Do início até agora
Foi uma época estranha — ao menos para a maioria de moleques de hoje
em dia. Axl Rose ainda não tinha enlouquecido, as mulheres usavam permanente
em suas longas madeixas, o Atari 2600 era uma realidade e a grande maioria
dos jogadores da NHL exibiam estilosos "mullets" no melhor estilo Wando.
Era 1988, e Michael Thomas Modano Junior foi selecionado como primeira
escolha geral do recrutamento pelo então Minnesota North Stars. Apesar
dos céticos dizerem não ao sucesso inegável do atacante de força, começava
aí uma carreira rumo a recordes.
Atrever-me a escrever alguma coisa sobre hóquei e, especificamente,
pelo primeiro jogador que vi jogando o esporte que mais gostamos, soa
meio imparcial. E certamente é imparcial. Alguns jogadores de alguns
esportes passam pela nossa vida e marcam, nem que com um simples comentário
na TV — tenho amigos que são fãs fervorosos de Tie Domi, mas afinal,
quem não é?
A importância do jogador para a cidade de Dallas é nítida em pôsteres,
outdoors e materiais de merchandising do time. Mas a importância que
Modano sente pelo seu time é ainda mais forte, e pode ser observada
ao longo dessas 18 temporadas regulares.
Dono de uma carreira até aqui vitoriosa, porém preenchida com alguns
momentos de baixo rendimento, como a temporada de 2005-06, Modano sempre
jogou um hóquei veloz e intenso, com uma perícia única em seus chutes
de longa distância. Nunca se envolveu em brigas sérias, é um jogador
que traz um centro para o time em que joga, no caso, o Dallas Stars.
Acredito que dentro do rinque seja uma referência para os mais jovens,
até pelo que sempre fez e demonstrou.
Após a derradeira conquista da Copa Stanley em 1999, o então "matador"
time de Dallas foi se desmontando, passando por algumas crises e chegando
no atual formato da liga, onde altíssimos salários foram praticamente
banidos dos times a fim de evitar que o limite do teto salarial fosse
ultrapassado. Uma lenda como Brett Hull, que jogou ao lado de "Mighty
Mo" no ano da conquista, deixou escapar numa entrevista: "Mike é um
cara que todos querem por perto, ele sempre sabe como e quando fazer
as coisas". Isso foi dito por Hull no documentário "Nothing Else Matters",
que mostra um compacto da temporada culminando com o tão sonhado titulo.
De lá pra cá, porém, não só os times mudaram, como o estilo de hóquei
jogado na liga deu uma reviravolta imensa.
O talento inegável que Modano tinha com seu hóquei rápido e sem muito
contato foi apagado por partidas truncadas, com assombrosos encontrões
nas bordas e jogadores sendo travados aos montes. Alguns anos estranhos,
que não deixavam o brilho de jogadas aparecerem como antes, foram aos
poucos fazendo com que o hóquei mudasse, e conseqüentemente, o tipo
de hóquei que os jogadores jogavam. Era preciso se adaptar, evolução
(até aqui "Heroes" aparece?), e foi aí que alguns jogadores perderam
protagonismo na liga.
Inegavelmente Mike continua sendo um ponto de equilíbrio no time do
Dallas Stars, e certamente sua camisa nove estará exposta no ponto mais
alto do American Airlines Center. Mas ainda não é hora para isso, pois
o Dallas não pode perder seu garoto tão facilmente.
A vida fora do esporte
Poucos sabem, mas Mike Modano possui uma fundação para arrecadar fundos
e dar apoio a crianças que sofrem todo tipo de abusos. Ocupando o cargo
de vice-presidente, coordena os trabalho de apoio educacional ou qualquer
outro tipo de ajuda.
Capa de varias revistas, Modano já foi citado como um dos atletas
mais bem pagos e íntegros dos Estados Unidos. A fama e o dinheiro nunca
o iludiram muito, segundo a maioria dos repórteres. Inclusive com a
chegada da Reebok no mundo do hóquei, Modano era um dos garotos propaganda
ao lado de pesos pesados como Roberto Luongo, Patrice Bergeron e outros.
Don Cherry cultiva uma certa antipatia por Mike Modano, e já fez algumas
paródias sobre alguns momentos toscos de sua carreira no programa Hockey
Night in Canada. Mas nada que tire o brilho que o jogador já trouxe
para o time e para os fãs. Aliás, até que é engraçada a "tentativa"
de Cherry. Se quiser dar uma olhada, vá ao YouTube e procure por "Modano
funny".
Os recordes
Na última semana, contra os Sharks, Modano passou a ser o jogador americano
que mais pontuou na liga, com o total de 1233 pontos, ultrapassando
Phil Housley, jogador da velha guarda que atuava na defesa. Agora Mike
Modano é o maior goleador e o maior pontuador americano na história
da liga.
É claro que não podemos começar a inevitável comparação por torcedores
antigos do tipo "sou mais Gretzky". Até porque, se somarmos Modano com
Housley, o total de pontos ainda fica devendo 400 para Gretzky. Mas
não há o porquê de subestimar o feito do jogador americano, até devido
a sua idade e o desgaste devido ao esporte que pratica.
Modano já jogou pela seleção americana de hóquei diversas vezes, incluindo
aí a conquista da Copa do Mundo de hóquei, em 1996, e foi presença constante
nos jogos das estrelas da NHL há um tempo razoavelmente bom.
Como não tenho muitas posses — como diria um grande amigo, sou uma
pessoa rústica —, nunca tive o prazer de assistir à NHL pela TV a cabo
nos idos dos anos 90. Nunca vou me esquecer de um momento dos mais divertidos,
e também de muito orgulho, ao poder assistir, em um hotel de São Paulo,
o último jogo das estrelas narrado pelo grande André José Adler. Quando
Modano entrou no gelo, a arena simplesmente veio abaixo, e então foi
dito: "É, alguém tem que ser Mike Modano". Foi sublime!
Atleta olímpico, capa de revistas, dono de recordes incríveis, dono
de fundação de apoio a crianças, Modano continua no Dallas — e, para
nós, fãs, que dure muito tempo esse casamento — trazendo alegria e
inspiração para torcedores e novos atletas.
Como dizia uma faixa na entrada da finada Reunion Arena de Dallas: "FEAR
THE D — GO MIGHTY MO".
Jed Jacobsohn/Getty Images Modano comemorando... |
Jed Jacobsohn/Getty Images ... e em ação no gelo. |
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Página publicada em 15 de novembro de 2007.