A
história se repete ano após ano. Com equipes fortes e favoritas,
o Nordeste segue decepcionando. Em 2005-06, não foi diferente:
Bruins e Leafs nem foram aos playoffs e só os Sabres tiveram uma
campanha digna, chegando à final de conferência e perdendo para
os campeões Hurricanes. Desde 1998-99 a divisão não faz um campeão
do Leste (Sabres). A situação fica ainda mais crítica se procurarmos
o último título da Copa. Os Canadiens foram os últimos felizardos,
no já longínquo ano de 1993.
Ottawa Senators
A Copa Stanley bateu à porta dos Senators uma, duas, três vezes.
Nada de resposta. Na quarta vez, ela não só bateu, como se colocou
totalmente à disposição, mas o time não soube aproveitar a oportunidade
de ver seu único rival próximo em termos de favoritismo (os Red
Wings) ser eliminado na primeira rodada dos playoffs. Os Sens
foram abatidos pelos talentosos e compactos Sabres. Chorar o leite
derramado não é solução. Dois dos grandes jogadores que tinham
tudo para carregar a Copa Stanley no gelo de Ottawa (Zdeno Chara
e Martin Havlat) se foram, em buscas de mais dólares em outro
lugar. Para substituílos, promessas e bons jogadores — mas nada
próximo à perda de duas das maiores potências da liga na defesa
e no ataque. Com isso, o maior reforço dos Sens sem dúvida está
fora do gelo: a menor pressão. Após temporadas a fio atuando como
um dos principais favoritos ao título, a torcida vai ter que se
contentar com um elenco nivelado por baixo devido ao teto salarial
imposto pela liga. Ainda assim, um elenco que apresenta talentos
como Jason Spezza, Dany Heatley, Wade Redden, Daniel Alfredsson
e coadjuvantes capazes de cumprir um bom papel enquanto as estrelas
descansam não pode ser tirado da lista dos favoritos em nenhuma
hipótese. Mesmo com um histórico cada vez mais negativo como o
que se apresenta.
Buffalo Sabres
Os Sabres foram muito além do que se esperava deles na temporada
passada, e não estamos falando apenas do logo e uniforme novos.
Vistos como uma das equipes mais fracas da divisão, os Sabres
conseguiram se superar baseados no seu núcleo tão jovem quanto
habilidoso. Mesmo sem quatro de seus defensores titulares, a equipe
levou os futuros campeões até o jogo 7, perdendo a série nos detalhes.
Com a perda de apenas dois jogadores de seu corpo central (o defensor
Jay McKee e o esforçado atacante Mike Grier), os torcedores de
Buffalo têm motivos de sobra para aumentar as expectativas em
relação ao seu elenco. A adição do bom defensor e quarto-zagueiro
de vantagem numérica Jaroslav Spacek deve acrescentar ainda mais
veneno à já forte defesa composta por Henrik Tallinder, Teppo
Numminen, Toni Lydman e Dmiti Kalinin. O ataque também manteve
as suas maiores armas, como o central Daniel Briere. A capacidade
de formar três fortes linhas de ataque dá uma vantagem tremenda
aos Sabres, que ainda contam com dois goleiros (ou até três, como
se viu na temporada passada) capazes de ser titulares em 90% dos
times da liga. Por tudo isso, o time é apontado como o favorito
a vencer a divisão e até mesmo a chegar ao título — uma bela reviravolta
para uma equipe que estava ameaçada de extinção e lutava para
não ser a lanterna na última temporada anterior ao locaute.
