Por: Ron Cook

Parecia tão vazio naquela hora, uma bravata de um time que parecia ser pouco mais de uma lombada no caminho do Detroit Red Wings rumo à parada da Copa Stanley. Tenho de admitir. Tive de conter um olhar de desprezo na noite de sábado, naqueles momentos agonizantes depois da vitória do Detroit por 2-1 na Mellon Arena, quando o ponta Marián Hossa, dos Penguins, disse que o pessoal tornaria "miserável" a vida dos Red Wings quando estes tentassem obrigar os Penguins a entrar de férias no jogo 5. Tive de fazer o mesmo na patinação matinal, quando seu colega Gary Roberts proteu o que chamou de "nosso melhor jogo".

Bem, adivinhe quem riu por último de quem duvidava deles nesta espetacular noite e madrugada em Detroit? Depois de os Penguins ganharem um jogo memorável, um dos mais impressionantes de sua história, por 4-3, graças a um gol em vantagem numérica de Petr Sykora na terceira prorrogação, que os manteve vivos e estragou os preparativos da festa em Detroit?

"Nós só não queríamos que nossa temporada acabasse", disse o defensor Rob Scuderi.

Todos os jogadores dos Penguins estavam cansados demais, depois de 109:57 de hóquei tenso e exaustivo, para deleitar-se muito com a vitória. Não havia tempo para isso. Ainda há muito trabalho por ser feito. Para ganhar a Copa, os Penguins têm de derrotar os Red Wings no jogo 6, na Mellon Arena, amanhã, e depois no jogo 7, de novo em Detroit, no sábado.

As probabilidades ainda favorecem demais os Red Wings.

Mas, ao menos, a grande máquina vermelha do Detroit já não parece mais tão invencível. Não depois de os Red Wings desperdiçarem uma vantagem de 3-2 no último minuto do tempo normal.

A equipe da NHL polia a Copa e preparava-a para sua apresentação depois de Pavel Datsyuk e Brian Rafalski, do Detroit, marcarem com um intervalo de 2:40 no terceiro período, virando o jogo para 3-2. E por que não fariam isso, se os Red Wings tinham sido tão dominantes na defesa ao longo da série? Até aquele ponto, eles tinham vencido os Penguins por 8-1, somados os terceiros períodos dos cinco jogos. É claro que eles iriam proteger aquela vantagem de um gol e dar início a uma comemoração massiva em Detroit.

Ou não.

"O melhor de jogar nesta equipe é que ninguém nunca entra em pânico", diz Scuderi.

O ponta Max Talbot certamente não entrou. Ele empatou o jogo quando faltavam 34,3 segundos. Isso é que é silenciar a multidão na Joe Louis Arena. Mas Talbot foi só uma das muitas estrelas dos Penguins.

"Parece que ele marcou aquele gol há três jogos", brincou o defensor Ryan Whitney, sorrindo.

Houve o goleiro Marc-André Fleury, que parou 55 dos 58 chutes que os Red Wings dispararam contra ele. Quase sozinho, ele manteve os Penguins no jogo durante a primeira prorrogação, quando o Detroit teve uma vantagem de 13-2 em chutes a gol.

"Aquele período", disse Whitney, "foi o jogo de sua vida".

Houce o defensor Sergei Gonchar, que deixou a partida no começo do terceiro período com uma contusão nas costas e não voltou até aquela vantagem numérica decisiva na terceira prorrogação. Ele acabou marcando uma assistência no gol de Sykora.

"Suas costas estavam matando-o", revelou o defensor Brooks Orpik. "Alguém perguntou a ele se ele conseguiria agüentar caso conseguíssemos uma vantagem numérica. Ele disse que tentaria. Foi um esforço corajoso da parte dele."

Houve os cinco defensores dos Penguins — Whitney, Orpik, Scuderi, Hal Gill e Darryl Sydor —, que tiveram de trabalhar dobrado, além das prorrogações que quase dobraram a duração da partida, por causa da contusão de Gonchar. Whitney jogou atordoantes 50:46.

"Todos os cinco se esforçaram bastante", reconheceu Scuderi.

E houve Sykora, que tinha sido praticamente invisível na série e duramente criticado por causa disso. Seu gol foi seu primeiro ponto nas finais.

Não poderia ter vindo em uma hora melhor, hein?

Gente que acompanha a Copa Stanley há muito tempo disse que este foi um dos melhores jogos das finais em todos os tempos. Quem sou eu para discordar?

Agora, aquela preciosa Copa está de novo em sua caixa e vai voltar a Pittsburgh para o jogo 6.

"Não consigo nem imaginar como a Mellon Arena vai estar [amanhã]", disse Whitney.

Os Penguins esperam que a Copa tenha de viajar mais uma vez, de volta a Detroit para o jogo 7, no sábado.

"Nós nos colocamos nesta posição", deu de ombros Roberts. "Nós é que temos de achar um meio de sair dela."

O homem que virou um herói cult em Pittsburgh parecia decidido. E acredite em mim: não havia nada de vazio em suas palavras.

Ron Cook é colunista do jornal Pittsburgh Post-Gazette. O artigo foi traduzido por Alexandre Giesbrecht.
Jim McIsaac/Getty Images
Sergei Gonchar (à direita) deixou o jogo no terceiro período e só voltou no último lance, como um dos heróis.
(02/06/2008)
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Página publicada em 3 de junho de 2008.