 Por: 
        Eduardo Costa
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        Eduardo Costa Há menos de uma semana, se você visse rivalidade entre Detroit Red Wings e   Colorado Avalanche por aí, poderia até jogar uma pá de cal em cima. Ela estava   morta, sendo enterrada aos poucos. Encontrava resistência apenas no coração de   alguns torcedores e atletas, como Peter Fosberg — o sueco citou as antigas   contendas entre sua ex-equipe e a de Michigan para não colocar os Red Wings na   lista de equipes no qual poderia atuar na NHL. Forsberg fez certíssimo. Ele   respeitou seus antigos torcedores e todos que presenciaram aquela inimizade   épica.
          
          Mas o fato de ter se tornado um duelo morno não significava que   alguns incidentes não ocorreriam no decorrer da temporada. Ainda mais se o duelo   for em um momento em que ambas as organizações enfrentem um momento ruim na   liga, buscando a reabilitação.
          
          Os Red Wings vinham de seis derrotas   consecutivas, fato que aconteceu pela última vez em janeiro de 1991. Como fez   uma campanha memorável até a parada para o Jogo das Estrelas, o time continuou   com um folga considerável no topo da tabela geral da NHL. Mas é inegável que   essa fase horrenda incomodou bastante e gerou apreensão.
          
          Já os Avs se   mantiveram altamente competitivos por um bom tempo na duríssima Divisão   Noroeste, mesmo com desfalques ímpares. Mas três derrotas, também de forma   consecutiva, tiraram o time da zona de classificação à pós-temporada. Mais um   insucesso do time de Denver e um triunfo do Phoenix Coyotes na mesma noite   relegariam os comandados de Joel Quenneville à 10.ª posição.
          
          Talvez essa   urgência de reação tenha feito Ian Laperrière, um atleta utilíssimo para os Avs,   e sem histórico de barbáries, tentar dar um golpe superlativo de ânimo à equipe.   Como Laperrière é mais conhecido pelo jogo físico do que por sua intimidade com   o disco, ele foi fiel ao seu estilo. Com seis minutos de jogo, ele acertou um   tranco daqueles em um adversário, ratificando ainda mais sua posição de ídolo   para grande parte dos torcedores locais. 
          
          Escolheu logo Nicklas Lidström,   capitão dos Red Wings.
          
          Todos sabem o quão brutal, selvagem e ardiloso   Lidström é. Desde os tempos em que dava as primeiras patinadas, em sua Västerås   natal, ele já aterrorizava os oponentes. Certa vez acertou com seu taco um   atleta da equipe infantil do Skellefteå AIK, de nome Mattias-Johan   Steelbremberg.  De tão intensa a jogada, o jogador do AIK se partiu em dois,   virando Mattias Bremberg e Johan Steel para todo o sempre. Na NHL não foi diferente   e assim que chegou Lidström passou a ser conhecido como o Jeff Beukeboom   escandinavo... 
          
          Claro que apenas alguém que começou a assistir hóquei   hoje poderia acreditar nesse parágrafo acima. Em sua longa carreira na NHL é   impossível encontrar registro de algum ato de violência cometida por Lidström.   De fato, apenas uma única vez o sueco foi punido por uso excessivo da força em   sua jornada em território norte-americano.
          
          Uma breve olhada já no início   desse vídeo e podemos ver onde vai o cotovelo do jogador do Avalanche. Como   também teve o joelho atingido, Lidström precisou do amparo de um árbitro para   poder patinar até o banco dos Wings. Embora tenha pedido para retornar ao gelo,   o atleta acabou vetado, e deve desfalcar a já combalida retaguarda de Detroit   por, no mínimo, uma semana.
          
          Óbvio que qualquer atleta da liga está   suscetível a ser vítima de um tranco. É uma parte integrante e importante do   jogo de hóquei. Lidström já levou muitos e sempre se safou bem deles, o fato de   ter ficado de fora de apenas 22 jogos em 16 temporadas na NHL exemplificam isso.   Mas foi um lance com uma quota de malícia elevada. 
          
