Por: Fabiano Pereira

Após finalmente saber do anúncio, parei para pensar: por que não há três temporadas?

Vou fazer o jogo do "e se...", porque todos sabem como foi a carreira de Eric Lindros. Todos sabem o bebê chorão que ele sempre foi, as sete (sete, não?), concussões de sua carreira, incluindo aquele tranco devastador do Scott Stevens, o debate se ele merece um lugar no Hall da Fama (LaFontaine foi, por que ele não?), ou seja, um jogador muito produtivo quando não machucado e alguém que se aposenta com 34 anos, enquanto Chris Chelios está lá em Detroit e seus 45 (45, não?), anos.

Apenas para situar, esta foi a troca que os Nordiques aceitaram dos Flyers: Peter Forsberg, Ron Hextall, Chris Simon, Mike Ricci, Kerry Huffman, Steve Duchesne, a primeira escolha de 1993 (Jocelyn Thibault), a primeira escolha de 1994 (trocada para os Leafs e depois para os Capitals, resultando em Nolam Baumgartner) e 15 milhões de dólares.

A idéia é fazer várias simulações (claro que dentro da minha cabeça) de como teria sido a carreira dele em situações diferentes. Vou explicar o que houve e o que teria acontecido. Viagem pura deste colunista.

E se... Eric Lindros tivesse aceitado jogar pelo Quebec Nordiques?

O que aconteceu: Papai e Mamãe Lindros (Carl e Bonnie, respectivamente), queriam que o filho jogasse em uma equipe proeminente da liga, mas quem tinha a primeira escolha geral era o Quebec Nordiques, que tinha dito que não arredaria pé e o escolheria. Escolhido, a equipe canadense recebeu duas fortes propostas. Uma dos Flyers e outra dos Rangers.

O que poderia ter acontecido: Lindros bateu o pé com os pais e disse que jogaria em Quebec, que gostaria da oportunidade de jogar em uma equipe que contava com dois talentosos centrais: Joe Sakic e Mats Sundin. Ele sabia que teria que conquistar seu tempo de gelo, mesmo sendo considerado o "The Next One". Inicialmente começa a temporada na terceira linha, mas vê tempo de gelo em vantagem numérica na primeira, jogando com Valeri Kamenski, Sakic, Owen Nolan e Mikhail Tatarinov. Aos poucos, ele vai sendo colocado na segunda linha, para jogar com Sundin e Mike Hough. O garoto pontua prolificamente, já que não é sua obrigação ser o principal jogador. Mesmo que defensivamente os Nordiques não sejam uma potência, ninguém quer encará-los na pós-temporada. Chegam à semifinal da conferência e perdem para os Blackhawks de Roenick, Chelios e Belfour. Depois de três temporadas, os Nordiques trocam Sundin para os Flyers, que contam com uma equipe jovem e o promissor Peter Forsberg. Bobby Clarke acha que os dois suecos podem fazer muito estrago juntos, enquanto o combo Sakic e Lindros continua a ser dos mais dominantes da liga. Mesmo com seu estilo aguerrido e batedor, Eric contunde-se ocasionalmente e, após duas Copas Stanley — conquistadas graças a Steve Duchesne e Mike Ricci, que vieram na troca de Sundin —, Lindros aposenta-se após 15 temporadas, com 35 anos, já que ele não consegue mais ficar em frente do gol como antes, distribuindo bordoadas. Termina sua carreira com status do maior power forward de todos os tempos, mesmo com a discussão sobre quem é melhor: ele ou Gordie Howe? Estatísticas: 1145 jogos, 530 gols, 891 assistências, 1421 pontos, 1,24 pontos por jogo.

E se... a justiça tivesse decidido que Lindros era dos Rangers?

O que aconteceu: os Rangers garantem que na época em que Lindros foi recrutado, eles tinham feito uma proposta antes dos Flyers. A proposta era: Doug Weight, Tony Amonte, Alexei Kovalev, John Vanbiesbrouck e três escolhas de primeira rodada (que viraram Nicklas Sunstrom, Dan Cloutier e J.S. Giguere).

