O começo deles foi bom. As três primeiras partidas então, eletrizantes. Vitórias apertadas, com gols salvadores nos últimos momentos. E sobre adversários de peso, os rivais Bruins, Rangers e Maple Leafs. Michael Ryder foi herói em dois jogos consecutivos, os dois primeiros da temporada. O panorama geral manteve-se bom ainda por algum tempo, até meados de novembro, quando a casa virou. De lá pra cá, o Montreal Canadiens enguiçou e segue ladeira abaixo na tabela. Especificamente do dia 10 de novembro para cá foram 30 partidas. Sabem quantas vitórias? Nove.

Eles já estão fora do grupo dos oito primeiros da Conferência Leste, prosseguem em declínio e, pior, o percurso parece apontar nessa direção. Ou seja, nada de playoffs. A coisa anda tão feia que na semana passada o gerente Bob Gainey demitiu Claude Julien do cargo de técnico do time, depois de três anos no posto. O antigo capitão da equipe, Guy Carbonneau, foi chamado para assumir a equipe aos poucos, começando agora como assistente (do próprio Gainey, que ocupa o cargo de técnico interinamente) e passando a técnico principal no fim da temporada. Que, ao que tudo indica, será curta.

O ambiente não anda nada bom em Montreal, o que já era de se esperar. Parte da torcida pede abertamente a cabeça de José Théodore, o goleiro que um dia carregou o time nas costas. Aliás, você se lembra? Que temporada! Théo ganhou o Troféu Hart e ainda levou o time mais longe do que se imaginava nos playoffs.

Lembra também de quando Alexei Kovalev teve aquela temporada sensacional, coisa de jogador de elite? Pois é, tanto no caso dele como no de Théo parece que foi só aquilo mesmo. Um lapso, um relance, e nada mais. Uma temporada de elite, um ponto alto — fora da média — no gráfico de bons jogadores. Mas que não são aquilo que um dia pintaram que eram ou que seriam: craques capazes de mudar o panorama de uma equipe.

Não apenas os dois. O capitão Saku Koivu tem uma das mais espetaculares histórias de vida que eu conheço. São raras e, por isso mesmo, justamente superlativas as pessoas que conseguem derrotar um câncer como ele conseguiu. Mas, no gelo, ele não é aquele jogador capaz de desequilibrar, não é o grande craque que parte da imprensa canadense já tentou pintar. É um bom jogador, líder do time e que certamente tem enorme utilidade. Ponto.

Negociar José Théodore é a solução?

Se é certo que Théo não é aquilo tudo em que um dia acreditamos, ele também não é o maior responsável pelo declínio dos Habs na temporada. Com seus principais defensores — Sheldon Souray, Andrei Markov — jogando mal, como todo o time, aliás, não há como jogar todas as pedras nele.

Os Habs se superaram anos atrás nos playoffs quando viraram uma série praticamente perdida contra os Bruins graças ao seu conjunto e à raça de seus jogadores. E, sim, graças a um iluminado José Théodore. Mas o Montreal era, naquele ano, um time sem grandes estrelas, cuja força maior estava no conjunto. O mesmo que o Anaheim de 2003 ou o Calgary de 2004. Times com alguns jogadores que sobressaem, mas cuja força maior está no espírito de equipe e na coesão que conseguem num determinado momento. Os poucos momentos recentes de sucesso dos Canadiens foram baseados primordialmente nisso.

Negociar Théodore pode até vir a ser um bom negócio se a gerência conseguir uma boa oferta e se ele realmente mantiver-se como apenas um bom goleiro que teve um grande momento na carreira. Algo como um Jean-Sebastien Giguere.

Embora não haja qualquer padrão de comparação, para quem já teve um Patrick Roy debaixo das traves e o deixou sair há sempre aquela coceirinha quando se fala em rifar Théodore pela liga. Mas é algo que a gerência deve estudar com calma. Os rumores já rolam soltos pela liga e o reserva Cristobal Huet vem ganhando cada vez mais tempo.

Gainey assumiu garantindo que Théo tem crédito na praça e será mantido como goleiro principal. Isso serve para motivá-lo e tranqüilizá-lo, arrefecendo a boataria sobre trocas. Mas é algo que morre na esquina de novas derrotas. Convenhamos, cobranças sobre a atuação de Théodore é algo que Montreal está se acostumadando desde que ele venceu o Troféu Hart. E, claro, um novo e gordo salário.

Para complicar ainda mais a vida dos Canadiens, a divisão deles não é nada fácil, e os jogos pela frente são todos barra-pesada: Flyers na quarta-feira, depois Senators, Maple Leafs e Hurricanes. Se continuar desse jeito, o normal tem sido ver Montreal perder. Qualquer vitória será uma zebra bem-vinda.


Marcelo Constantino acredita que não teremos todos os canadenses nos playoffs este ano. Quando escrevia esta matéria, os Maple Leafs também estavam fora dos oito primeiros da Conferência Leste.
JOSÉ THÉODORE NO LIMBO Sendo substituído por Cristobal Huet depois de levar cinco gols seguidos dos Canucks (Chuck Stoody/CP - 21/01/2006)
E TOME GOL EM THÉODORE Na partida seguinte, mais uma saraivada de gols, dessa vez dos Hurricanes. E nova substituição (Karl DeBlaker/AP - 23/01/2006)
 
Edição atual | Edições anteriores | Sobre TheSlot.com.br | Comunidade no Orkut | Contato
© 2002-06 TheSlot.com.br. Todos os direitos reservados. Permitida a republicação do conteúdo escrito, desde que citada a fonte.
Página publicada em 25 de janeiro de 2006.