Por: Allan Muir

Para a NHL e para os jogadores que enfrentarão as intempéries, o Clássico de Inverno tem tudo a ver com exposição.

Até aqui, tudo bem.

Apesar da surpreendente atitude negativa por parte de vários jornalistas em relação ao jogo ao ar livre marcado para 1.º de janeiro no Ralph Wilson Stadium, em Buffalo, entre Sabres e Penguins, o embate tem sido recebido com muito carinho por um grupo importante: os torcedores.

A partida, feita para a televisão norte-americana, já gerou manchetes a ponto de ser impossível ao mais cínico ignorá-la. Um dia depois de o jogo ser oficialmente confirmado — obviamente, um anúncio tão surpreendente como o fato de o Natal cair em 25 de dezembro neste ano —, 42 mil ingressos foram postos à venda ao público. Em poucos minutos, todos tinham sido comprados por torcedores que esperaram na fila durante a noite toda ou passaram a manhã congestionado as linhas telefônicas. Números oficiais davam conta de que os ingressos se esgotaram em 30 minutos, mas fontes locais garantiram que foi algo mais próximo de dez minutos.

Não há dúvida que vários desses ingressos foram adquiridos por cambistas na esperança de faturar em cima do entusiasmo gerado à medida que o jogo fica mais próximo, mas, ainda assim, estamos falando de dez minutos! Frank Sinatra, Dean Martin e Sammy Davis Jr. poderiam voltar dos mortos para uma apresentação única com abertura de Elvis Presley, e teriam dificuldade em vender tantos ingressos tão rápido... ao menos se eles fossem se apresentar ao ar livre em Buffalo em janeiro.

É claro que ainda há 32 mil assentos para ser preenchidos. A maioria deles será oferecida a donos de carnês de temporada dos Sabres e dos Penguins. A liga também está segurando alguns para figurões corporativos. Mas o jogo já está com lotação praticamente esgotada.

Isso parece ser um conceito que já deu o que tinha de dar?

Admito que ainda não entendi por que marcar o jogo para 1.º de janeiro. Parece-me que a NBC, emissora norte-americana que pressionou a favor da data, conseguiria índices de audiência melhores ao programar vários jogos decisivos de futebol americano universitário junto com Heidi, filme clássico de 1937, deixando o embate no gelo para 17 de fevereiro, uma data em que há menos concorrência. Mas a emissora tomou a decisão, e pode-se esperar que ela vá fazer uma bela promoção do evento em sua grade.

O problema é que ainda é cedo para dizer o que eles vão ter nas mãos. Ninguém espera que este evento seja a mesma coisa que a experiência do Clássico Nostalgia de 2003, em Edmonton. Além de ser o primeiro jogo ao ar livre da história da NHL, o clima daquele evento foi construído em cima da exibição de superestrelas que teve o retorno de Wayne Gretzky e Mark Messier com a camisa dos Oilers, contra um Montreal liderado por Guy Lafleur. É difícil recriar essa mágica.

Mas aquele jogo foi uma celebração para os convertidos. Este será para aquele que ainda não foram batizados. O fator curiosidade do evento deverá atrair vários olhos que ainda não vislumbraram a magia de Sidney Crosby, um atleta com tanto carisma quanto LeBron James, Derek Jeter ou Peyton Manning. E esses são olhos que não piscariam duas vezes se o jogo fosse realizado no aconchego da HSBC Arena.

Pescar esses telespectadores não vai ser barato. Especula-se que a liga vá sofrer um prejuízo de sete dígitos para organizar a partida, que eles estão obviamente encarando como investimento. E é assim que eles têm de encarar. Já que Crosby significa tanto para o esporte, o valor dessa exposição em longo prazo é o que torna o Clássico de Inverno o jogo mais importante da temporada, disparado.

Ainda que o evento fracasse nesta temporada — se o tempo for inclemente, o jogo pode ser adiado para 2 de janeiro (uma terça-feira útil) ou, pior, ser forçado a ser disputado dentro de um estádio fechado —, o jogo ao ar livre é um conceito que tem de ser vigorosamente incentivado no futuro.

Por que não fazer como no Super Bowl e abrir um "leilão" para o Clássico do ano que vem? Seria bom para aquelas cidades consideradas frias demais para a finalíssima da NFL ver seu cruel clima de inverno a seu favor para variar um pouquinho. E não seria só o "leilão" que colocaria o jogo em evidência. Imagine o rebuliço causado por uma partida no Fenway Park [N. do T.: tradicional estádio de beisebol pertencente ao Boston Red Sox] ou no Soldier Field [N. do T.: estádio de futebol americano pertencente ao Chicago Bears] ou no novo Yankee Stadium [N. do T.: novo estádio de beisebol do New york Yankees, cuja construção já começou].

E por que limitar tudo isso a cidades que já têm time na NHL? Por que, daqui a alguns anos, não considerar algo mais exótico, como tundra congelada ou o Lambeau Field [N. do T.: tradicional estádio de futebol americano do Green Bay Packers]? Ou o campo do Old Trafford [N. do T.: estádio do Manchester United, time de futebol inglês]? Já que é um evento para a televisão, por que não fazer uma seqüência na vida real do filme Esquentando o Alasca, com um jogo em alguma cidade longínqua do Alasca? Forçado? Claro. Mas, para uma liga brigando por exposição na televisão e nos jornais, um bom evento forçado é exatamente o que é necessário para fazer a criatura de hábito que é o americano comum mudar do canal do futebol americano para ver alguma coisa diferente.

A promessa de ver Marc-André Fleury de gorro também não faria mal.

Allan Muir é colunista do site SI.com. O artigo foi traduzido por Alexandre Giesbrecht.
Rick Stewart/Getty Images
O Ralph Wilson Stadium quando do anúncio oficial do Clássico de Inverno. O campo vai estar bem diferente em 1.º de janeiro.
(17/09/2007)
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Página publicada em 3 de outubro de 2007.