5 de junho de 2002
Chuva de gols no Avalanche, perigo de Furacões

Por Humberto Fernandes

O primeiro chute do Detroit foi gol, e Patrick Roy tremeu sua cabeça. O segundo chute do Detroit foi gol, e Patrick Roy enforcou sua cabeça. O quinto chute do Detroit foi gol, e Patrick Roy chutou o gelo, sacudiu seu pescoço, bateu seu taco e então patinou como se pedindo licença.

Somente um problema para o goleiro do Colorado e seus tão-logo-destronados companheiros de equipe: ainda havia dois períodos e meio de jogo.

Agora isso é uma avalanche. Os Wings patinaram como se estivessem pegando fogo, e marcaram um, dois, três, quatro gols no tempo em que normalmente os fãs levam para achar seus assentos. Então marcaram cinco, seis, sete.

Eram selvagens, vorazes, algo de que todos queriam participar. E na buzina final, por um breve, mas glorioso momento, todo mundo conseguiu celebrar.

O Detroit Red Wings enviou para casa o defensor do título da NHL nesta cidade no evento esportivo mais aguardado em uma década.

E, desta maneira, eles fizeram um dos maiores goleiros da história do hóquei parecer qualquer outro homem atrás de uma máscara. Patrick Roy, no banco, também lutou para sorrir corretamente?

Agora isso é uma avalanche.

"Para ser honesto, nós pensávamos que este seria um jogo de prorrogação", admitiu o Capitão Steve Yzerman após os Wings apagarem o Avalanche por 7-0, no jogo 7 das finais da Conferência Oeste, e avançar para a Stanley Cup pela primeira vez desde 1998. "Após o primeiro período, em que fizemos 4-0, nós ainda estávamos pensando 'isto não está como deveria estar'".

No retrospecto, nem mesmo a Represa de Hoover poderia ter segurado o Detroit na noite de sexta-feira. Abastecido pelo conhecimento com que eles dominaram o Avalanche na maior parte da série — contudo ainda estavam em perigo de perder —, os Wings tacaram gasolina em suas chamas pessoais, então adicionaram querosene para uma boa medida. É quase mais fácil relatar quem não marcou gols do que quem efetivamente marcou:

Primeiro foi Tomas Holmstrom, com menos de dois minutos na noite, caindo enquanto se enroscava com um defensor do Colorado, mas ainda redirecionando um chute com seu taco. Gol número 1.

Então veio Sergei Fedorov, 80 segundos depois, voando pelo lado esquerdo, se alinhando e atirando entre o braço de Roy. Gol número 2.

Aí era Luc Robitaille, recentemente criticado pela baixa produção, recebendo um bonito passe de Igor Larionov e colocando o disco claramente entre as pernas de Roy. Gol número 3.

E aqui estava novamente Robitaille, menos de três minutos depois, superando três defensores do Avalanche na patinação — Luc Robitaille? Superando o Avalanche? — e mandando o chute contra Roy. O rebote ricocheteou para um oportunista Holmstrom, que marcou, dando uma liderança de sacudir a cabeça.

Quatro a zero? Após 13 minutos?

"Ei, Roy é um dos maiores goleiros que já existiu", disse Brett Hull, que marcou o quinto gol dos Wings na noite, "mas ele também é humano".

Tão humano que ele terminou o período sem seu taco e terminou o jogo sem sua coroa. Isso era mais que uma vitória do Detroit, era uma proclamação, que eles podem colocar em grandes letras na Hockey's Town Hall:

Reputação não é nada.
Desempenho é tudo.
Você quer uma Avalanche?
Isso foi uma avalanche!

As estatísticas desiludiram -- Como isso foi agradável para muitos dos Red Wings. Para Holmstrom, a outra estrela sueca deste time, que marcou dois gols sexta-feira, mas que ganhou sua glória noite após noite nesta série, sendo batido e cutucado mais que carne em espeto de churrasco. Honestamente, eu não sei como este cara ainda tem qualquer pele sobrando. Holmstrom faz o trabalho sujo à frente da rede, mas o mais necessário para bater o Colorado e Roy.

"Esta vitória compensa todo o castigo?", ele foi perguntado posteriormente. "Não", ele disse. "Vencer a Copa compensará isto".

Quanto foi agradável para Robitaille, que precisou suportar as críticas porque, em um time cheio de potência, ele estava atirando em espaços nulos. Não na sexta-feira. Robitaille estava por todos os lados e fez os torcedores recordarem por que os Wings o procuraram em primeiro lugar.

"Você não se preocupa com o que está fazendo particularmente neste time", disse Luc, que teve um gol e duas assistências na noite de sexta-feira. "Tudo que você quer fazer é ganhar. Isso é o que faz um grupo especial".

Os Wings relaxaram — ele foi perguntado — quando viram Roy saindo do jogo durante o segundo período?

