Por: Thiago Leal

Quando um atleta, seja no hóquei no gelo ou em qualquer outro esporte, atinge recordes individuais e ganha notoriedade em algum fundamento, torna-se uma lenda. Mas quando um jogador faz parte de uma confraria informal, uma dupla ou trio de ataque, por exemplo, ele torna-se uma marca registrada, uma franquia, uma propriedade da equipe e dos torcedores.

Poucas linhas de ataque conseguiram atingir esse status na NHL. E, dentro desse clube exclusivo, uma das mais lembradas é a Conexão Francesa que, por sete temporadas, encantou Buffalo, Nova York, uma das cidades americanas mais apaixonadas por hóquei no gelo. Neste domingo, 13 de março, a ponta esquerda deste memorável power trio nos deixou: Rick Martin sofreu um ataque cardíaco enquanto dirigia em Clarence, pequena cidade no condado de Erie, administrado por Buffalo.

Mais que um jogador de hóquei, Martin foi parte de uma história que entrou para o folclore de uma das mais tradicionais franquias da NHL, mesmo sendo uma das representantes da era das expansões. Títulos não vieram, mas as glórias conquistadas pela Conexão Francesa estão guardadas no coração de Buffalo, assim como estavam no coração de Martin, que o traiu nesta tarde de domingo.

Rick nasceu Richard Lionel Martin nasceu em Verdun, Quebec. No final dos anos 60, jogou no Montreal Junior Canadiens e teve um desempenho sensacional na temporada 1970-71 com 122 pontos e 106 minutos de penalidade. Martin juntou-se à NHL já na era do recrutamento de entradas: foi a 5ª escolha geral de 1971 pela recente franquia Buffalo Sabres. Estreou pela franquia em 1971-72 e marcou 74 pontos em 73 jogos. Ficou em segundo lugar na corrida pelo Troféu Calder de calouro no ano, perdendo para Ken Dryden. Em 1972 chegou a ser recrutado pelo New England Whalers, da liga rival WHA, mas permaneceu em Buffalo.

Em sua temporada de estreia, Martin teve a oportunidade de jogar novamente com um colega de Junior Canadiens, o central Gilbert Perreault, que havia sido a primeira escolha geral do recrutamento anterior. Na temporada seguinte o Buffalo adquiriu o ponta direita René Robert em troca de Eddie Shack. Naquela temporada 1972-73 surgia a Conexão Francesa (The French Connection), cuja história já foi contada em TheSlot.com.br

Martin foi um dos últimos exemplares do hóquei clássico dos anos 60, embora tenha jogado nos anos 70. Muitas vezes exibia um bigodão e por algum tempo jogou sem capacete, o que faz os fãs mais recentes do esporte lembrarem do filme Slap Shot (Vale Tudo, no Brasil). Foi obrigado a usar capacete depois de sofrer um grave acidente envolvendo o defensor Dave Farrish, então no New York Rangers. Farrish puxou Martin pelo pescoço com seu taco, derrubando-o no gelo. Martin bateu com a cabeça, desmaiou e teve convulsões. Essa foi a primeira das duas grandes contusões de sua vida.

A segunda aconteceria em 1980 e viria a encerrar sua carreira, quando Mike Palmateer, goleiro do Washington Capitals, fora da área, acertou seu joelho, rompendo os ligamentos cruzados. Mesmo com cirurgias, Martin não se recuperou. Trocado pelos Sabres para o Los Angeles Kings em 1981, Martin jogou um total de quatro partidas em duas temporadas regulares para, enfim, encerrar sua carreira. Voltou para Buffalo, onde passou a viver com a família, administrar um restaurante chamado Slapshot, trabalhar como consultor de informática e sempre dar as caras na HSBC Arena.

Martin somou um total de 685 jogos na NHL com 701 pontos marcados, contando apenas temporada regular. Em playoffs foram 63 jogos e 53 pontos. Disputou sete Jogos das Estrelas e foi jogador mais valioso de um deles, em 1977. Detém os recordes de franquia de maior número de pontos por um calouro (74) e maior número de hat tricks (21).

Após a aposentadoria, Martin entrou para o Hall da Fama do Buffalo Sabres em 1989. Em 1992 entrou para o Hall da Fama dos Esportes da cidade de Buffalo. Sua camisa #7 foi aposentada pelos Sabres em 1995, junto com René Robert, #14 (o #11 de Gilbert Perreault havia sido aposentado em 1990). Na cerimônia de aposentadoria dos números de Martin e Robert, os Sabres estenderam um banner em homenagem à French Connection que tantas alegrias deu à torcida apaixonada de Buffalo. O capitão que conduziu a cerimônia não poderia ser mais adequado: Pat LaFontaine, um americano de St. Louis, cidade de herança francesa que viria a ter seu número #16 aposentado em 2006.

Tentou carreira na comissão técnica por um breve período, trabalhando como assistente na temporada 2003-04 - um cargo específico para treinador de hóquei no gelo, "skill-development", o de ajudar os jogadores a desenvolver suas habilidades.

Além da carreira de clube, Martin chegou a treinar com a seleção canadense para a Summit Series de 1972, e jogou pelo Canadá na primeira edição da Copa Canadá, em 1976, sagrando-se campeão.

Mesmo tendo jogado nos longínquos anos 70, a figura de Martin era facilmente reconhecida por torcedores mais jovens, tamanho o número de cerimônias pré-jogo às quais a lenda compareceu (a última delas em 23 de fevereiro deste ano), além de sua memorabília no museu do clube, com fotos e acessórios que usou em sua carreira. Após a aposentadoria, Martin deu continuidade a seus hobbies: jogar golfe e colecionar carros antigos.

Neste 13 de março, Martin deixou para trás família (sua esposa Mikey e seus filhos Corey e Josh), amigos, fãs e torcedores. Mas seu espírito está imortalizado no coração de Buffalo.

Thiago Leal está de luto.

James P. McCoy/Buffalo News
Rick Martin (#7), com seus colegas da Conexão Francesa e Terry Pegula, dono dos Sabres, na última das inúmeras cerimônias pré-jogo às quais esteve presente em Buffalo.
(23/02/2011)

Arquivo TheSlot.com.br
Em seus tempos de jogador, Martin dispensava o capacete, mas não abria mão do bigodão. Rivellino who??
Reprodução
De luto, o Buffalo Sabres homenageou Martin na abertura de seu site oficial.
(23/02/2011)
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Página publicada em 30 de janeiro de 2010.