A Copa Stanley pesa 16 quilos, exceto quando você a ergue sobre a sua cabeça.
O Detroit Red Wings batalhou durante oito meses e 103 jogos para ter o direito de carregar o mais sagrado troféu do esporte mundial.
Mas na noite do jogo 5, na Joe Louis Arena, com a mais barulhenta torcida que os Red Wings ouviram nos últimos anos e a atmosfera ideal para uma conquista, a possibilidade de levantar a Copa pesou muito nos tacos e patins dos jogadores, ficando a 35 segundos de distância de lugar nenhum.
O Detroit esteve com a Copa nos braços. Bastava marcar um gol em rede vazia ou conter o ímpeto do Pittsburgh Penguins nos segundos finais, o que não era assim tão difícil mesmo com um patinador a menos no gelo, para confirmar a vitória. No entanto, o gol que traria a segurança nunca aconteceu, todo o time dos Red Wings vacilou no momento decisivo e os Penguins empataram o jogo, forçando a prorrogação.
Prorrogações. Três, até o gol de Petr Sykora em vantagem numérica que definiu o jogo e acrescentou no calendário o confronto de quarta-feira.
Um castigo justo para quem teve a pretensão de vencer a Copa Stanley jogando apenas os últimos 30 minutos do tempo regulamentar.
Culpa da ansiedade, do nervosismo, da pressão. Mas quem não gostaria de sentir exatamente isso?
Os Red Wings perseguiram o resultado pela maior parte da noite, graças aos gols de Marián Hossa (em que Chris Osgood não viu o disco até que ele estivesse a centímetros de seu corpo) e Adam Hall (com fulminante chute de Niklas Kronwall) no primeiro período, quando a equipe cometeu todos os erros que havia economizado nas rodadas anteriores.
Dois gols atrás no placar, o time engrenou e dominou o jogo, mas poderia ter sido muito pior se os Penguins aproveitassem uma das três ótimas oportunidades desperdiçadas nos primeiros 60 segundos do segundo período, todas nascidas em falhas de jogadores do Detroit.
O domínio resultou no gol de Darren Helm, que colocou o time de volta ao jogo. A pressão ficou cada vez maior enquanto Marc-André Fleury realizava defesas formidáveis.
Aos 6:43 do terceiro período Pavel Datsyuk empatou em vantagem numérica e não havia mais dúvidas de que o Detroit viraria o jogo. Menos de três minutos depois, Brian Rafalski acertou um chute indefensável,
confirmando a virada.
Neste momento, e dali em diante, os Penguins poderiam ter aceitado o resultado e se conformado com o segundo lugar, porque tudo indicava que seria impossível retomar o caminho rumo à Copa Stanley.
Para eles era novembro, porque não existia pressão, mas também era jogo 7, porque não havia escolha.
Eles nunca se entregaram, mesmo sendo dominados. Disputaram cada turno, acreditando que poderiam vencer mais um jogo de hóquei, e receberam a recompensa na forma de gol com Maxime Talbot, quando faltavam 35 segundos para a eliminação.
Todos os méritos para os Penguins, que sobreviveram a tudo no jogo 5: ao amplo domínio do Detroit por três períodos (com outros 55 chutes no gol e quatro vantagens numéricas), a 20 mil torcedores apoiando o time da casa e às baixas de Sergei Gonchar e Ryan Malone, ambos contundidos durante o jogo, mas que retornaram antes do fim.
Para o Detroit...
Se você tem uma chance de ganhar a Copa Stanley, tem a obrigação de aproveitá-la. Nas circunstâncias do jogo 5 (em casa e com 3-1 na série), a obrigação virou dever.
A equipe falhou quando não podia e talvez aprenda a lição da pior maneira possível, perdendo o jogo 6 e assistindo em casa ao Pittsburgh levantar a Copa, fazendo (belíssima) história.