"Bem, nós liderávamos por 6-0", ele responde, sorrindo. "Tudo estava a nosso favor".

Quanto foi agradável para Brett Hull, que está mais uma vez nas finais. E como foi especialmente agradável para Hasek, que deixou Buffalo precisamente por um momento como o de sexta-feira, uma noite em que ele excedeu em brilho o maior goleiro do jogo. Dois shutouts seguidos?

Quem é o grande cara agora?

Quanto foi agradável para Yzerman, Larionov, Chris Chelios, Fredrik Olausson, Steve Duchesne — todos com mais de 35 anos que nunca souberam se teriam mais uma chance nas finais da Copa.

Agradável para todos eles. E, sim, digamos, verdadeiramente agradável para os fãs de hóquei do Detroit, que, obrigado, obrigado, obrigado, tão cedo não terão que ouvir sobre a incrível reputação do Colorado em jogos difíceis.

Bom Lord. Jornais. Emissoras de TV. Eventos de conversa no rádio. Na noite de sexta-feira, você estava recitando estas estatísticas como uma música ruim que não sai de sua cabeça.

- O Avalanche havia vencido os últimos quatro jogos 7 que disputou. Grande coisa. Eles perderam este aqui.

- Roy havia defendido todos os 50 chutes que ele encarou nos seus últimos dois jogos 7. O quê? Ele não pôde defender quatro dos primeiros oito chutes na sexta-feira.

- O Avalanche havia eliminado os Red Wings em três das quatro séries de playoffs entre eles? É? Agora são três em cinco.

O passado não significa nada para o futuro, e o Avalanche, em verdade, é agora um time rapidamente desaparecendo no retrovisor dos Red Wings.

Com o estrondo da sexta-feira rugindo na ovação, os Wings articularam a mais agradável palavra para se sair de uma final de conferência:

"Próximo?"

Que venha o Carolina -- Sim, acredite ou não, ainda há mais hóquei por vir. Os Wings agora lutarão pela Stanley Cup contra um time de hóquei questionável, o Carolina Hurricanes.

A maioria dos analistas quer encerrar a temporada agora e entregar a Copa para o Detroit. Não sejam tolos.

"Steve e eu estávamos assistindo a algumas fitas dos jogos deles", Hull disse sobre os Hurricanes, "e eles são fortes. São jovens. São agressivos. São bem-treinados. E eles são muito disciplinados".

Os Wings precisarão ser grandes novamente, não somente por causa do adversário, mas porque jogar uma final de Stanley Cup põe um incrível peso nas costas por si só.

Mas isso começa na terça-feira. Agora, a cidade pode apreciar esta vitória tanto quanto os jogadores. Há algumas rivalidades que igualam Colorado-Detroit, e você poderia ouvir isto na alegria dos fãs cantando na Joe Louis Arena, de "Na-Na-Na-Na-Hey-Hey-Good-bye" a "Sweet Caroline."

Eles sabiam o que o mundo do hóquei sabe agora. Esta foi uma série maravilhosa, com o fim dirigido para um lado — mas o fim certo. Até mesmo os fãs do Colorado deveriam admitir isso.

Se os Wings tivessem perdido, haveria muita especulação. Uma jogada aqui, outra jogada ali. Agora que o Avalanche perdeu, a única questão que fica é como isso não aconteceu antes.

A verdade é que os Wings os superaram na patinação. Os Avs foram superados defensivamente. E, surpreendentemente, na maior parte do tempo, eles foram superados na velocidade.

Finalmente, sexta-feira à noite, eles os enterraram.

Lá se vai o Colorado, sem entender o que aconteceu. Lá vai Peter Forsberg, que não teve sequer um chute a gol na sexta-feira, e Joe Sakic, que teve apenas dois. Lá se vai, finalmente, Patrick Roy, que patinou próximo a último quando as equipe se encontraram para o aperto de mãos após o jogo.

Próximo ao fim da linha, Roy encontrou Hasek e ofereceu sua mão. O simbolismo era óbvio. Roy estava sem capacete. Hasek estava com o seu — porque ele ainda tem trabalho a fazer.

Agora vamos ver como eles controlam os Furacões.

Artigo original de Mitch Albom, escritor e jornalista do Detroit Free Press. Tradução por Humberto Fernandes, um mero admirador.
DE JOELHOS Cinco gols sofridos até ali, Patrick Roy fica de joelhos (Julian H. Gonzalez/Detroit Free Press - 31/05/2002)
 
NO BANCO Mais um gol sofrido e Roy é tirado de um jogo 7 pela primeira vez em sua vida (Julian H. Gonzalez/Detroit Free Press - 31/05/2002)
 
MAIS SOBRE A FINAL
Três dias de tensão
Constantino: Considerações sobre Wings x Avalanche
Humberto: Red Wings, feitos mais que para vencer
Giesbrecht: O furacão não é uma baleia — mas já foi
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Página publicada em 3 de junho de 2002.