          Laperrière após o   embate se baseou no fato do árbitro ter considerado o lance normal para se   defender.
          
          "O juiz disse que não foi um lance ilegal," afirmou. "Espero   que ele [Lidström] esteja bem. Eu o respeito muito."
          
          Imagine se esse   conceito de respeito for seguido NHL afora. Joe Sakic é muito respeitado por   Valtteri Filppula, então na próxima vez em que eles se encontrarem, o finlandês   pode deixar isso bem claro através de um choque-cruzado. Travis Zajac poderia   demonstrar sua admiração por Doug Weight em um futuro próximo em forma de tranco   por trás. Você simplesmente vai com o cotovelo na mandíbula de alguém que você,   supostamente, respeita.  
          
          E quanto ao julgamento arbitral no lance? Bem,   juízes de hóquei não erram. Apenas perguntem a Lind Ruff...
          
          Ao mesmo   tempo em que tirou Lidström da partida, Laperrière despertou o adversário. Os   Wings mostraram a partir dali uma vontade que há muito não aparecia. É evidente   que em todas as derrotas do time, os adversários tiveram seus méritos, mas a   equipe parecia fora de sintonia, se alimentando da ótima campanha   pré-JDE.
          
          Começando por Aaron Downey.
          
          Embora as imagens deixem   claro que o tranco foi maldoso, vamos acreditar em Laperrière por um minuto.   Mesmo se fosse totalmente isento de culpa a retaliação teria que vir. Você   simplesmente não acerta um atleta de importância superlativa de um time e sai   dessa impunemente. Então Downey foi atrás do atleta dos Avs. O mesmo teria que   acontecer se algum limitado atleta dos Wings tirasse alguém notável do Colorado   Avalanche de uma partida. 
          
          Enquanto Downey se preocupava em fazer justiça   (?), o time dos Wings se ocupava em construir a 4.ª vitória sobre os Avs nessa   temporada, repetindo o feito de 2005-06, quando varreu o time de Denver. Chris   Osgood voltou a atuar bem, defendendo os 18 chutes dos Avs, o que fez com que   três das quatro vitórias acabassem em shutouts para os goleiros de Detroit — com   Dominik Hasek conquistando os dois outros. 
          
          Assim como Osgood, Henrik   Zetterberg também voltou a apresentar uma atuação de grande nível, vazando duas   vezes Jose Theodore. Valtteri Filppula e Chris Chelios também marcaram na noite   de Denver. Uma noite que, por minutos, trouxe de volta aquela velha chama, em   especial quando Mike Babcock e o auxiliar técnico do Avalanche, Tony Granato,   bateram boca entre os bancos de reserva, após uma nova cizânia entre Downey e   Laperrière.
          
          A derrota acabou por deixar o Colorado Avalanche em uma   posição ainda menos nobre na tabela. Sem falar que a mesma tabela mostra que o   time terá cinco partidas consecutivas longe de seus domínios, a começar nessa   quarta-feira contra os últimos campeões, os Ducks. 
          
          Nessa viagem o elenco   ganhará a companhia de dois espectadores de luxo; dois ases que fazem uma falta   faraônica no gelo. Para os Avs continuarem na luta e não assistirem novamente   aos playoffs pela TV, é imperial que Joe Sakic e Paul Stastny retornem de seus   longos períodos de contusão. 
          
          E se essa difícil viagem à pós-temporada   chegar, as chances de Avalanche e Red Wings se encontrarem logo no início dela é   bem grande. Resta saber se as faíscas provocadas pelo tranco de Ian Laperrière   ainda poderão resultar em algo que chegue perto daquelas velhas batalhas.
      
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|  David Zalubowski/AP Henrik Zetterberg volta a marcar e ajuda os Wings a varrerem o Avalanche na temporada regular. (18/02/2008) | 
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|  David Zalubowski/AP Ainda bem que ele é respeitado por Laperrière... (18/02/2008) | 
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|  Karl Gehring/The Denver Post Aaron Downey faz a coisa certa. (18/02/2008) |