O que poderia ter acontecido: a justiça decide que Lindros é dos Rangers. A equipe de Nova York começa a temporada sem seu principal goleiro e jogadores promissores como Weight, Amonte e Kovalev. Ainda assim, o combo Mark Messier e Eric Lindros parece ter futuro. Porém, como a equipe conta com muitos jogadores jovens e pouca profundidade, a equipe pasta com Lindros no plantel e a torcida começa a querer a cabeça do Baby Boy. Gritos de "Baby One, Baby One", são ouvidos no Madison Square Garden. Lindros parece sentir a pressão e, com 60 jogos na temporada e apenas 32 pontos, começa a reclamar na mídia que a torcida não está dando espaço, e os pais começam a pressionar o então gerente Neil Smith para que ele seja trocado. O capitão Mark Messier enquadra Lindros no intervalo de um dos jogos e o garoto responde com um Gordie Howe Hat Trick (1 gol, 1 assistência e 1 briga). Lindros começa a jogar enfurecido após ser colocado na primeira linha com Messier e Graves. Após terminar com bons 59 pontos em 82 jogos (após a bronca, 27 pontos em 22 jogos) a temporada e a tutela de Messier, Lindros finalmente começa a jogar bem. Emparelhado com Mike Gartner e John Ogrodnick, a temporada seguinte é de total dominação dos Rangers. Com uma sólida base defensiva com Leetch, Patrick e Zubov e um Mike Richter fenomenal, os Rangers caminham a passos largos para os playoffs, mas Lindros sofre uma concussão, por estar patinando de cabeça abaixada e levar um tranco fortíssimo de Gart Butcher, do St. Louis Blues. Mais uma vez Messier chega junto de Lindros e reprime o garoto a aprender a patinar direito. Playoffs e os Rangers parecem destinados a acabar com os 54 anos de seca. E conseguem, vencendo os Canucks na final, por 4 a 2. Lindros é eleito o MVP dos playoffs, com 40 pontos em 25 jogos. Após esta conquista, os Rangers viriam a conquistar novamente a Copa Stanley em 1999-2000, ainda com Messier, Lindros, Leetch e Richter dominando a Conferência Leste. Após um tranco no queixo de Scott Stevens, Lindros se aposenta com 33 anos, mas um baita legado: 901 jogos, 607 gols e 703 assistências, numa das maiores médias de pontos da história.

E se... Lindros tivesse aprendido a patinar de cabeça erguida?

O que aconteceu: como sabemos, Lindros tinha péssimo hábito de patinar de cabeça abaixada. Esse foi o motivo pelo qual ele acabou sofrendo talvez a maior concussão de sua carreira, naquele famoso tranco de Scott Stevens.

O que poderia ter acontecido: o pequeno Eric Lindros, seu pai Carl e seu irmão Brett estavam patinando em London, Ontario, num daqueles lagos congelados que sempre vemos. Então, o pequeno Eric dedidiu que ia jogar hóquei com uns garotos grandões. Seu pai, numa atitude covarde, impede o filho, arrastando-o pela neve, enquanto seu irmão Brett chorava de vergonha. Em casa, papai Lindros decidiu que nunca mais iria desproteger seu filho. E o resto é história. No mundo bizarro, papai Lindros não só teria deixado seu filho jogar com os garotos maiores, mas também começou a fazer contagem de quantas cabeças o pequeno Eric rachava. Lógico que no começo o garoto só apanhava. Na verdade, seu apelido era "Ericrash", graças a seu estilo "head down" (trocadilho em inglês, fantástico). Mas isso apenas fortaleceu o caráter do garoto Lindros, que começava a ser conhecido como Smash Hit Lindros (outro trocadilho), devido a seu jogo feroz e físico, de cabeça erguida. Lindros é então recrutado pelo Nordiques e mandado para os Flyers e lá, ele pontua prolificamente e sagazmente escapa de contusões. Pior, ele é quem causa as contusões. Nunca na liga um jogador foi tão temido quanto o jovem Eric. Intimidadores tentam tirá-lo do jogo, mas sempre levam a pior. A NHL começa a estudar regras para evitar que um jogador fosse tão dominante assim. Lindros aposenta-se com mais de 1000 jogos e por pouco não suplanta os 2000 pontos. Além disso, termina a carreira com estrondos 2500 minutos de penalidades e é eleito o maior jogador de todos os tempos.

Fabiano Pereira adorou escrever este "e se..." e promete pensar em outros para o futuro. Falando em "e se...", em sua vida real, ele não tem esses "se", mas apenas certezas, junto de sua esposa e filha
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E se isto tivesse acontecido antes, quando Messier ainda tinha pernas e Leetch ainda conseguia voltar para defender?
ESPN
E se esse sorriso de Baby Lindros tivesse sido sincero e ele realmente estivesse feliz por jogar em Quebec City?
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Página publicada em 15 de novembro de 2007.