Muitas pessoas acham que o nome do St. Louis Blues, sediado na
aprazível cidade de mesmo e belo nome — e não estou falando
da São Luiz original, aqui no Brasil, lá no Maranhão —,
foi inspirado na cor do uniforme do time, ou naquele estilo musical
pai do rock'n'roll. O que ninguém sabe é que, pelo visto, o Blues
do time vem do outro significado dessa palavra: triste, deprimido!
É assim que se sentem os milhares (???) de torcedores do representante
de Missouri na NHL.
Fruto da primeira expansão da liga, de onde vieram também o Philadelphia
Flyers e outros times bastante conhecidos por nós, os Blues começaram
sua história surpreendendo toda a NHL. Afinal, que outro time
chegou a três finais consecutivas de Copa Stanley logo nos três
primeiros anos de franquia? Mesmo os Canadiens, fundados em 1909,
só foram ser vices em 1914! Obviamente os azuis não resistiram
a toda a força e tradição dos gloriosos Habitants em 68 e 69.
Já acostumados com o vice, também perderam a final em 70, dessa
vez para os Bruins. E depois?
Aí complica. Depois desse começo arrebatador, nunca mais chegaram
à final, embora ficassem no "quase" por diversas oportunidades.
Passaram pelo time grandes craques da NHL, todos com suas camisas
imortalizadas no teto do SAVVIS Center: Bernie Federko, Brian
Sutter, Bob Gassoff e os irmãos Plager. E nada, nem com The Great
One os Blues conseguiram! O próprio Gretzky admitiu que a temporada
que passou por lá (1995/1996) foi a pior de sua carreira! Até
os Flyers, time da terra do Will Smith, já chegaram a ter seu
nome eternizado na bela taça do lorde Stanley. E por duas vezes,
ainda por cima!
Mesmo não tendo nenhum título, os Blues estão sempre lá, nos playoffs,
tentando acabar com o jejum. Desde 1979, há 25 temporadas, que
eles chegam lá. Entretanto, o máximo que já conseguiram foi chegar
às finais de Conferência. Em 2000, ano em que a franquia ganhou
o Troféu dos Presidentes, concedido ao time de melhor campanha
na temporada normal, os Blues sucumbiram frente ao San Jose Sharks.
E olha que o elenco sempre está entre os sete mais bem pagos da
liga, embora não tenha muitos jogadores que desequilibram. De
2000 até hoje contaram com a ajuda de Chris Pronger, Al MacInnis,
Doug Weight, Pavol Demitra, Pierre Turgeon, Keith Tkachuk (?),
entre outros famosíssimos e muito bem-pagos astros do esporte
mais quente do gelo.
Este ano, uma das grandes tradições da NHL está ameaçada: os Blues
parecem que não vão à pós-temporada! À espera de um milagre, seguram
na lanterna do Oeste e da liga desde o começo, sem esperanças
de largá-la. Um de seus problemas mais graves, a falta histórica
de goleiros consistentes (e olhem que até Curtis Joseph passou
pelos Blues, no começo da carreira!), nunca chega ao fim. Depois
de duas frustrantes temporadas com Chris Osgood, sósia do cantor
Simply Red, veio a salvação: Patrick Lalime. Seu ex-time, o Ottawa,
deve ter ficado muito feliz de se livrar dele para adquirir The
Dominator, Dominik Hasek!
Lalime leva muitos frangos, tem péssimos números, está pior que
nunca. Pesa também o fato de ser o pior titular de toda a NHL.
Por essas e outras, foi colocado na desistência. Essa miséria
levou gol até do plexiglass! Como nesse time tudo vai mal, os
reservas Reinhard Divis e Curtis Sanford não estão conseguindo
se firmar, subindo e descendo entre os Blues e seu afiliado da
AHL, o Peoria Rivermen. Só para constar, o outro goleiro utilizado
pelo time chama-se Jason Bacashihua.
Aliás, não são somente os goleiros que fazem essa "viagem". Vários
jogadores de linha também vão e voltam. Todo dia recebo no meu
e-mail alguma notícia de um jogador que foi chamado de Peoria
para St. Louis ou foi relegado ao time B.
