Colossal.
Assim deve ser a briga pelo topo da Divisão Pacífico. San Jose
e Anaheim devem tirar do Dallas o protagonismo da última temporada.
Os Ducks reforçaram a defesa , e os Sharks terão a dupla mais
produtiva da NHL em 2005-06 desde o início. Phoenix e Los Angeles
são as incógnitas. Ambos possuem um forte corpo defensivo e jovens
valores na frente, mas os Kings estão em processo de renovação
e não têm goleiro. Já os Yotes têm contusões em vários setores
do gelo.
Anaheim Ducks
Nem a Al-Qaeda levará tanto pânico à América quanto os Ducks quando
a equipe de Anaheim estiver em vantagem numérica. Graças ao GG
Brian Burke, que trouxe Chris Pronger para cometer, junto com
o já presente Scott Niedermayer, atrocidades contra as linhas
inimigas. Dois dos melhores carregadores de disco da liga, com
forte liderança no elenco e que podem — devem — ter abundante
tempo de gelo, não importando a situação O terceiro elemento da
defesa é o surpreendente François Beauchemin, um contrapeso na
troca que extirpou Sergei Fedorov do elenco californiano. A saída
do brutal Vitaly Vishnevski abre vaga para o novato Shane O’Brien,
que agradou muito na pré-temporada. No gol, o técnico Randy Carlyle
tem um doce dilema: Ilya Bryzgalov ou Jean-Sébastien Giguere?
O russo deverá ser o titular. Giguere ficou disponível para troca
em junho, mas ninguém quis bancar seu alto salário. Em tempos
onde contusões de goleiros são cada vez mais freqüentes, ter dois
desse calibre é um luxo que poucos times podem ter. Na outra extremidade
do gelo, uma mescla de juventude e experiência que agrada. O inoxidável
Teemu Selanne vem de uma temporada redentora, e, mesmo que não
a repita, continua sendo o ponto de referência da equipe. Outro
com cuja astúcia não contávamos é Andy McDonald. O diminuto central
foi tão bem que deixa dúvidas se ele é isso tudo mesmo ou se o
cosmo conspirou a favor. Na mesma posição está Samuel Pahlsson,
de excelência defensiva como poucos na atualidade. A juventude,
carro chefe na liga, fica a cargo de Corey Perry, Ryan Getzlaf
e Dustin Penner. Os três agora contam com a tarimba de uma campanha
longa nos playoffs da Copa Stanley. Para completar o grupo de
jovens talentosos, Stanislav Chistov retorna após exílio europeu.
O russo é a resposta anseriforme para a saída do goleador Joffrey
Lupul. Se os jovens atacantes deslancharem, os Ducks entram para
o grupo dos grandes favoritos à Copa Stanley.
Los Angeles Kings
Se havia alguma dúvida que os Kings priorizam o futuro, ela acabou
na recente negociação com os Hurricanes, que cederam o promissor
zagueiro Jack Johnson. Antes disso, Pavol Demitra já havia deixado
LA, em troca do também bem avaliado prospecto Patrick O’Sullivan
e de uma escolha de primeira rodada. Isso fica ainda mais claro
se lembrarmos quem é o novo GG do time: Dean Lombardi tem a fama
de reconstruir franquias. E o novo técnico é Marc Crawford. O
engomado déspota trouxe a tiracolo o pífio goleiro Dan Cloutier.
Essa posição é certamente a mais fraca do time. Os reservas são
Jason LaBarbera e Mathieu Garon. Macabro. A defesa terá a volta
de um de seus maiores ídolos, Rob Blake, que não é mais o mesmo
de quando foi embora, mas ainda tem a oferecer tanto produção
ofensiva quanto agressividade e deverá ser o segundo homem mais
importante na linha azul, já que Lubomir Visnovsky ocupará o primeiro
posto. O eslovaco está no auge e deve chegar à casa dos 70 pontos.
O hostil e eficiente Mattias Norström e o veterano Aaron Miller
são as outras peças dessa boa, mas nem tão saudável defesa. Se
a linha azul é experiente, as apostas ofensivas são nos mais jovens.
Alexander Frolov já emerge como novo ídolo do reinado e tem tudo
para figurar entre os artilheiros do Oeste, com Mike Cammarelli
como escudeiro. Dustin Brown e o ídolo de todos os eslovenos,
Anze Kopitar, são ainda mais jovens, mas já contam com experiência
em competições de alto nível. Alyn McCauley e o sempre útil Craig
Conroy serão os “intrusos” experientes nas principais linhas,
e Sean Avery continuará sendo o “showman”. Com tudo isso, os Kings
podem até surpreender, mas reconstruir é o que importa agora.
Dallas Stars
Eles continuam respeitáveis, mas, a não ser a improvável chance
de a maioria de seus jogos ser decididos nos shootouts — espetacular
fator Jussi Jokinen —, as chances de os Stars repetirem a campanha
da última temporada e manterem o domínio no Pacífico são pequenas.
