Por George Johnson

Há um motivo por que aqueles benditos e brilhantes bra-sileiros são favoritos disparados para a Copa do Mundo. Lembre-se do sublime toque de bola. Eles simplesmente nascem com o dom. Predadores de um nome só que conseguem mudar a história de um jogo com apenas meia chance. Ronaldo. Ronaldinho. Robinho.

E, agora, o novo prodígio desconhecido do futebol: Reginho! Ou Regal-do. Ou Regaldinho. Escolha um.

Robyn Regehr pode ter sido criado como um bom canadense do oeste em Rosthern, Saskatchewan, mas ele é prova de que você pode tirar o garoto do Recife, situado na costa ao norte do Rio, mas você não pode tirar o Recife do garoto.

O Garoto do Brasil, respeitando sua herança, acertou o fundo da rede aos 56 segundos do segundo período, um final tranqüilo e clínico para a jogada. O gol, com o ex-Flame Toni Lydman cumprindo uma penalidade, acabou sendo o controvertido gol da vitória na vitória dos Flames sá-bado sobre o Buffalo Sabres.

Goooooooooooooool! Na verdade, nada de goooooooooooooool! Só a "mão de Deus" de Maradona suscitou uma polêmica tão grande.

"Foi chutado com os pés para dentro", protestou o técnico dos Sabres, Lindy Ruff, num tom calmo, mas fervendo por dentro. "Foi óbvio. O que eu não entendo é como o juiz de vídeo pôde dizer que o gol valeu. O árbitro nos disse que foi isso que o cara do vídeo falou. Já tivemos análises que levaram cinco minutos. E aquela leva dois segundos?" Te-nho certeza de que a liga vai pedir desculpas."

Sim. Muitas desculpas.

Na Alemanha, em um gramado em junho, teria sido um golaço. Em Calgary, num rinque de gelo em janeiro, foi uma desgraça.

"Não foi lindo?", perguntou Lydman. "Eu estava saindo do banco de penalidades depois do gol, e o assistente me avisou: 'Não vá muito longe. Você pode ter de voltar lá para dentro.' Foi ali que me surpreen-di que não analisaram o gol por mais tempo."

O defensor Jay McKee esforçava-se para impedir Regehr, quando o de-fensor dos Flames soltou uma bomba com o pé digna de um chutador de futebol americano.

"O [juiz de vídeo] é pago para fazer um trabalho", espumava McKee. "Eles têm câmeras em todos os lugares, para pegar todos os ângulos. Não há motivo para não ver algo tão óbvio. Eu olhei para o Marty [Biron], e ele estava furioso. Pelo que nos disseram, foi bem claro. Era só não ter pressa e acertar a decisão."

Da sede da liga em Toronto, o diretor de arbitragem da NHL, Mike Murphy, admitiu que o processo foi totalmente falho.

"A jogada deveria ter sido revista pelo juiz de vídeo", disse Murphy ao jornal Buffalo News. "E não foi. Geralmente, quando uma jogada é ana-lisada, alguém liga para Toronto e pergunta: 'Qual é a opinião de vo-cês?' Ninguém pensou em ligar antes de o jogo continuar, e quando o jogo continua não há mais jeito. O juiz de vídeo [em Calgary] julgou que Regehr usou o taco, mas claramente não foi isso que aconteceu. É difícil de engolir. É um erro que deveríamos prevenir. Todos estão cha-teados por aqui."

Não tão chateados quanto o pessoal no vestiário do Buffalo. Mas, a bem da verdade, eles não estavam reclamando depois do jogo. Pelo menos não desordenadamente, considerando as irascíveis circunstân-cias. Não tão no fundo, eles sabiam instintivamente que podem ter roubado um gol deles, mas não a vitória.

"O lance não nos custou o jogo", disse, secamente, Lydman. "Qualquer um que diga isso está inventando uma desculpa. Não viemos prepara-dos para jogar. Não patinamos. Não demos trancos. Não fomos nós mesmos."

Biron tinha se acalmado um pouco quando os parasitas da mídia foram para cima dele.

"Um lance não visto", descreveu. "Isso acontece. É um jogo de erros. Por parte dos jogadores e dos juízes também. Estava apenas 2-1, com 38 minutos para o fim do jogo. Só tínhamos dado três chutes a gol no primeiro período. Três. Isso não é nada contra um time como o Calgary. Sim, chegamos ao intervalo empatados em 1-1, mas existe um bom período que termina em 1-1 e um mau. Esse foi, definitivamente, um dos maus."

Até a metade do jogo, os Sabres tinham conseguido apenas cinco chu-tes. Eles jogaram de uma maneira incrivelmente frágil, a ponto de os trancos após 40 minutos de jogo favorecerem o Calgary por uma mar-gem de 16-5. Estranhamente, um tranco espetacular de Regehr sobre o ponta direita Ales Kotalik no fim do segundo período — Kotalik deu uma cambalhota por cima das bordas e caiu sentado no banco do Buffalo! — pareceu ter tirado os visitantes de seu coma auto-induzido.

"Aquele tranco do Regehr pareceu ter nos acordado", admitiu Biron. "Chegamos ao vestiário no segundo intervalo e dissemos: 'Isso não po-de acontecer.' Somos um time de um por todos e todos por um. Acho que respondemos muito bem no terceiro período. Tivemos várias chan-ces de gol. Só que um pouco tarde demais para o nosso ponto de vis-ta."

E, para o ponto de vista do Calgary, na hora certa.

"São duas derrotas seguidas", lembrou Lydman. "Temos de voltar a confiar em nós mesmos. Você não pode jogar metade do tempo e es-perar ganhar o jogo."

Nem que seja um jogo de futebol.


George Johnson é colunista do jornal Calgary Herald. Texto traduzido por Alexandre Giesbrecht.
FOI COM O PÉ! Biron, à esquerda, tenta, em vão, demonstrar que Regehr usou o pé para marcar o gol (Leah Hennel/Calgary Herald - 21/01/2006)
VOLTE PARA O SEU LUGAR Regher dá um tranco destruidor em Ales Kotalik (Leah Hennel/Calgary Herald - 21/01/2006)
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Página publicada em 25 de janeiro de 2006.