Vez por outra, escrevi sobre grandes jogadores que nunca ganharam a Copa Stanley. Dino Ciccarelli, Trevor Linden, Pavel Bure... e ainda devo artigos sobre gente como Pat LaFontaine, Mats Sundin ou Jeremy Roenick. Keith Tkachuk chega antes deles, ao encerrar sua carreira sem erguer o Santo Graal. Em seus 19 anos jogando na NHL, Tkachuk conseguiu chegar às marcas que separam crianças de adultos, passando dos 500 gols e 1000 pontos. O atleta anunciou durante a semana que para ao termino da temporada. Como o St. Louis Blues não vai aos playoffs, Tkachuk só tem mais dois jogos como profissional. No último dia 28, Tkachuk completou 38 anos de idade. São dez a menos que Chris Chelios, que voltou à NHL recentemente.
A maior constatação que se pode ter a respeito da carreira de Tkachuk é que trata-se de um grande jogador que acabou estando sempre nos lugares errados e nos tempos mais errados ainda. Assim como aconteceu com Pavel Bure (esse ainda mais azarado, diga-se de passagem). O St. Louis Blues viveu seus melhores momentos antes da chegada de Tkachuk. O Phoenix Coyotes vive sua melhor fase agora, anos depois de sua saída. Passando por dois times que, ao longo desses últimos dez anos, não tiveram forças para chegar muito longe em pós-temporada, Tkachuk viu seu talento desperdiçado. Seu curto refúgio foi igual: logo para o Atlanta Thrashers!
Parando sem Copa
O que dá mais desgosto ao analisar a carreira de Tkachuk é constatar sua falta de grandes oportunidades. Linden e Bure jogaram uma Copa Stanley. Tiveram sua chance. Roenick, que chegou a ser parceiro de Tkachuk em Phoenix, teve sua chance de jogar uma Copa Stanley também, além de ter feito parte de um grande time do San Jose Sharks que, apesar de tudo, não vingou. Tudo bem, conquistou um Troféu dos Presidentes e fez sua história, ainda que controversa. E Roenick foi parte dela. A impressão que dá é que sempre faltou isso a Tkachuk. Faltou a ele uma oportunidade como a de Doug Weight ou Dallas Drake, que em determinado momento da carreira transferiram-se para o time certo no momento certo e pararam com anéis da Copa Stanley em seus dedos.
Os Blues já anunciam o cerimonial para a despedida do camisa #7 na sexta-feira, dia 9, no Scottrade Center. No sábado Tkachuk ainda joga mais uma partida, contra o Nashville Predators no Tennessee. Foram nove temporadas com a franquia do Missouri, interrompida brevemente por uma rápida passagem pelo Atlanta Thrashers. Antes disso, o veterano power forward dedicou-se por dez anos à franquia Winnipeg Jets/Phoenix Coyotes, que o recrutou em 1990 como 19ª escolha geral.
Já cansei de comentar que o valor de um jogador supera títulos (ou a falta deles). O valor de um sujeito que jogou por 19 anos e praticamente só atuou em duas franquias (vamos desconsiderar o pouco tempo em Atlanta), ainda por cima duas franquias que, naqueles momentos, não tinham tanto a oferecer quanto outros times na NHL, com toda certeza é inquestionável.
É melhor entender porque um jogador que passa dos 1000 pontos e 500 gols tem uma carreira que, se não for analisada, pode parecer medíocre.
Em sua última temporada na NHL, Tkachuk soma 30 pontos em 66 jogos. