Em 1995 os Pens viram algo parecido. Não tão extremo, é verdade, mas
aqui e ali pontilham-se semelhanças. Em 2001 sim foi bastante parecido,
até nos dois shutouts em seqüência. Mas ambas essas séries foram contra
o New Jersey Devils, conhecido pelos seus esquemas ultra-defensivos.
Era praticamente de se esperar que algo assim acontecesse.
Não agora, em uma série que deveria ser lá e cá, com muitos gols e dois
times brigando para ver quem venceria por 8-6 cada partida. Não em uma
série que conta com Sidney Crosby, Henrik Zetterberg, Evgeni Malkin,
Pavel Datsyuk, Marián Hossa, Johan Franzen, pra ficar só nesses seis.
Mas o mais surpreendente de tudo é que o Detroit não abriu o 2-0 baseado
num esquema ultra-defensivo. Também não chega a ser ultra-ofensivo,
e isso é facilmente comprovado com os meros dois pontos de Zetterberg
nessas partidas, mas é um esquema que pode até ser considerado uma evolução
da armadilha dos Devils.
A armadilha baseava-se no congestionamento da zona neutra. Sem ter como
fazer a transição, o jogo não ficava concentrado em lugar nenhum. Em
algum lampejo de sorte saíam os gols, geralmente do time que empregava
a tática. O que os Wings estão fazendo é diferente, eles utilizam o
conceito mais básico do hóquei, que pode ser — e é — aplicado
no futebol da mesma forma.
Simplesmente ficar com o disco. Se o adversário não está com ele, sua
única alternativa para marcar um gol é com alguma jogada patética de
quem está. E, convenhamos, no elenco dos Wings, não há um jogador que
esteja a ponto de mirar seu próprio gol e chutar. (Mesmo que houvesse,
ainda faltaria bater Chris Osgood, mas essa é outra
história).
O time vermelho ainda leva essa tática básica a uma outra evolução:
mantém a posse do disco majoritariamente no campo de ataque. Sabe, só
para o caso de dar na telha de algum dos jogadores testar a minha teoria
da pateticidade.
Tudo muito simples, mas o bastante para deixar os Penguins completamente
perdidos no gelo. Apesar de os times do Leste terem feito com que ela
parecesse, a zaga do time já não era o último biscoito do pacote. Então
de repente ela está exposta. O rei não está nu. Serguei (Gonchar) está.
Assim como Ryan Whitney, Kris Letang, Brooks Orpik e os demais.
Como aquele ditado de que a melhor defesa é o ataque não é brincadeira,
a fórmula serve para inibir a criatividade e, conseqüentemente, a produtividade
do ataque dos Penguins. O shutout de sábado serviu para fazer a torcida
de Pittsburgh ficar com medo de o time não fazer mais gols. O shutout
de ontem serviu para o próprio time passar a ter esse medo.
Talvez até esse medo seja infundado. Osgood não tem três metros de altura
por quatro de largura. Uma hora o disco entra... provavelmente. O problema
é que essa é só a adversidade mais tangente que o time enfrenta a gora.
No campo das estatísticas o jogo 2 não era importante só porque 76,5%
dos vencedores dessa partida levaram também a Copa Stanley desde que
ela passou a ser decidida numa série de sete partidas. Era importante
também porque das 31 vezes que o time da casa venceu os dois primeiros
jogos, ele ficou com a taça em 30 delas. A única exceção foi o Chicago
de 1970-71, que perdeu para o Montreal de Ken Dryden. A não ser que
Marc-André Fleury esteja pronto para repetir Dryden, nem os números
estão do lado dos Penguins.