As teorias chovem como um dilúvio desde que Zdeno Chara tentou decapitar Max Pacioretty na última terça-feira. Alguns acham que o gesto de Chara foi intencional, outros dizem que Pacioretty não seu protegeu de forma adequada e alguns pensam que tudo isso é um complô do governo para desviar a atenção do desgosto das nossas tropas no Afeganistao.
Mas a hipótese defendida pela NHL faz com que a culpa caia sobre a geografia do rinque. Mais precisamente ela coloca toda a culpa sobre as costas da divisória de vidro que se colocou na rota de encontro com o crânio de Pacioretty. Na verdade, se o incidente não tivesse acontecido nesse ponto específico do rinque, provavelmente nós nem falaríamos mais sobre isso hoje, do mesmo jeito que nós não falaríamos do Titanic se ele tivesse navegado no lago Saint-Jean* (nota do tradutor: lago Saint-Jean é um grande lago localizado na região central de Québec), onde os icebergs são bastante raros.
É bastante evidente, como explicou claramente Georges Laraque, que “o que causou a lesão de Pacioretty foi o poste da divisória”. O poste dessa divisória não estava no seu primeiro jogo de hóquei. Ele sabia muito bem que os jogadores chegavam com toda velocidade em sua direção, e mesmo assim ele não se mexeu um milímetro. Um poste tão experiente como ele deveria saber muito bem onde os jogadores se localizam no gelo. Será que a ausência de gesto e de atitude foi intencional da sua parte? Impossível saber. Nós não podemos entrar na cabeça do poste, assim como também não podemos entrar na cabeça de Chara (a não ser que contemos com a ajuda de um banquinho para subir tão alto).
Além disso, esse tipo de divisória de vidro tem antecedentes bastante pesados. Não foi a primeira vez que um jogador famoso estatela o nariz nela ou se faz descolar o ombro ao bater de encontro com ela. Mesmo assim, nenhuma investigação sobre a sua construção foi instituída, o que torna a situação bastante escabrosa. Felizmente os capangas de Gary Bettman estão lá para colocar a infraestrutura no seu devido lugar.
Alguns dirão que a NHL não deu chance alguma para que o poste da divisória de vidro pudesse oferecer a sua versão dos fatos, o que acaba tornando o veredito sem muito valor. Pacioretty também não prestou depoimento ao juiz, mas isso não impediu um julgamento imparcial que vai de encontro aos interesses de todas as partes envolvidas, ou seja, de encontro aos interesses de Zdeno Chara. A divisória de vidro tem que pagar pela sua ausência de atitude.
Yvan Piquette, Réal Munger e Paul Meilleur-Aucoin escrevem para o jornal montrealense Métro. O artigo original foi publicado em 10 de março e traduzido por Alessander Laurentino.