Por: Mitch Albom

Lá veio Valtteri Filppula, voando pelo gelo, ganhando do seu marcador, que o agarrou desesperadamente, como se tentasse abraçar um trem. Filppula livrou-se dele sem tirar o olho do disco, mergulhou enquanto girava o taco e — traços de Bobby Orr! — disparou uma bala negra que venceu o goleiro do Pittsburgh e depois deslizou de barriga no gelo. Foi veloz. Foi furioso. Foi até um pouco mágico.

"Você deu uma olhada no replay que passou no telão?", perguntou alguém a Filppula depois da vitória de ontem por 3-0 no jogo 2.

"Eu dei, eu dei", admitiu ele, sorrindo timidamente.

Por que não? Aquele momento resumiu a noite e resume estas finais, que já avançaram até a metade do caminho de uma Copa Stanley para Detroit.

Beep, beep. Sai da frente. Esta é a Cidade Motorizada, e os Red Wings estão jogando como em uma corrida automobilística, com o pé pisando fundo. Eles passaram tranqüilamente por dois jogos sem quase nenhuma cicatriz, sem quase nenhum corte, com um saldo positivo de sete gols e nenhum no negativo. Dois shutouts? De verdade? Sabemos que deveríamos estar jogando com um grande time. A pergunta é: o Pittsburgh sabe disso?

Por enquanto, os caras em amarelo e preto parecem estar fazendo o papel de Coiote nos desenhos animados do Papa-Léguas. Sempre achatados e no asfalto, olhando para cima e perguntando "O que é que nos acertou?" (ou, no caso de Filppula, o que acabou de passar voando?).

Beep. Beep. Foi Brad Stuart que mandou uma bomba que venceu Marc-André Fleury? Brad Stuart? Um defensor cuja maior produção nos playoffs até ontem foi o nascimento de seu segundo filho?

Beep. Beep. Foi Niklas Kronwall que baixou seu ombro e mandou Jarkko Ruutu para a semana que vem?

Beep, beep. Foi Chris Osgood que mais uma vez acabou com o famoso ataque do Pittsburgh, parando todos os seus 22 chutes e aumentando sua lenda nestes playoffs ao ser derrubado no terceiro período por Ryan Malone, cavando uma penalidade — e ainda parando um chute? Enquanto estava no chão deitado de lado? Qual será seu próximo feito? Ozzie defende um chute enquanto lê uma revista? Ozzie defende outro enquanto come uma barra de chocolate? Ozzie defende mais um enquanto se troca no vestiário?

Beep, beep. Sai da frente.

"Não dava para esperar dois shutouts seguidos", disse alguém ao técnico Mike Babcock.

"Não", respondeu ele, "mas estávamos torcendo por duas vitórias seguidas."

Feito.

Caminho duro pela frente?
Temos de encarar os fatos. Este time está em uma excelente fase. A cidade está empolgada. Os mais otimistas estão pensando em uma parada.

É por isso que vou dizer o que eu vou dizer.

Sosseguem.

Sim, os Red Wings estão fazendo o que deveriam fazer. Sim, eles até tiveram Johan Franzen de volta ontem, e ele tomou um golpe e seguiu em frente, ao cair durante o terceiro período por causa de um ataque maldoso e ainda assim voltar, momentos depois, para ir ao gelo de novo em uma confusão no fim e, sim, levantar de novo.

Claro, Ozzie tem sido espetacular — apenas o quarto goleiro na história da NHL a começar a Copa Stanley com dois shutouts. "Não ligo muito para estatísticas", apontou Osgood quando alguém lembrou sua bela média de gols sofridos nestes playoffs, agora em 1,38. "Eu ligo para vitórias."

Sim, o controle do disco é importante. Os Wings interditam a zona neutra como se estivessem trancando uma loja depois da meia-noite. Com isso, eles tiram o ar de seus adversários.

E, sim, os Wings estão conseguindo pontos de suas estrelas (Henrik Zetterberg e Tomas Holmström se somaram no segundo gol) assim como de jogadores menos prováveis.

Tudo está bem. Sem nenhum argumento em contrário.

Mas o Pittsburgh ainda não jogou em casa nestas finais. E os Penguins não perdem lá há três meses e três dias. Três meses? Isso mesmo. Esqueça da invencibilidade do time de bola ao cesto de Boston. Três meses? Essa é uma vantagem de verdade.

Os Pens estão perfeitos em casa nestes playoffs, e, até os Wings quebrarem essa invencibilidade, não deve haver nenhuma comemoração.

"Queremos ter certeza de que vamos chutar mais a gol", conta a superestrela do Pittsburgh, Sidney Crosby. "E esperamos mais um do outro. Então não acho que estamos muito preocupados."

Se os Wings chegarem a Pittsburgh amanhã e fizerem o que fizeram em Detroit, aí ele pode começar a se preocupar.

E vai haver muito tempo para esse papo de parada.

De volta ao aplauso?
OK. Agora que a voz de professor cauteloso do primário já foi usada, vamos voltar, por enquanto, ao momento, para prestar uma homenagem correta ao que os Wings conseguiram ontem à noite. Eles evitaram se acomodar depois das boas avaliações que tiveram no jogo 1 — sempre um perigo quando se está em casa (pergunte ao time de Detroit na liga de cestobol). De fato, os Wings foram melhor neste primeiro período do que no do jogo 1. Eles estavam na frente por 2-0 depois dos 20 primeiros minutos e fizeram os Penguins imaginar como poderiam ter a posse do disco por tanto tempo.

Os Wings tornaram as superestrelas do Pittsburgh irrelevantes. Crosby deu seis chutes, mais de um quarto do total de seu time, mas nada passou. E Evgeni Malkin continuou seu jejum, sem chutes a gol — sem chutes a gol? Você meio que se pergunta às vezes se ele está no gelo. Lembre-se: este é um sujeito que não muito tempo atrás estava sendo considerado o melhor jogador dos playoffs.


"É muito difícil geral jogadas de ataque contra esse time", admitiu o técnico dos Penguins, Michel Therrien.

Ora, sim. No final do jogo, eles apelaram para derrubar Osgood ou tentar arrancar seu ombro ao passar perto dele. Não funcionou. E não é nada legal. O Pittsburgh pode estar frustrado, mas, da última vez que eu consultei o livro de regras, não constava por lá "matar o goleiro".

Mas o jogo 2 já acabou. Dois jogos, duas vitórias, nenhum gol sofrido e meio caminho andado em direção à Copa em Detroit. Não é hora de ficar arrogante. Não é hora de tirar o pé do acelerador.

Por outro lados, os Penguins podem não gostar de ouvir o que Babcock disse quando pediram que ele resumisse a atuação do seu time.

"Vamos jogar melhor", profetizou. "Estamos empolgados por jogar fora de casa."

Beep, beep.

Mitch Albom é colunista do jornal Detroit Free Press. O artigo foi traduzido por Alexandre Giesbrecht.
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Página publicada em 27 de maio de 2008.