Por
Humberto Fernandes
Abril de 2001: após uma bela temporada, de início conturbado,
os Red Wings terminam com a segunda melhor campanha da NHL, atrás
apenas do Colorado Avalanche, e encaram o Los Angeles Kings na primeira
rodada dos playoffs. Diversas contusões, de Steve Yzerman e Brendan
Shanahan a Chris Chelios, passando pela falta de determinação
em Sergei Fedorov e a fraca defesa da equipe: tudo contribui para a
ruína da temporada. Eliminados pelos Kings em seis jogos.
A partir daí, a começar pelo desgosto de ver o Avalanche
campeão, todo mundo conhece a história.
Na noite de 31 de junho, os Red Wings enviam Vyacheslav Kozlov, a primeira
escolha e considerações futuras por Dominik Hasek, do
Buffalo Sabres; alguns dias depois, assinam com Luc Robitaille, agente
livre; mais tarde, após contar com redução salarial
de três jogadores para este fim, Brett Hull também assinou;
e ainda havia Fredrik Olausson, agente livre que se encontrava no hóquei
suíço, definido como "o Lidstrom de US$ 750 mil"
por ser um ótimo defensor, também sueco, e por ter um
baixo salário sem dúvida alguma a melhor relação
custo/benefício na NHL atualmente.
Se houve vários ganhos, também houve perdas. Além
de Kozlov, Martin Lapointe, Todd Gill e Pat Verbeek, agentes livres,
assinaram com outras equipes, respectivamente Boston Bruins, Colorado
Avalanche e Dallas Stars. Aaron Ward foi trocado pela segunda escolha
com o Carolina Hurricanes, enquanto Larry Murphy e Doug Brown se aposentaram.
Destes, Lapointe faria maior falta, pelo seu jogo físico. Gill
não teria vaga no time, o mesmo para Ward. Murphy e Brown já
não tinham mais pernas sendo importantíssimos em
outros anos para esta organização. Verbeek decepcionou
enquanto esteve em Detroit e Kozlov, chateado, fez uma ou outra declaração
contrária ao time.
Avançamos o relógio, e após uma temporada digna
do Troféu dos Presidentes, concedido ao time de melhor campanha
durante a temporada regular, o Detroit Red Wings elimina o Vancouver
Canucks em seis jogos, na primeira rodada dos playoffs. Liderados pelo
trio de capitães do time, Yzerman, Nicklas Lidstrom e Shanahan,
os Wings passaram por maus bocados nos dois primeiros jogos da série,
reflexo de um péssimo fim de temporada regular. Derrotas em Detroit,
com inesperadas más atuações de Dominik Hasek.
Do jogo 3 em diante, que eventualmente foi o ponto de ruptura da série,
os Wings dominaram, com folga. Hasek defendeu até pênalti
naquele jogo e Lidstrom marcou um gol fantástico. O defensor
sueco disparou um chute do meio do gelo que Dan Cloutier não
segurou. Naquele instante, os Wings passavam a liderar o jogo, para,
em seguida, vencê-lo. Dali em diante, as sólidas atuações
de Cloutier não mais se repetiriam, e a equipe de Detroit encerrou
a série no sexto jogo, com direito a hat trick de Brett Hull.
Na série seguinte, os eternos fregueses St. Louis Blues, que
facilmente eliminaram o Chicago Blackhawks por 4-1 na primeira rodada.
Detroit torcia por isso e o confronto aconteceu. Sem qualquer dificuldade,
os Wings despacharam em cinco jogos. A série começou e
se encerrou com shutouts de Hasek que até ajudou os Blues
no jogo 3, em que os Wings levaram 6-1 e a equipe não
teve qualquer líder nato, que carregasse o time como claramente
fez Yzerman na primeira rodada. Os Wings venceram por méritos
de um time que tem imensa profundidade no elenco. Após a quarta
vitória na série, uma semana de descanso até conhecer
o novo (novo?) adversário: o Colorado Avalanche.
Os Avs vinham de dramática vitória por 1-0 no jogo 7 contra
o San Jose Sharks, na segunda rodada. E, antes disso, goleada por 4-0
em outro jogo 7 contra o Los Angeles Kings, na primeira rodada. Mas
o passado não mais importava diante do futuro: Red Wings x Avalanche,
final da Conferência Oeste.
Finalmente o confronto tão esperado pelo mundo do hóquei
iria acontecer. De um lado, o Detroit Red Wings, melhor time da temporada,
com vários futuros integrantes do Salão da Fama; de outro,
o Colorado Avalanche, segundo melhor time da temporada, também
dotado de vários futuros integrantes do Salão da Fama.
Duelos particulares: Hasek x Patrick Roy; Yzerman x Joe Sakic; Fedorov
x Peter Forsberg; Lidstrom e Chelios x Adam Foote e Rob Blake.
Sem dúvida alguma, o mundo iria parar diante desta guerra. Wings
favoritos, Avs atuais campeões.
Todas as perspectivas efetivamente foram realizadas. A melhor série
dos últimos anos foi vencida por um dos melhores times de todos
os tempos. Sete jogos de muita tensão e emoção,
em que tivemos de tudo. Darren McCarty conseguiu o primeiro hat trick
de sua carreira, Chris Drury firmou-se como um grande carrasco dos Wings,
as contratações dos Wings venceram jogos, Forsberg por
três ou quatro vezes mostrou ser realmente um fenômeno,
Darius Kasparaitis um fiasco, Hasek consagrou-se como o melhor goleiro
quebrando o recorde de shutouts em playoffs, com cinco no mesmo
ano e Roy perdeu sua coroa. Infelizmente, não tivemos
maiores confusões (brigas!), mas isso até soa como uma
prévia combinação entre os treinadores Scotty Bowman
e Bob Hartley.
Venceu o melhor time, quem realmente mereceu mesmo que isso não
seja relevante diante de uma fantástica guerra entre os dois
maiores times de hóquei dos últimos seis anos.
Após tudo isso, os Wings ainda não são os campeões.
Há uma mera formalidade contra o Carolina Hurricanes na Stanley
Cup. Não que isso seja menosprezo ao adversário, mas se
o vencedor entre os dois maiores times ainda não é o campeão,
então o que vem adiante é apenas casual.
O Detroit Red Wings montou uma equipe de heróis para ser campeã.
Dezesseis vitórias, nada menos. E, após isso, nada mais
importa.
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Humberto Fernandes avisa: qualquer semelhança entre este artigo
e o escrito pelo amigo Thomaz Alexandre na primeira edição da Slot
não terá sido mera coincidência; se os Avs foram feitos para vencer,
os Wings foram um pouco além disso. |
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EM FAMÍLIA Stacia Robitaille,
esposa de Luc, comemora com o filho Jesse a vitória (Paul
Gonzalez/Detroit Free Press - 31/05/2002) |
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