Os dias 9 e 10 de fevereiro foram uma prévia do que pode acontecer no dia-limite de trocas da NHL, marcado para 28 de fevereiro. Cinco trocas foram realizadas em dois dias, movimentando dez times, 14 jogadores e quatro escolhas no recrutamento.
O Anaheim Ducks repatriou o defensor Francois Beauchemin, que estava em sua segunda temporada pelo Toronto Maple Leafs, em troca do atacante Joffrey Lupul, do defensor Jake Gardiner e de uma escolha condicional em 2013. Beauchemin, 30, é defensor de primeira linha, ágil e muito forte, embora em Toronto tenha se aproximado mais de um de terceira linha, com atuações muito ruins em um time muito ruim. Lupul, 27, marcou 20 ou mais gols em três de suas sete temporadas. Perdeu quase toda a campanha passada recuperando-se de uma cirurgia nas costas. Curiosamente, é a quarta vez em que ele é trocado.
Para aumentar a profundidade entre os goleiros, o New York Islanders trocou uma escolha de sexta rodada por Al Montoya, que estava no Phoenix Coyotes. Montoya, 25, foi selecionado com a sexta escolha geral no recrutamento de 2004 pelo New York Rangers, mas nunca justificou aposta tão alta feita pela gerência dos Camisas Azuis. Exceção feita a cinco jogos pelos Coyotes em 2009, Montoya se tornou um goleiro de AHL.
Na maior troca do período, o Chicago Blackhawks adquiriu o atacante Michael Frolik e o goleiro Alexander Salak em troca dos atacantes Jack Skille, Hugh Jessiman e David Pacan. Frolik, 22, é oriundo da primeira rodada do recrutamento de 2006 (décima escolha geral) e marcou 21 gols em suas duas temporadas na liga. Surpreende que os Panthers tenham desistido dele tão facilmente, ainda mais para contar com Skille, 23, também de primeira rodada (sétima escolha geral de 2005), que nunca correspondeu às expectativas. Para os que acompanham o hóquei de perto, é uma troca de habilidade por pegada. Jessiman é o único jogador da primeira rodada do recrutamento de 2003 (12.ª escolha geral, Rangers) a nunca ter disputado uma partida sequer na NHL.
Em uma troca irrelevante, San Jose Sharks e New Jersey Devils tornaram menos anônimos os desconhecidos atacantes Patrick Davis, Mike Swift e Steve Zalewski, e o defensor Jay Leach. Os dois primeiros vão para os Sharks e os outros dois para os Devils.
E na primeira negociação com cara de dia-limite, o Nashville Predators cedeu a escolha de primeira rodada de 2011 e uma escolha condicional de segunda ou terceira rodada no recrutamento de 2012 em troca do atacante Mike Fisher, do Ottawa Senators. Fisher, 30, atua como central e disputou todas as 11 temporadas de sua carreira pelos Senators. É um jogador completo, competente nos dois lados do gelo, embora suas características defensivas sejam mais notáveis. Em suas melhores temporadas, ultrapassou a
marca dos 20 gols e dos 45 pontos. Desde que perderam Matthew Lombardi no começo da campanha, os Predators não contavam com um central de primeira linha. A cinco pontos do Detroit Red Wings na briga pela primeira posição da Divisão Central, a equipe decidiu trocar um pouco do futuro pelo presente mais brilhante. O objetivo do time é atingir a segunda fase dos playoffs.
Mudando de assunto, uma prazerosa discussão via twitter com @luizpedone e @FlaviodeMoura81 na manhã de sábado me animou a incluir neste texto alguns pontos sobre o épico jogo entre New York Islanders e Pittsburgh Penguins, vencido pelos Isles na sexta-feira à noite por 9-3, mas marcado ainda mais pelas brigas do que pelo placar elástico.
Tudo o que aconteceu nesse jogo foi consequência do embate anterior, em 2 de fevereiro, quando os Penguins venceram por 3-0 e quebraram dois jogadores dos Isles, o goleiro Rick DiPietro e o atacante Blake Comeau. Naquela noite, DiPietro foi nocauteado por Brent Johnson com um soco, em uma rara briga entre goleiros, e vai ficar afastado por até seis semanas graças aos ossos quebrados no rosto; e Comeau foi atingido pelo lado cego por um tranco de Max Talbot e agora convive com uma concussão cerebral.
Apenas nove dias depois daquele jogo, era óbvio que os Isles ainda mantinham na memória o que ocorrera no "primeiro round". Alguém iria atrás da cabeça de Johnson e de Talbot, embora isso não fizesse muito sentido, já que o próprio DiPietro iniciou a confusão anterior ao atingir Matt Cooke fora do lance. Dá pra entender por que os Islanders queriam vingança, mas isso não a justifica. DiPietro quis brigar com Johnson e, em trocas de socos, os jogadores podem se machucar gravemente. Foi o que aconteceu com ele, uma consequência do seus próprios atos.
A noite da vingança resultou em 346 minutos de penalidades e dez expulsões.
Entre todas as brigas, muitas vezes envolvendo todos os jogadores no gelo, alguns pontos merecem destaque.
Em primeiro lugar, covarde, mesmo, só a agressão de Matt Martin a Talbot, que lembrou o que Todd Bertuzzi fez a Steve Moore, porém em menor escala. Martin o agrediu e iniciou uma briga sem que o adversário soubesse o que estava acontecendo. Isso não se faz. Quer se vingar? Olhe nos olhos, xingue e derrube as luvas. Ele merece uma suspensão severa, mesmo que seu ato covarde não tenha machucado Talbot.
Mas tão horrível quanto o que fez Martin foi a entrada no gelo de Eric Godard, vindo do banco de reservas, para ser o terceiro homem na briga entre Micheal Haley e Johnson (na ainda mais rara briga entre patinador e goleiro). Godard quebrou o "código de honra" dos jogadores e infringiu algumas regras da NHL, o que vai lhe render uma suspensão automática de dez jogos. Godard não precisava interferir nesta briga. Depois de destruir DiPietro, Johnson estava pronto para defender seu cinturão. E Haley não atacou o goleiro como um cometa (!), eles se olharam e se preparam para lutar. Não houve covardia de nenhum dos lados.
Mais do que contribuir para a extinção dos pinguins, os Isles conquistaram uma vitória histórica em um jogo épico que deveria ser um divisor de águas na história do time.
E para encerrar o assunto, uma confissão: eu não gosto de briga. Já fui um grande entusiasta, houve uma época em que assistia e colecionava os vídeos, hoje não mais. Ainda me empolgo com Darren McCarty e 26 de março de 1997, mas violência está por fora. As brigas, pra mim, perderam o sentido.
Humberto Fernandes, 26, está no twitter.