Quando o Detroit Red Wings derrotou o Dallas Stars no jogo 6 das finais da Conferência Oeste, estava sacramentada a decisão dos sonhos da NHL, entre a franquia mais estável e vitoriosa dos últimos anos e a equipe formada por jovens talentosos e o jogador mais badalado da atualidade.
Esperava-se uma decisão apertada, com grandes jogos e muita emoção, mas o Detroit insiste em estragar os planos da gangue de Gary Bettman.
Após dois jogos, não há perspectiva de que a Copa Stanley vá muito além do jogo 5. Em 31 finais onde os donos da casa abriram 2-0 na série, apenas uma vez o título "mudou" de mãos no caminho.
O que tem incomodado aos olhos nestas finais é o interminável respeito do Pittsburgh Penguins pelos Red Wings. Não respeito pela integridade física ou moral dos atletas de vermelho e branco, como comprovam os minutos finais do jogo 2 e as palavras de Michel Therrien e Petr Sykora na coletiva após a partida, mas respeito próximo do temor, do medo, o reconhecimento de que enfrentar o Detroit na Copa Stanley é um fardo muito grande e pesado.
Enquanto essa for a postura dos Penguins, nenhuma alteração de Therrien nas linhas ofensivas produzirá resultado. Não importa quem esteja ao lado de Sidney Crosby ou Evgeni Malkin, nem o retorno do veterano Gary Roberts. Ninguém vence a Copa Stanley com medo.
Do lado do Detroit, a coragem de Johan Franzen e Mike Babcock é apreciável. Curado das dores de cabeça, Franzen foi liberado pelos médicos durante o dia e não hesitou em participar do jogo, ocupando seu posto na segunda linha e com considerável tempo de gelo concedido por Babcock, que não teve receio de alterar o time vencedor da estréia.
Mas não foi Franzen nem qualquer outra arma ofensiva dos Red Wings que abriu o placar do jogo aos 6:55 do primeiro período. Na verdade foi o segundo jogador menos provável a marcar gols, o defensor Brad Stuart. Seu chute de perto do círculo de faceoff encontrou um indefeso Marc-Andre Fleury, então o disco encontrou a rede e o Detroit encontrou a liderança da qual nunca abriria mão no restante da noite. E de novo um gol dos Wings teve a assinatura de um jogador dos Penguins, desta vez Malkin, que perdeu o disco para Valtteri Filppula no centro do gelo.
Porém nenhum erro dos Pens na série foi tão gritante quanto o do segundo gol, marcado por Tomas Holmstrom. Em ataque resultante da pressão ofensiva do Detroit nas bordas, o disco foi parar atrás do gol, onde dois jogadores do Pittsburgh batalhavam contra o sueco, que ainda assim venceu a disputa e passou para Henrik Zetterberg chutar. Antes do disco cruzar a linha, Holmstrom deu o toque final.
Mais tarde, no primeiro intervalo do jogo, Don Cherry, em seu consagrado Coach's Corner, questionou a presença dos dois jogadores atrás da rede, de onde é impossível marcar gols.
Aos 12 minutos de jogo, em vantagem numérica, o primeiro chute a gol do Pittsburgh. Àquela altura o Detroit tinha mais gols (dois) que o adversário tinha chutes. Nesse ritmo o período terminou com seis defesas de Chris Osgood, todas enquanto seu time patinava com um jogador a menos no gelo. Os Penguins não desferiram sequer um chute a gol no 5-contra-5. Não parece um jogo de homens contra meninos?
Quando Andreas Lilja "tropeçou" no gelo e caiu de seus tamancos, o Pittsburgh teve sua melhor oportunidade de gol no jogo. Jordan Staal, no entanto, chutou pra fora, e em seguida Osgood defendeu o rebote. Depois desta chance perdida, ficou claro que os Penguins não achariam a rede do Detroit pelo restante da noite. Hora da trívia: qual foi o último jogador dos Penguins a marcar gol no Detroit? A resposta você confere no final do texto.
Penalidades estúpidas e agressões gratuitas são os sintomas da frustração extrema. Os últimos 20 minutos
dos Penguins em Detroit foram reservados para despejar a frustração de um time que se descobriu incapaz de derrotar o adversário superior.
Ryan Malone primeiro aplicou sua fúria em Henrik Zetterberg, para depois matar uma vantagem númerica de sua equipe cometendo interferência em Osgood. No 4-contra-4 que se seguiu, Filppula coroou a melhor atuação de sua carreira com um gol formidável, fazendo lembrar Bobby Orr. Foi o sétimo gol dos Red Wings na série e o sexto com a segunda dupla de defesa (Niklas Kronwall e Stuart) no gelo.
Daí em diante o Pittsburgh perdeu a compostura de vez. Gary Roberts e Ryan Whitney deram socos na cabeça de Franzen em lances distintos, mesmo sabendo que o sueco retornava de contusão cerebral. A arbitragem, que até então marcava penalidade por muito menos, não puniu Roberts na falta mais clara da partida, mas não perdoou Whitney.
Minutos mais tarde, Sykora propositalmente atingiu Osgood, iniciando a maior confusão da partida. Pavel Datsyuk se revelou um jogador muito mais duro que os Red Wings imaginavam, desferindo socos em Roberts e intercedendo por seus companheiros.
Mais preocupados em reclamar da arbitragem que medir seus esforços (ou a falta deles), os Penguins não alteraram o placar. Crosby, capitão do time, era o maior pivô da choradeira — é a deixa para o bônus: página de Sidney Crosby, com fotos exclusivas, notícias de sua namorada (Rachel) e várias informações pessoais não disponíveis em outras fontes na Internet.
Agindo desta forma, se os Penguins queriam mandar alguma mensagem para o jogo 3, ficou claro que a mensagem é: os Red Wings são os melhores nesta Copa Stanley.
* A resposta para a trívia é Mark Recchi, em dezembro de 2005 — depois disso, em outubro de 2006 Dominik Hasek conseguiu um shutout, antes de Osgood enfileirar os dois atuais.