Por: Alexandre Giesbrecht

Fosse esta uma semana normal, é bem possível que eu já tivesse trocado de tema para esta coluna. Com duas viradas tão emocionantes na noite de terça-feira, mesmo as nove vitórias em dez jogos dos Stars até o fechamento deste texto foram ofuscadas, a ponto de termos de tirá-los da capa para dar espaço a mais uma incrível virada nesta temporada, desta vez dos Canadiens, que ofuscaram até a virada no último minuto dos Penguins, na mesma noite, em jogo que ainda levou Evgeni Malkin ao topo da lista de artilheiros.

Mas esta não é uma semana normal. A mais de 400 quilômetros da redação da revista, não posso me dar ao luxo de mudar de tema, já tendo me preparado para escrever sobre os Stars e imprimido várias referências. Se a matéria saiu da capa, ainda não há motivos para a torcida do Texas comemorar, pois já comprovamos cientificamente que a maldição que nos acompanha acomete também os times cogitados seriamente em algum momento para destaque em nossa home page.

No fim das contas, minha viagem manteve o destaque no Dallas, que ainda recebe a atenção de Marcelo Constantino. Ou seja, saíram da capa, mas estão longe de ter saído desta edição ou mesmo de ter menos espaço do que teriam caso os Habs não tivessem desandado a marcar gols depois de desandar a sofrê-los. Seria mesmo impossível negar a ascensão de um time que não só ganhou os tais nove jogos, como o fez jogando bem, inclusive diante dos Red Wings, líderes disparados do Oeste e da liga e provavelmente o time a ser batido nos playoffs. A vitória no último domingo, por 1-0 sobre o Detroit, foi um impulso muito bem-vindo, nem tanto pela "aproximação" do líder da conferência — vai ser difícil descontar em apenas um mês e meio os dez pontos que separavam os dois times no fechamento desta matéria —, mas principalmente pelo aspecto moral, já que o goleiro Marty Turco nunca tinha vencido os Wings no tempo normal em nada menos que 15 tentativas anteriores (com apenas uma vitória nos pênaltis, em janeiro de 2006).

Essa "superação psicológica" é ainda mais importante quando lembramos que é cada vez mais provável um confronto entre os dois times nos playoffs. Imagine a pressão que a imprensa local não exerceria sobre Turco se ele chegasse a esse confronto sem nenhuma vitória de 60 minutos sobre o adversário, que já chegará lá como provável favorito. Sendo o goleiro um dos principais responsáveis pela boa campanha de seu time, essa pressão, que já o consumiu em outras pós-temporadas, poderia ser decisiva. Não que ninguém vá pegar no pé dele. (2-9-5 contra qualquer adversário é lenha na fogueira sempre), mas a vitória de domingo certamente foi um alívio para ele.

Ainda que Turco cambaleie mais para frente, o técnico Dave Tippett não acha que seja necessário se preocupar. O reserva Mike Smith tem dado conta do recado. Sua campanha nem é das mais impressionantes (11-9), mas seus números (90,7% de defesas, média de 2,43 gols sofridos) mostram que dá para confiar nele, especialmente como garantia e num rodízio que reduzirá a carga de jogos de Turco, o que pode deixá-lo mais descansado para os playoffs, onde rodízios — ou ao menos rodízios de sucesso — são mais raros.

Também colaborando para embalar os Stars, o atacante Niklas Hagman tem vários motivos para comemorar. Ele é o líder do time em gols da vitória, com sete, incluindo o único gol do jogo de domingo, e já estabeleceu recordes pessoais nesta temporada, com 21 gols e 33 pontos (seus recordes anteriores era, respectivamente, 17 e 29) e ainda igualar o recorde familiar de 21 gols, estabelecido por seu pai, Matti Hagman — não confundir com Larry Hagman, o eterno Major Nelson de Jeannie é um gênio — em 1981-82, com o Edmonton.

O horizonte adiante dos Stars parece brilhante. Muitos torcedores atrevem-se a sonhar com a Copa Stanley. Compreensível: com o time jogando bem assim, eu também me permitiria sonhar. Acho.

Alexandre Giesbrecht, publicitário, escreveu esta coluna a mão no papel do hotel em que está hospedado no Rio de Janeiro.
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Página publicada em 21 de fevereiro de 2008.