E até onde não havia problemas, como na defesa, os Blues prosseguem
seu calvário. Quem antes fazia inveja à maioria da liga com craques
como Al MacInnis — o chute mais poderoso da NHL —
e Chris Pronger, além do respeitável Sean Hill, do nunca lembrado
Alexander Khavanov, da jovem promessa Barret Jackman e, num passado
distante, Scott Stevens (!), hoje é motivo de piadas, com um peneirão
que até uma criancinha passaria.
Nessa temporada, as coisas estão diferentes: MacInnis se aposentou
e Pronger foi defender outras cores. Mas não pensem que só houve
lágrimas, pois o promissor Eric Brewer chegou para tentar diminuir
as enormes perdas. Porém, várias contusões, como a do próprio
Brewer e de Jackman, estão contribuindo para o time não conseguir
parar os atacantes adversários.
Chegando ao ataque, como não poderia deixar de ser, as coisas
também vão péssimas! Quem diria que Petr Cajanek (leia-se Shaiãnék,
caso algum torcedor queira aprender os nomes de seus atuais ídolos)
e Jamal Mayers estariam entre os maiores pontuadores da equipe?
A saída de Pavol Demitra, sem dúvida o melhor jogador da Eslováquia,
tem sido catastrófica. Sem ele, seu ex-companheiro de linha, Doug
Weight, está cada vez mais solitário, já sendo alvo de especulações
para ser trocado. Aliás, desde que veio de Edmonton, ele nunca
repetiu os números ofensivos que vinha tendo com os Oilers. Ainda
mais agora que Scott Mellanby, Cory Stillman, e Brett Hull fazem
parte das recordações de um passado saudoso. Sem títulos, porém
mais alegre do que a atual situação.
Depois de sair tanta gente, quem ficou? Keith Tkachuk! Ídolo local,
está em franca decadência, chegando a ter atuações cada vez mais
medíocres. E quem chegou? Ninguém! Ou vocês acham que o aposentado-que-ainda-acha-que-joga-bem
Scott Young é um reforço? Ou, quem sabe, Simon Gamache? Ou Trent
Whitfield? Está certo que Mike Sillinger, o goleador da equipe,
com 18 gols, foi um bom reforço, e que Dean MacAmmond vem fazendo
uma boa temporada regular. Mas isso é muito pouco para um time
que não sabe o que é ter férias cedo desde 1979! Ah, e Gamache
lidera a equipe em +/-, com a incrível marca de +1!
A única salvação chama-se Dallas Drake! Não é à toa que ele recebeu
a carinhosa alcunha de The Best One! Quem mais faz gols, distribui
trancos, briga, bate, apanha, dá assistências, sobe ao ataque,
volta pra marcar, mata penalidades, ajuda na vantagem numérica,
tão bem quanto ele? Ouso desafiar qualquer leitor ou colunista
a citar um nome sequer que se compare a Drake!
Diante de tantos problemas, o ataque que um dia já foi um dos
mais produtivos da liga vem minguando ano após ano, até chegar
à atual condição: segundo pior ataque da NHL, só não sendo pior
que o dos Blue Jackets, que nunca foi grande coisa.
E não há nenhuma melhora à vista. O time está falido, sendo rifado
pra quem quiser comprá-lo — eu compraria, e montaria um
time respeitável: nunca entendi o St. Louis Blues ser sempre um
dos elencos mais caros e nunca chegar lá. Era dinheiro mal investido.
Tanto é que faliu!
Para piorar as coisas, existe uma cláusula que exige continuar
na cidade por mais alguns anos, até 2007 ou 2009, não tenho certeza.
Caso algum bilionário entediado, que quisesse jogar alguns milhões
pelo ralo para levar uma franquia da NHL para sua cidade, desse
um lance pelos Blues, não levaria, por causa dessa cláusula. De
certa forma é bom porque um time tradicional continuaria em sua
cidade natal. Todavia torna-se ruim se levarmos em conta as sombrias
perspectivas do que um dia foi uma franquia de sucesso da liga,
sempre correndo por fora na luta pela Stanley.
Igor Vasconcelos é fã dos Blues
desde que conheceu o hóquei, jogando NHL 97. Nesse jogo era
dificílimo marcar gols e ele sempre ganhava com um gol de
um certo baixinho que jogava com o número 99. Ele redigiu
esta pérola jornalística ouvindo Querosene Jacaré,
a banda que canta o grande clássico “O boby”.