Por: Alexandre Giesbrecht

Em 1995 os Pens viram algo parecido. Não tão extremo, é verdade, mas aqui e ali pontilham-se semelhanças. Em 2001 sim foi bastante parecido, até nos dois shutouts em seqüência. Mas ambas essas séries foram contra o New Jersey Devils, conhecido pelos seus esquemas ultra-defensivos. Era praticamente de se esperar que algo assim acontecesse.

Não agora, em uma série que deveria ser lá e cá, com muitos gols e dois times brigando para ver quem venceria por 8-6 cada partida. Não em uma série que conta com Sidney Crosby, Henrik Zetterberg, Evgeni Malkin, Pavel Datsyuk, Marián Hossa, Johan Franzen, pra ficar só nesses seis.

Mas o mais surpreendente de tudo é que o Detroit não abriu o 2-0 baseado num esquema ultra-defensivo. Também não chega a ser ultra-ofensivo, e isso é facilmente comprovado com os meros dois pontos de Zetterberg nessas partidas, mas é um esquema que pode até ser considerado uma evolução da armadilha dos Devils.

A armadilha baseava-se no congestionamento da zona neutra. Sem ter como fazer a transição, o jogo não ficava concentrado em lugar nenhum. Em algum lampejo de sorte saíam os gols, geralmente do time que empregava a tática. O que os Wings estão fazendo é diferente, eles utilizam o conceito mais básico do hóquei, que pode ser — e é — aplicado no futebol da mesma forma.

Simplesmente ficar com o disco. Se o adversário não está com ele, sua única alternativa para marcar um gol é com alguma jogada patética de quem está. E, convenhamos, no elenco dos Wings, não há um jogador que esteja a ponto de mirar seu próprio gol e chutar. (Mesmo que houvesse, ainda faltaria bater Chris Osgood, mas essa é outra história).

O time vermelho ainda leva essa tática básica a uma outra evolução: mantém a posse do disco majoritariamente no campo de ataque. Sabe, só para o caso de dar na telha de algum dos jogadores testar a minha teoria da pateticidade.

Tudo muito simples, mas o bastante para deixar os Penguins completamente perdidos no gelo. Apesar de os times do Leste terem feito com que ela parecesse, a zaga do time já não era o último biscoito do pacote. Então de repente ela está exposta. O rei não está nu. Serguei (Gonchar) está. Assim como Ryan Whitney, Kris Letang, Brooks Orpik e os demais.

Como aquele ditado de que a melhor defesa é o ataque não é brincadeira, a fórmula serve para inibir a criatividade e, conseqüentemente, a produtividade do ataque dos Penguins. O shutout de sábado serviu para fazer a torcida de Pittsburgh ficar com medo de o time não fazer mais gols. O shutout de ontem serviu para o próprio time passar a ter esse medo.

Talvez até esse medo seja infundado. Osgood não tem três metros de altura por quatro de largura. Uma hora o disco entra... provavelmente. O problema é que essa é só a adversidade mais tangente que o time enfrenta a gora. No campo das estatísticas o jogo 2 não era importante só porque 76,5% dos vencedores dessa partida levaram também a Copa Stanley desde que ela passou a ser decidida numa série de sete partidas. Era importante também porque das 31 vezes que o time da casa venceu os dois primeiros jogos, ele ficou com a taça em 30 delas. A única exceção foi o Chicago de 1970-71, que perdeu para o Montreal de Ken Dryden. A não ser que Marc-André Fleury esteja pronto para repetir Dryden, nem os números estão do lado dos Penguins.

Alexandre Giesbrecht, 32 anos, não tem o hábito de mastigar sua camiseta como sugere a foto publicada na Folha online.
Edição Atual | Edições anteriores | Sobre TheSlot.com.br | Comunidade no Orkut | Contato
© 2002-08 TheSlot.com.br. Todos os direitos reservados. Permitida reprodução do conteúdo escrito, desde que citados autor e fonte.
Página publicada em 27 de maio de 2008.