Fosse esta uma semana normal, é bem possível que eu já tivesse trocado
de tema para esta coluna. Com duas viradas tão emocionantes na noite
de terça-feira, mesmo as nove vitórias em dez jogos dos Stars até o
fechamento deste texto foram ofuscadas, a ponto de termos de tirá-los
da capa para dar espaço a mais
uma incrível virada nesta temporada, desta vez dos Canadiens, que
ofuscaram até a virada no último minuto dos Penguins, na mesma noite,
em jogo que ainda levou Evgeni Malkin ao topo da lista de artilheiros.
Mas esta não é uma semana normal. A mais de 400 quilômetros da redação
da revista, não posso me dar ao luxo de mudar de tema, já tendo me preparado
para escrever sobre os Stars e imprimido várias referências. Se a matéria
saiu da capa, ainda não há motivos para a torcida do Texas comemorar,
pois já comprovamos cientificamente que a maldição que nos acompanha
acomete também os times cogitados seriamente em algum momento para destaque
em nossa home page.
No fim das contas, minha viagem manteve o destaque no Dallas, que ainda
recebe a atenção de Marcelo Constantino.
Ou seja, saíram da capa, mas estão longe de ter saído desta edição ou
mesmo de ter menos espaço do que teriam caso os Habs não tivessem desandado
a marcar gols depois de desandar a sofrê-los. Seria mesmo impossível
negar a ascensão de um time que não só ganhou os tais nove jogos, como
o fez jogando bem, inclusive diante dos Red Wings, líderes disparados
do Oeste e da liga e provavelmente o time a ser batido nos playoffs.
A vitória no último domingo, por 1-0 sobre o Detroit, foi um impulso
muito bem-vindo, nem tanto pela "aproximação" do líder da conferência
— vai ser difícil descontar em apenas um mês e meio os dez pontos que
separavam os dois times no fechamento desta matéria —, mas principalmente
pelo aspecto moral, já que o goleiro Marty Turco nunca tinha vencido
os Wings no tempo normal em nada menos que 15 tentativas anteriores
(com apenas uma vitória nos pênaltis, em janeiro de 2006).
Essa "superação psicológica" é ainda mais importante quando lembramos
que é cada vez mais provável um confronto entre os dois times nos playoffs.
Imagine a pressão que a imprensa local não exerceria sobre Turco se
ele chegasse a esse confronto sem nenhuma vitória de 60 minutos sobre
o adversário, que já chegará lá como provável favorito. Sendo o goleiro
um dos principais responsáveis pela boa campanha de seu time, essa pressão,
que já o consumiu em outras pós-temporadas, poderia ser decisiva. Não
que ninguém vá pegar no pé dele. (2-9-5 contra qualquer adversário é
lenha na fogueira sempre), mas a vitória de domingo certamente foi um
alívio para ele.
Ainda que Turco cambaleie mais para frente, o técnico Dave Tippett não
acha que seja necessário se preocupar. O reserva Mike Smith tem dado
conta do recado. Sua campanha nem é das mais impressionantes (11-9),
mas seus números (90,7% de defesas, média de 2,43 gols sofridos) mostram
que dá para confiar nele, especialmente como garantia e num rodízio
que reduzirá a carga de jogos de Turco, o que pode deixá-lo mais descansado
para os playoffs, onde rodízios — ou ao menos rodízios de sucesso
— são mais raros.
Também colaborando para embalar os Stars, o atacante Niklas Hagman tem
vários motivos para comemorar. Ele é o líder do time em gols da vitória,
com sete, incluindo o único gol do jogo de domingo, e já estabeleceu
recordes pessoais nesta temporada, com 21 gols e 33 pontos (seus recordes
anteriores era, respectivamente, 17 e 29) e ainda igualar o recorde
familiar de 21 gols, estabelecido por seu pai, Matti Hagman — não confundir
com Larry Hagman, o eterno Major Nelson de Jeannie é um gênio
— em 1981-82, com o Edmonton.
O horizonte adiante dos Stars parece brilhante. Muitos torcedores atrevem-se
a sonhar com a Copa Stanley. Compreensível: com o time jogando bem assim,
eu também me permitiria sonhar. Acho.