberam presentes dos Penguins. Alegria justificável.
(24/05/2008)
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Camisa do Metallurg, boné dos... Red Wings! Evgeni Malkin não teve uma boa atuação no jogo 1.
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Página publicada em 25 de maio de 2008.