Por: Alexandre Giesbrecht

Doze anos atrás, Detroit Red Wings e Pittsburgh Penguins estavam em suas respectivas finais de conferência. Eram favoritos, respectivamente, contra o Colorado Avalanche e o Florida Panthers. Eram os melhores times. Mas ambos perderam as séries para adversários muito mais obstinados e raçudos. Os Wings tiveram de esperar mais um ano para quebrar seu jejum de títulos, então em 41 anos; os Penguins esperam até hoje para chegar às finais da Copa Stanley.

Enquanto o time de Detroit não deixou de ser favorito ao longo de todos esses anos, o de Pittsburgh chegou a mais uma final de conferência, em 2001, quando foi eliminado pelos Devils, e depois mergulhou em um profundo abismo de mediocridade de que só começou a sair na temporada passada.

Tanto tempo depois, a chance de os dois times "repetirem" a final que nunca aconteceu é gigantesca. Ambos abriram 3-0 nas finais de conferência e só necessitam de um golpe de misericórdia, que não conseguiram dar nos dois jogos 4.

Na comparação com o time de 1996, até a dupla de ídolos soa plausível. Se naquela época Mario Lemieux e Jaromír Jágr eram os donos de boa parte da produtividade ofensiva do time, neste ano temos Sidney Crosby e Evgeni Malkin. Na temporada passada, Crosby começou a comprovar que as apostas em seu nome não eram exageradas e ficou tanto com o Troféu Art Ross, dado ao artilheiro da liga, como com o Hart, de jogador mais valisoso.

Nesta temporada, uma séria contusão impediu que ele tivesse a chance de competir pelo bicampeonato. Essa contusão, aliás, levou muitos a duvidar que o time conseguisse sequer chegar aos playoffs depois de um início claudicante nos dois primeiros meses. Mas foi a vez de Malkin começar a demonstrar o seu valor: na ausência de Crosby, ele carregou o time nas costas e levou-o a disputar o topo do Leste, perdido apenas no último dia da temporada.

O topo do Leste nos playoffs, que é o que realmente importa, está agora ao alcance, bastando mais uma vitória, algo que não tem sido difícil desde o início de abril. Nesta série especificamente, os Flyers sucumbiram nos três primeiros jogos frente a um adversário superior, que tiveram de enfrentar sem seu melhor defensor, Kimmo Timmonen, com um coágulo de sangue no pé, e depois sem seu segundo melhor defensor, Braydon Coburn, com uma série contusão no rosto depois de ser acertado por um disco chutado e desviado.

Não só por esses dois fatores, mas pela óbvia desmotivação de estar em uma situação que apenas dois times em toda a história conseguiram virar, seria quase compreensível que o quatro jogo representasse o canto do cisne das chances de a Filadélfia ver um de seus times comemorando ainda neste ano um título que ela não vê desde 1980, ano em que os Phillies levaram a Série Mundial de beisebol.

Enquanto isso, o pessoal de Pittsburgh tentava controlar o entusiasmo que uma campanha de 11-1 causa. "Você tem de aproveitar enquanto dura", disse Petr Sykora. "Algo muito especial está acontecendo com este time nesta primavera [setentrional]. Quanto mais ganhamos, mais queremos ganhar. Já participei de duas, três longas campanhas nos playoffs, e esta é muito especial. É legal fazer parte dela."

Deve ter sido muito legal, por exemplo, no jogo 3, quando os Penguins sufocaram seus adversários aos poucos, primeiro com dois rápidos gols, depois com outro que eliminou qualquer chance de reação que os rivais estaduais poderiam ter. Foi o típico jogo ideal do time nesta campanha, com uma rápida investida logo no começo e um bom jogo atrás para garantir a vantagem conquistada. Não por acaso, o time ficou atrás no placar por apenas 64 dos 727 minutos disputados até o jogo 4.

Essa maneira de jogar não ficou muito evidente no jogo de quinta-feira. A não ser pelos primeiros minutos, quando o time pressionou bastante e chegou a abrir 9-4 em chutes a gol. De repente, os Flyers começaram a jogar tudo o que não jogaram antes na série. Abriram 3-0 no primeiro período e seguraram o ataque dos Pens no segundo, limitnado-o a poucos chutes de qualidade (embora muitos em quantidade).

No terceiro, principalmente graças à raça de Jordan Staal — que, sempre vale lembrar, ainda não completou sua vigésima primavera —, que marcou dois gols, os Penguins resolveram voltar a jogar como nos três jogos anteriores. Não adiantou: o buraco que eles mesmos tinham escavado já estava fundo demais.

A sorte deles é que o buraco cavado pelos Flyers na série está maior ainda.

Flyers e Stars deram tanto trabalho a times favoritos nas duas primeiras séries e pareceram ter-se esgotado nas finais de conferência. Se eles de fato não conseguirem reagir, técnicos de futuros favoritos vão querer analisar os playoffs atuais para impedir que zebras como os Oilers de 2006 e os Flames de 2004 voltem a ocorrer.
Alexandre Giesbrecht, publicitário, nunca tinha participado de uma audiência como testemunha.
Jim McIsaac/Getty Images
Quando Staal acordou, os Penguins também acordaram no jogo 4, mas era tarde. Assim como parece ser tarde para os Flyers na série.
(15/05/2008)
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Página publicada em 15 de maio de 2008.