Pela
primeira vez desde que eu passei a acompanhar a NHL (ou seja,
desde 1996), o Detroit Red Wings não começa uma temporada entre
os favoritos ao título. Aliás, definitivamente os Wings não são
favoritos nesta temporada de 2006-07. Depois do título de 2002
foram três patéticas decepções consecutivas em playoffs, todas
após o time fazer uma ótima temporada. Chegou então a hora de
mudar.
Como o Acordo Coletivo de Trabalho atual não dá muita margem para
fazer o que certamente os Red Wings fariam — recarregar
o time, através de contratações de peso, ao invés de renovar —
o jeito é partir para alguma renovação, ainda que tímida. Afinal,
não há muitos prospectos prontos no elenco para compensar as perdas.
A perda de Steve Yzerman é absolutamente irreparável, majoritariamente
em termos de liderança dentro e fora do gelo. Aquele que seria
o líder número 2, Brendan Shanahan, também saiu. Ou seja, sobrou
para Nicklas Lidstrom. Ser capitão de um time na NHL é muito diferente
de ser um capitão de um time de futebol no Brasil. Até por uma
questão cultural, ou mesmo de tradição, o capitão de um time da
NHL carrega o peso de ser efetivamente o líder da equipe,
dentro e fora do gelo. Há jogadores que recusam esse papel, sabendo
que não reúnem as condições necessárias para suportar a pressão.
Há jogadores que caem de rendimento quando ganham o C na camisa.
Não acredito que vá ser o caso de Lidstrom, que já exerce alguma
liderança sobre o elenco há algum tempo.
É fundamental reconhecer que, no entanto, essas mudanças eram
necessárias. Era necessário que Yzerman se aposentasse, para que
fosse uma saída por cima. Era necessário deixar que Shanahan saísse,
já que sua produção em playoffs vinha sendo abaixo das expectativas
desde antes de 2002. Era necessário não sair correndo atrás de
um goleiro de elite, já que os nomes que mais brilharam nos playoffs
passados atendem por Dwayne Roloson, Cam Ward, Ilya Bryzgalov.
Ou seja, um que era tido como mediano e dois novatos.
Então, se esse time já teve dois goleiros de elite no elenco,
pagando uma fortuna a cada um deles, nesta temporada terá dois
deja-vu no gol. Aliás, duas antigas e renovadas dúvidas.
Todos conhecem os limites de Chris Osgood. Todos conhecem a capacidade
de Dominik Hasek, assim como sua idade avançada e seus crônicos
problemas de contusão. O Dominator quarentão ainda é capaz de
carregar um time? Não tenho dúvidas de que sim, basta lembrar
que ele vinha sendo um dos melhores da liga na temporada passada.
Isso até se machucar, e aí entramos no verdadeiro problema contemporâneo
deste grande goleiro.
Sem contar que o problema real que levou às eliminações dos Wings
nos últimos playoffs não estava no gol, e sim, na falta de sangue
da equipe. E, quanto a isso, até o momento nenhuma ação foi tomada.
A atitude que eu esperava — a mesma que a gerência tomou
depois da eliminação de 1996 — era investir em jogadores
mais fortes e mais raçudos. Ainda não foi dessa vez.
Sem contratações de peso para nenhum setor, restou a chegada de
Danny Markov, bom defensor que deverá tentar suprir a aposentadoria
precoce de Jiri Fischer. Aliás, podemos resumir as contratações
dos Wings para esta temporada em Markov e Hasek. A saída de pesos
pesados abre espaço para a ascensão da dupla Pavel Datsyuk e Henrik
Zetterberg, especialmente o primeiro, que precisa provar que não
amarela em playoffs. O segundo já desponta como um jogador mais
completo e com mais presença entre os demais jogadores, até mesmo
por não ter a barreira da língua (Datsyuk ainda está aprendendo
a falar inglês). Além deles, o prospecto Jiri Hudler deverá ter
sua enésima chance de estar no time principal. Algum outro garoto
dos juniores deve subir para completar o elenco que vai ao gelo,
provavelmente Tomas Kopecky. Quando esta matéria estava sendo
fechada, saiu a notícia de que Brad Norton faria parte do elenco.
Pouco sei dele, alem do fato de ser um defensor em declínio na
carreira e de ser marido daquela beleza da Tiffany Granath, do
canal Playboy.
Enfim, as coisas podem ser melhores nesta temporada? Sim, claro.
Sem o peso do favoritismo talvez o time jogue com mais leveza.
Talvez sem seus dois maiores líderes da última década o time jogue
com mais desenvoltura, talvez novas lideranças surjam e preencham
o espaço vazio. O grande gol deste time nesta temporada é não
amarelar novamente nos playoffs. Pode até perder, mas que perca
lutando até o fim. Que lute com garra até o fim.
O CAPITÃO
AGORA É HISTÓRIA Pela primeira vez
em mais de duas décadas, os Red Wings vão ao gelo
sem Steve Yzerman no comando.
(Detroit FreePress)
FINALMENTE
HUDLER? Jiri Hudler terá finalmente todo tempo
do mundo para mostrar o que sabe na NHL, já tendo começado
fazendo bonito na pré-temporada.
(Chris O'Meara/AP - 28/09/2006)