Por: Humberto Fernandes

Você não vai encontrar nesta coluna qualquer comparação entre as finais da Copa Stanley de 2009 e as finais do ano passado. Em 2008, o Detroit Red Wings derrotou o Pittsburgh Penguins em seis jogos e isso está na história.

Não importa que, de novo, após dois jogos, o resultado do confronto seja 2-0 a favor dos Red Wings. Não importa que desta vez os Penguins tenham marcado gols em Detroit nos jogos 1 e 2, ao contrário do ano passado, quando sofreram dois shutouts.

Para não deixar dúvidas, o colunista acredita que: o elenco dos Red Wings deste ano é melhor que o do ano passado e o elenco dos Penguins é pior que o de 2008, porém o ano a mais de experiência fez o time de Pittsburgh ser mais forte que o anterior, principalmente pela evolução de jogadores fundamentais.

Ponto final.

As vitórias nos dois jogos em Detroit deixaram os Red Wings muito perto do bicampeonato, mas a forma como os resultados foram construídos demonstrou que os Penguins estão tão próximos dos Wings que poderiam ter roubado um ou até mesmo os dois jogos.

Definitivamente a sorte esteve do lado do Detroit. Será a famosa "sorte de campeão"?

No jogo 1, o chute de Brad Stuart da linha azul acertou as bordas atrás da rede, atingiu a panturrilha de Marc-Andre Fleury e acabou dentro do gol. Curiosamente, a transmissão da CBC havia mostrado minutos antes uma parte dos treinos dos Penguins na Joe Louis Arena e a atividade consistia em chutar o disco nas sinuosas bordas para que o goleiro e os atacantes entendessem para onde vão os rebotes da natureza. Pelo visto eles não entenderam, porque com nova assistência das bordas o Detroit marcou mais um gol. O chute de Brian Rafalski atingiu a marca de algum patrocinador atrás da rede e voltou para Johan Franzen, que finalizou de esquerda sem ângulo. O disco novamente atingiu Fleury e foi parar dentro da rede.

No jogo 2, foi a vez das traves entrarem no caminho dos Penguins. Tanto Sidney Crosby quanto Bill Guerin tiveram gols roubados pelas melhores amigas de Chris Osgood.

Foram dois duelos equilibrados, com as equipes alternando momentos de domínio. No geral os Penguins pareceram um pouco mais perigosos, mas não é chutando de qualquer jeito e de qualquer lugar que o time vai marcar gols. Don Cherry nos ensinou após o jogo 2 que não importa o número de chutes, mas sim a qualidade deles, o que envolve tanto a precisão e a potência de quem chuta quanto a habilidade de quem está à frente do goleiro para encobrir sua visão ou desviar o disco para dentro do gol.

Nesse sentido o Detroit dá o exemplo. No gol marcado por Jonathan Ericsson no começo do segundo período, Fleury não viu o disco até que ele estivesse dentro da rede. Havia um jogador do Detroit (Darren Helm) bloqueando sua visão. O goleiro dos Penguins também não tinha a menor chance de impedir o segundo gol porque Tomas Holmstrom estava lá causando um terremoto em sua área. O disco sobrou para Valtteri Filppula encaixar um chute de esquerda inexplicável.

Os jogos em dias consecutivos representavam uma vantagem competitiva para os Penguins, por ter um time bem mais jovem que o dos Red Wings. Na segunda metade de cada período do jogo 2, o cansaço do Detroit ficava evidente. Era nessas horas que o Pittsburgh voava no gelo, mas o então melhor ataque esbarrou no melhor goleiro, Osgood, o principal nome das finais e candidato a jogador mais valioso dos playoffs se os Wings conquistarem o título.

Mas não é só de chutes, defesas, trancos e faceoffs que vive o hóquei. Durante as partidas há um duelo interessantíssimo travado entre os treinadores, que buscam o confronto de linhas ideal para favorecer o seu time. É um jogo dentro do jogo.

O time da casa tem a vantagem de escolher por último, portanto Mike Babcock se aproveitou disso no fim de semana. Sempre que Crosby estava no gelo, o Detroit enviava Henrik Zetterberg para marcá-lo como um carrapato. O sueco abriu mão de seu poder ofensivo e concentrou-se nos aspectos defensivos do jogo, primeiro marcando o capitão dos Penguins, depois investindo no ataque. Por duas vezes ele foi o segundo goleiro do time, se atirando no gol como Osgood.

A impressão de quem assistiu ao jogo é que Zetterberg esteve no gelo em cada segundo que Crosby também patinava, mas isso não é verdade. No jogo 1, em "apenas" 77% do tempo eles se enfrentaram, ou seja, Crosby teve mais de cinco minutos sem sua sombra. Já no jogo 2 a margem de folga diminuiu para 17% ou três minutos.

Babcock também designou o principal par defensivo do time, formado por Nicklas Lidstrom e Brian Rafalski, para acompanhar o jogador favorito da NHL (do ponto de vista mercadológico). Em 74% do tempo, Crosby teve a companhia do melhor jogador do mundo (do ponto de vista teórico, prático e por maioria de troféus).

É por isso que Crosby, que não pontuara em apenas dois dos 17 jogos anteriores, dobrou o número de zeros em sua ficha.

A situação de Evgeni Malkin não é muito melhor. Sua linha foi combatida principalmente por Valtteri Filppula e Marian Hossa, com Niklas Kronwall e Brad Stuart na retaguarda. Foi neste confronto que os Penguins levaram alguma vantagem, mas que não se converteu em gols. Malkin também é o líder da linha do Pittsburgh que mais sofreu gols nos playoffs e os Red Wings se aproveitaram disso.

Enquanto os dois melhores atacantes dos Penguins passaram em branco, o Detroit revelou a sua profundidade. Justin Abdelkader, garoto que passou o ano todo na AHL, marcou mais gols que Crosby e Malkin juntos.

Assim, embora os Penguins ainda tenham o direito de jogar três dos próximos quatro jogos em casa, não é fácil imaginá-los vencendo quatro dos cinco jogos restantes da série.

Humberto Fernandes adora o programa CQC.

Bruce Bennett/Getty Images
Os Red Wings estão mais perto do bicampeonato e da 12.ª Copa Stanley de sua história. Mas os Penguins ainda estão vivos.
(31/05/2009)

Edição Atual | Edições anteriores | Sobre TheSlot.com.br | Comunidade no Orkut | Contato
© 2002-09 TheSlot.com.br. Todos os direitos reservados. Permitida a reprodução do conteúdo escrito, desde que citados autor e fonte.
Página publicada em 2 de junho de 2009.