Por: Alexandre Giesbrecht

É perfeitamente possível que não haja tantas pessoas com o realismo de Jay Feaster. Não em Calgary, pelo menos. Há cerca de dez meses como gerente geral dos Flames, ele ofereceu na última semana uma avaliação sobre as chances de seu time chegar aos playoffs bastante realista, em que se recusou a embelezar as condições de seu time na tabela de classificação a nove jogos do fim da temporada regular. "Estou satisfeito que tenhamos acertado o navio contra o Colorado [vitória por 5-2 na quinta-feira]", disse Feaster ao embarcar para a viagem rumo a Anaheim, onde seu time daria neste domingo início a uma série de quatro jogos fora de casa. "Mas isso só nos afastou da rota de colisão com os recifes. Ainda estamos muito próximos deles."

Uma metáfora curiosa, mas que reflete, sim, o momento por que os Flames passavam depois de três derrotas seguidas, duas delas em casa. "Perder três seguidas é devastador na Conferência Oeste", avaliou o gerente geral, antes de completar com nova metáfora. "Foi um golpe muito duro que absorvemos. Tínhamos de levantar do tatame, e isso nós fizemos." Não que a versão 2010-11 do Avalanche possa ser considerada uma potência, com dezenove derrotas em seus últimos vinte jogos.

O teste de verdade será nesta difícil viagem que ora se inicia. Anaheim, Los Angeles e San Jose, fechando em Edmonton. Os três primeiros compromissos são contra equipes que ou brigam por uma vaga ou estão praticamente garantidos nos playoffs. O último é contra o lanterna da liga, mas que ao mesmo tempo é o maior rival dos calgarianos. Essa viagem poderá definir a temporada dos Flames, com sua eliminação ou com um arranque rumo à pós-temporada. "Esta é a nossa temporada", decretou o atacante Alex Tanguay. "Se formos bem, ainda teremos forças para chegar aos playoffs. Se perdermos três, acabamos com nossas chances."

Os problemas dos Flames em Anaheim são notórios: o time não vence nos arredores da Disneylândia desde 2004. Antes de o duelo começar, ambos os times dividiam a nona colocação na conferência, com 83 pontos, mas os californianos tinham duas partidas a menos. Além do confronto em Anaheim, os dois times enfrentar-se-ão novamente no próximo dia 30, em Calgary. Duas vitórias nessas partidas são cruciais para compensar os dois jogos a menos. "É divertido ter o nosso destino em nossas próprias mãos", brinca Tanguay, que certamente sabe que as coisas não são tão simples assim.

Tanto é que ninguém em Calgary vai reclamar se obtiver ajuda de outros times, até porque essas ajudas não têm vindo em grande quantidade. Não só os rivais têm ganho jogos contra outros times no tempo regulamentar, como confrontos diretos têm sido decididos na prorrogação, tudo em quantidades maiores do que os partidários dos Flames gostariam. "Ficamos esperando que os times nos ajudem, mas isso não vai acontecer", reconhece Feaster. "Se ficarmos só olhando e esperando que alguém nos ajude a nos classificar, vamos ficar esperando muito tempo."

Mas Feaster não usa a "falta de ajuda" dos outros como desculpa para a queda. Nem isso nem as contusões de jogadores importantes, como David Moss e Brandan Morrison. Ele apressa-se em apontar a falta de dedicação como principal causa. Uma causa interna. Uma udança em algo que, para ele, era o ponto forte do time até pouco tempo atrás. "Muitas vezes, você não percebe quando seu nível de dedicação cai um pouquinho", explica. "Às vezes, os jogadores são os últimos a perceber."

O técnico Brent Sutter pareceu perceber isso na vitória nos pênaltis sobre os Stars, o último jogo antes da recente sequência de três derrotas. Após esses jogos, Sutter não se limitou a explicar aos seus jogadores o que acontecera: ele mostrou a eles no vídeo. Deu exemplos, maus e bons. No primeiro teste, o expediente funcionou.

O que também funcionou foi a contratação de Feaster, que substituiu Darryl Sutter em 28 de dezembro, quando o time estava afundado na 14.ª posição do Oeste. Era difícil encontrar qualquer um otimista o bastante para imaginar que os Flames brigariam por alguma coisa na conferência. "Temos jogado hóquei tipo playoffs desde o Natal", lembra Tanguay. "Não sei qual é nosso aproveitamento desde então, mas provavelmente está perto de 70%. É muito mais difícil ganhar jogos quando você está desesperado. Você se entrega muito mais, com muito mais intensidade. Mas é o que precisávamos fazer. Ainda temos condições de conquistar algo especial. Não queremos jogar fora todo o trabalho que fizemos."

É o que veremos nesta próxima semana.

Alexandre Giesbrecht, publicitário, esteve em Porto Alegre na última semana.
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Página publicada em 20 de março de 2011.