Por Alessander Laurentino e Rafael Roberto

Algumas temporadas atrás, já na pré-temporada da NHL pelo menos uma divisão da liga já tinha campeão certo. O Colorado Avalanche colecionava títulos da sua divisão sem ter concorrentes à altura e a torcida podia mandar confeccionar a nova faixa de campeão ainda em outubro.

De duas temporadas para cá tudo mudou na Divisão Noroeste da NHL. Em 2002-03 os Avs só conseguiram faturar o caneco depois de um vacilo inacreditável dos Canucks nas últimas rodadas da temporada regular. Já em 2003-04 o time de Vancouver não cometeu o mesmo erro e faturou o título da divisão. No ano seguinte o locaute não deixou haver campeão da divisão, mas agora em 2005-06 os Avs passaram de franco favoritos a quase franco atiradores, em que pese a perda de Peter Forsberg para os Flyers.

A competição é tanta no Noroeste que, dos cinco times da divisão, quatro estariam hoje nos playoffs. Ou seja, metade dos concorrentes diretos ao título da Conferência Oeste seria da Divisão Nororeste. Apenas o Wild estaria fora dos playoffs hoje.

Calgary Flames
O outrora moribundo Calgary Flames ressurgiu das cinzas e chegou às finais da Copa Stanley na última temporada disputada, e, para mostrar que não foi por acaso que foram tão longe, hoje o time da principal cidade da província de Alberta, no Canadá, lidera a Divisão Noroeste.

Com um time que conta com ofensividade bem distribuída, os Flames têm quatro jogadores com mais de 30 pontos e sete com mais de 20 pontos na temporada. Jarome Iginla lidera o time em gols marcados (23) e pontos (39), seguido de perto por Daymond Langkow (34 pontos).

No gol, Miikka Kiprusoff continua eficiente e, em 42 partidas disputadas, tem 26 vitórias e 12 derrotas, com médias de defesas de .916 e de gols sofridos de 2.25.

A volta aos playoffs e o clima de final parecem ter contagiado a cidade e o time com a memória de 1989. Agora os Flames não são mais os patinhos feios do Canadá e parecem decididos a dar trabalho na disputa do Noroeste. Em 48 partidas disputadas são 29 vitórias e 14 derrotas, tendo ainda cinco derrotas no tempo extra, e ainda 18 vitórias em casa e apenas quatro fracassos em seus domínios.

Vancouver Canucks
O time mais ocidental do Canadá tem mantido a mesma base há várias temporadas, além de ter recrutado bem e contratado apenas o necessário, mantendo a política de não fazer gastos desnecessários. Até aqui vem dando parcialmente certo, o sucesso não foi total ainda porque o time não tem conseguido ir longe nos playoffs.

Markus Naslund transformou-se num dos melhores jogadores de hóquei do mundo, aliando habilidade, poder ofensivo e liderança. Além dele os Canucks contam com o eficiente central Brendan Morrison e o polêmico Todd Bertuzzi. Se não poderão contar com o goleiro titular Dan Cloutier, Alex Auld vem dando conta do recado no gol dos vice-líderes do Noroeste.

Além disso, esta realmente tem sido uma temporada de ouro para os irmãos Sedin, que encontraram em Anson Carter o parceiro ideal para a sua linha. Henrik está na vice-liderança da artilharia do time atrás apenas de Naslund, enquanto Daniel vem logo atrás em quarto lugar na tabela de artilharia do time.

Os Canucks têm o oitavo melhor ataque da NHL e o quinto melhor aproveitamento de vantagem numérica. Quando joga no GM Place o time de Vancouver é quase imbatível. Já são 18 vitórias e apenas três derrotas na temporada jogando em casa.

A pressão em Vancouver vai muito além da conquista da divisão. Espera-se que finalmente o time consiga deslanchar nos playoffs e não decepcione novamente quando é favorito, seja quem for o goleiro do time. A dúvida da vez é se Auld será goleiro suficiente para os playoffs, se o time vai contratar alguém ou se o duvidoso Cloutier voltará em tempo.

Edmonton Oilers
Que os Oilers sempre foram um osso duríssimo de se roer todo mundo sabe, mas que eles agora vivem atrás dos Flames, isso sim é novidade. Hoje o time da capital de Alberta estaria classificado na última vaga do oeste para os playoffs.

Por mais incrível que pareça, os Oilers têm apresentado uma campanha melhor como visitante do que como mandante. Em casa são 11 vitórias e 10 derrotas, enquanto fora o time venceu 14 e perdeu oito. Tudo bem, vencer fora é fundamental para se ter sucesso na NHL, mas ninguém pode deixar de fazer o dever de casa.

