Antes de estas finais começarem, era quase impossível analisá-la evitando comparações com o ano passado. Quem olhar para o placar da série depois de dois jogos vai ter a impressão de que tudo está muito parecido com o ano passado, o que torna qualquer previsão baseada nessa comparação o equivalente às de Nostradamus.
Porém, só o placar é parecido. No ano passado, os Wings usaram-se da posse constante do disco para vencer os Penguins. Não só vencer; dominar. Nestas finais, os Penguins até têm mantido o disco com seu poder por mais tempo e chutaram mais a gol em cada um dos dois jogos. Ora, dois dos gols dos Wings no primeiro jogo saíram em lances que facilmente poderiam ter se tornado uma roubada de disco para contra-ataque dos Pens.
No ano passado, apesar do relativo silêncio das estrelas dos Wings nos dois primeiros jogos, essas estrelas fizeram sua parte do estrago. Neste ano, a coisa mudou radicalmente de direção: a ausência de Pavel Datsyuk é muito menos sentida que inicialmente se imaginaria e Henrik Zetterberg tem menos pontos do que o mundialmente famoso Justin Abdelkader.
Pode-se argumentar que a formula não é tão perfeita quanto a de junho passado, afinal desta vez os Penguins marcaram dois gols em Detroit, mas o resultado geral continua satisfatório e deixa os Wings a apenas duas vitórias do bicampeonato. É claro que essa possibilidade cada vez mais real — dos 32 times que abriram 2-0 em uma série nas finais, 31 beberam da Copa Stanley alguns dias depois — já foi percebida no vestiário dos Penguins, e a agressão gratuita de Evgeni Malkin a Zetterberg foi um claro sinal disso.
Malkin, que fez seu melhor ato de Harry Houdini nas finais de 2008, não sumiu neste ano, marcando até o único gol dos Pens no jogo 2. Parêntese: a bem da verdade, ele não marcou exatamente o gol, contando com a prestativa assistência de Brad Stuart, mas o tento não existiria sem o russo. De qualquer maneira, foi um lance de sorte, da mesma maneira que dois dos gols dos Wings no jogo 1, o que mais uma vez mostra como o hóquei é um esporte imprevisível. Fim do parêntese. Talvez ele imagine que isso é uma forma de contribuir com o time, talvez fazendo a equipe pegar no tranco para o jogo 3.
Mas ele poderia tê-la prejudicado seriamente com tal ato inconsequente: não fosse a magnânima benevolência da NHL a suas estrelas, ele seria suspenso do jogo 3. Parafraseando Juca Kfouri: liga que se curva a suas estrelas mostra o traseiro para a torcida. Só não se engane quem acha que isso só foi feito porque Malkin defende os Penguins. Nas mesmas condições de temperatura e pressão, se fosse Zetterberg o agressor, o diretor de "disciplina" (atenção às aspas) da liga, Colin Campbell, também teria olhado para o outro lado.
Não que a liga não prefira ver Sidney Crosby carregando a Copa Stanley ao final desta série. ão espere que ninguém no QG da NHL admita isso, mas, do ponto de vista do marketing, é inegável que isso faria um bem muito maior à liga do que a evenual e cada vez mais provável vitória do Detroit, que geraria até uma história bonita, da cidade norte-americana que mais sofreu com a crise econômica, mas comemora o título mais importante do esporte local.
O próximo jogo sem dúvida definirá o panorama do restante da série. Nova vitória dos Wings deixa o campeão mais definido que às vésperar de eleições na Coreia do Norte, e o maior suspense ficaria por conta da possibilidade de varrida. Uma vitória dos Penguins aumenta a tensão da série. Se seguida de outra no jogo 4, caminharemos a passos largos para uma das séries mais emocionantes dos últimos anos, a exemplo do que aconteceu quando os Pens venceram os Capitals um mês atrás, depois de perder as duas primeiras fora de casa. São conjecturas, verdade, e odeio terminar artigos com conjecturas, mas eu também odiava fazer artigo de prévia de série com comparações, e foi exatamente o que eu fiz na semana passada...