Boston Bruins
Após boa temporada antes do locaute, os Bruins pareciam destinados
a um futuro glorioso. Apoiados no jogador símbolo da franquia,
Joe Thornton, conseguiram contratações de impacto para 2005-06
e pareciam prontos para alçar maiores vôos guiados por Brian Leetch,
Alexei Zhamnov e a perigosa linha formada por Thornton, Glen Murray
e Sergei Samsonov. Uma temporada depois, o que se vê é uma equipe
totalmente diferente, dos dirigentes às principais estrelas. Apesar
do excelente reforço de Zdeno Chara, além dos bons Marc Savard
e Paul Mara, a maior contratação dos Bruins foi o gerente geral
Peter Chiarelli (responsável por trazer Chara para Boston). Ele
foi o figurão por trás de Jacques Martin e Brian Murray na fase
de Senators e era considerado tão importante que o Ottawa exigiu
uma escolha no recrutamento em troca de seu passe. Agora munidos
de um elenco mais equilibrado e nova comissão técnica, os B’s
tentam se reerguer. Com um novo jogador-símbolo (o gigante Chara,
que já está vinculado aos Bruins pelos próximos cinco anos) os
torcedores podem voltar a acreditar. É necessário somente que
alguns “ses” sejam favoráveis: Tim Thomas tem que voltar a atuar
bem no gol, Savard precisa ter uma temporada parecida com a passada,
quando quase marcou cem pontos ao lado de Ilya Kovalchuk, e Chara
tem de demonstrar a líderança que nunca pôde exercer nos Sens
devido à presença de Daniel Alfredsson.
Montreal Canadiens
Para quem se acostumou aos títulos e às glórias na NHL, os torcedores
dos Canadiens até que compreendem bem a nova situação de seu time.
Talvez por serem realmente torcedores que entendem o funcionamento
da liga, totalmente vinculada à presença de dinheiro. Talvez por
não terem outra opção mesmo. Na última temporada, os jogadores
de quem se esperava muito não levaram ao time até onde se esperava.
O goleiro José Théodore, ex-vencedor do Troféu Vezina, apresentou-
se tão abaixo do que se esperava que foi trocado pelo apenas razoável
David Aebischer. O R3 (Craig Rivet, Michael Ryder e Mike Ribeiro)
também esteve abaixo das expectativas, o que levou os Canadiens
a uma temporada pouco melhor do que modesta. Como na nova tempo
rada o maior reforço da equipe foi Sergei Samsonov — apesar de
não haver nenhuma perda considerável no elenco — pouco se espera
dos Canadiens. A presença nos playoffs é quase garantida, mas
mais pela fragilidade de certos adversários de conferência do
que por méritos próprios. Só que é bom apontar que a quantidade
de torcedores que acreditam no título deve tender ao zero, mesmo
se levarmos em consideração que estamos falando de uma das torcidas
mais fanáticas e apaixonadas do hóquei.
Toronto Maple Leafs
Após a medíocre temporada de 2005-06, alguma coisa tinha que ceder.
Finalmente foram vistas modificações mais profundas em um elenco
que parecia imutável no tempo. A saída de dinossauros como Tie
Domi (aposentado), Jason Allison e Eric Lindros (duas promessas
que passam mais tempo contundidas do que no gelo), além da substituição
de Pat Quinn pelo disciplinador Paul Maurice mostram que ao menos
os Leafs se apresentam dispostos a mudar o cenário aterrador em
que se meteram. Apesar disso, dificilmente podem ser considerados
uma equipe forte. A contratação de Mike Peca traz para Toronto
um senso de liderança mais forte do que o de Mats Sundin, que
agora terá uma companhia para dividir a responsabilidade de carregar
a pressão. Ainda assim, Darcy Tucker e Jeff O’Neill vão ter que
se apresentar ainda melhor que na última temporada, e Bryan McCabe
e Tomas Kaberle terão que continuar a jogar de 25 a 30minutos
por jogo para manter a defesa confiável. Além
disso, os Leafs voltarão
suas atenções para os
jovens Alexander Steen
e Matthew Stajan, surpresas
positivas da última
temporada. Como
se não bastassem as
fraquezas na linha, os
Leafs ainda terão que
confiar no instável Andrew
Raycroft e em
seu reserva, que ainda
não disse a que veio, Mikael
Tellqvist. Situação
difícil para uma equipe
tão tradicional. Deverá
ser uma longa temporada
para a maior cidade
do Canadá.