Jason Arnott, Niko Kapanen, Willie Mitchell e Bill Guerin serão
os desfalques. A volta de Darryl Sydor e a contratação de Jaroslav
Modry devem suprir a falta de Mitchell com folga no setor defensivo,
mas dificilmente Eric Lindros conseguirá manter o nível da segunda
linha após a saída de Arnott. O ex-Leaf assinou por pouco tempo
e pouca grana, mas nem saudável será capaz de produzir uma média
de um ponto por jogo. A opção “menos pior” pode ser o amargurado
Mike Ribeiro. Os outros contratados para a posição, o esforçado
Jeff Halpern e o fracassado Patrik Stefan, não seriam os centrais
ideais para acompanhar os jovens e talentosos finlandeses Jokinen
e Antti Miettinen na segunda linha. Já o irresponsável Matthew
Barnaby foi uma das mais desnecessárias contratações do ano. Agressividade
para bons propósitos a equipe já possui, incorporada por Steve
Ott e Brenden Morrow. Este último, de contrato renovado e agora
capitão do time, é o principal nome da franquia quando falamos
de chutes bloqueados e trancos. O raçudo ponta esquerda vem de
sua melhor temporada, assim como o defensor Philippe Boucher.
Boa parte da excelente produção de Sergei Zubov na última temporada
deve ser creditada ao trabalho silencioso de Boucher. A saída
de Guerin coloca ainda mais responsabilidade sobre os ombros de
Mike Modano e Jere Lehtinen. Duas bandeiras da franquia que vêm
de boa temporada regular, mas sem a vitalidade de outrora. Assim
como o goleiro Marty Turco, que, aliás, só atua bem nessa parte,
digamos, menos decisiva do calendário. Mais uma vez terá que ser
durável, porque não tem reserva bom o suficiente — nesse quesito
pelo menos ele sempre deu conta do recado. Os Stars querem afastar
os fantasmas dos últimos playoffs e devem chegar aos próximos
já sem o perigoso rótulo de favoritos. Porque isso, eles não são
mais no Pacífico.
San Jose Sharks
Só não aposto todo meu prestígio que os Sharks serão um dos finalistas
da Copa Stanley porque (1) não tenho prestígio e (2) isso atrairia
um tsunami de azar incalculável para o time do treinador Ron Wilson.
Mas a equipe não é considerada a favorita de muitos por puro capricho.
Com a quantidade de penalidades nas alturas devido à rigidez no
cumprimento das regras, essa foi a equipe que menos cometeu infrações
na última temporada, e Wilson espera manter esse rótulo de equipe
disciplinada. Pode também fazer uma rotação interessante com os
goleiros Vesa Toskala e Evgeni Nabokov. Aliás, esse último não
pode ter esquecido o que sabe. Se voltar a mostrar os predicativos
que o levaram ao topo, os Sharks morderão ainda mais forte. Caso
contrário, voltará a ser oferecido liga afora. A defesa pode não
ter um zagueiro de primeiro escalão, mas está longe de ser fraca.
A velha fórmula defensor físico pareado com um carregador de disco
mais habilidoso é seguida: Matt Carle e o alemão Christian Ehrhoff
são membros dessa segunda categoria, enquanto Scott Hannan e,
principalmente, Kyle McLaren fazem parte da primeira. Carle é
visto como o defensor do futuro em San Jose. Nos jogos da pré-temporada,
Marc-Edouard Vlasic foi a surpresa. Já para a frente os Sharks
possuem a dupla mais entrosada do hóquei atual: o mais valioso
atleta e o maior goleador da última temporada, Joe Thornton e
Jonathan Cheechoo, respectivamente, agora juntos desde o início
e com a companhia do atacante de força Mark Bell. O céu é o limite
para esse trio. E, na improvável possibilidade de a trinca não
estar em uma noite produtiva, ainda restará Patrick Marleau centrando
Steve Bernier e Milan Michalek. Um reforço muito comemorado foi
o do voluntarioso Mike Grier, em especial porque a equipe de desvantagem
numérica dos Sharks foi apenas a 23.ª em aproveitamento em 2005-06.
Os Sharks vêm chegando sempre perto das finais, e, como a qualidade
e durabilidade de seus principais jogadores de linha é notável,
mais uma vez estarão nas cabeças do Oeste.
Phoenix Coyotes
O “generoso one”. Assim podemos classificar o proprietário e treinador
Wayne Gretzky, graças às contratações de Jeremy Roenick e Owen
Nolan, para uma equipe em que até mesmo o mais talentoso atleta,
Ladislav Nagy, vive no estaleiro. E também ao contrato de cifras
obesas dado ao também propenso a contusões Ed Jovanovski. Mesmo
com o risco JovoCop, a defesa dos Coyotes será indubitavelmente
uma das melhores da NHL, com os ótimos novatos Zbynek Michalek
e Keith Ballard — o melhor de todos — junto com Derik Morris e
Dennis Seidenberg. Dos Bruins, veio o físico Nick Boynton, um
defensor de alto valor técnico e destrutivo para tornar a vida
do ancião goleiro Curtis Joseph mais tranqüila. Isso será necessário,
já que o pré-histórico arqueiro não tem um reserva de nível e
terá novamente que atuar em 60 ou mais partidas nesta temporada.
Na frente, os Coyotes podem formar uma linha bem virtuosa, com
Nagy, Mike Comrie e Shane Doan. O problema é a durabilidade do
primeiro e a inconsistência do segundo. Steven Reinprecht ou Roenick
podem também centrar os dois melhores atacantes dos Coyotes. Outra
combinação que pode ser utilizada por Gretzky é Oleg Saprykin
e Fredrik Sjoström com Comrie. A velocidade e a juventude que
andam fazendo a diferença na NHL não faltam a esse trio. O trabalho
sujo permanece com Mike Ricci e Georges Laraque. Resumindo: os
Coyotes podem brigar pela sétima ou oitava posição no Oeste se
Nagy e Comrie despontarem e se as contusões não atormentarem.