O time de Edmonton possui quatro jogadores com mais de 40 pontos na temporada, tendo Shawn Horcoff como líder (15 gols e 35 assistências). Ales Hemsky e Jarret Stoll vêm logo a seguir, para só então aparecer alguém realmente conhecido fora de Alberta (Ryan Smyth). Por outro lado, a produção de Michael Peca vem sendo bem abaixo do que se esperava dele (apenas sete gols e oito assistências em 45 partidas).

No gol, Jussi Markkanen tem feito as vezes de titular, tendo disputado 32 partidas até aqui, enquanto Ty Conklin e Michael Morrison disputam acirradamente a posição de segundo goleiro do time.

Minnesota Wild
O Minnesota Wild é o time que mais corre por fora na briga pelo título da divisão. Pra falar a verdade, o Wild vai ter que ralar um bocado para conseguir uma vaga nos playoffs e ponto crítico para o time de Minnesota é o ataque, que é o oitavo pior da liga. O Wild tem apenas sete jogadores com 20 pontos e concentra quase todo o seu ataque em Brian Rolston, único jogador mais de 40 pontos no time, e Marian Gaborik, que apesar de ter uma boa média de um ponto por jogo, vem sendo criticado por não conseguir manter a consistência esperada para a estrela que é no time. Nos últimos jogos, Randy Robitaille começou a contribuir mais com o ataque. Em seus últimos seis jogos, ele marcou seis pontos e começou a ganhar espaço nas situações de vantagem numérica.

Se o Wild peca no ataque, na defesa ocorre o oposto. O time tem a terceira melhor defesa da liga, levando em consideração ao número de gols sofridos. Liderando uma veloz defesa que sabe municiar o ataque estão Willie Mitchell, Filip Kuba e Kurtis Foster. Os dois últimos, além de proteger sua rede, gostam de atacar o adversário. O novato Foster marcou 18 pontos em 28 jogos e Kuba marcou dois pontos a menos nesta temporada. Porém, Kuba é um jogador que Jacques Lemaire usa em situações tanto de vantagem quanto de desvantagem numérica, assim como Mitchell e seu +12 (líder do time nessa categoria).

Porém, o maior responsável pelos bons números da defesa do Wild é o goleiro Manny Fernandez. Mesmo com o Minnesota sendo um dos times que mais permite disparos a gol, ele é o segundo em toda a NHL em média de gols sofridos por jogo (2,02) e percentual de chutes defendidos (92,9%). Em 30 jogos Fernandez tem 18 vitórias, uma a menos que o seu recorde pessoal.

Colorado Avalanche
Era dia 30 de dezembro. Naquele mês o Colorado Avalanche tinha uma campanha de 5-7-0, estava na oitava posição da Conferência Oeste, na beira dos 50% de aproveitamento e enfrentava o San Jose Sharks fora de casa, um adversário que briga diretamente pela ultima vaga na pós-temporada com o Avs. Por tudo isso o Colorado precisava de uma vitória, mas o que se viu foi uma atuação apática de um time que se jogasse contra a Armênia (vide blog da TheSlot.com.br), perderia. Foi a gota d'água.

No outro dia o Avalanche enfrentava o Phoenix Coyotes, também fora de casa. Antes do jogo o treinador Joel Quenneville chegou a dizer para os jogadores que eles aparentem que estão se importando com o jogo. Não foi só treinador que sabia que tinha algo de errado, os jogadores também. Com quatro segundos de jogo Brett McLean já entrou numa briga para tentar mostrar que o Avalanche estava entrando num clima de batalha para reverter a situação. "Foi uma coisa que queria fazer pelo nosso time", disse McLean depois do jogo. O que se viu a partir daí foi um Colorado que jogava com vontade em todos os setores, desde as mais "baixas" linhas até os jogadores principais, que começou a aproveitar mais com gols as situações de vantagem numérica e a anular as dos adversários.

Mas o melhor foi um goleiro sólido, capaz de vencer jogos, coisa que antes eles não estavam conseguindo fazer e, pior, comumente perdiam partidas. David Aebischer voltou a jogar bem e principalmente a repetir essas boas atuações jogo após jogo. O resultado causado por essa faísca motivacional transformou o Colorado do começo da matéria num dos concorrentes ao título da divisão porque desde a partida contra o Coyotes a campanha de 8-2-0 tornou possível que o time das montanhas chegasse perto do Calgary Flames e Vancouver Canucks.

Alessander Laurentino e Rafael Roberto tiveram que trabalhar juntos para conseguirem cobrir a divisão mais emocionante da NHL.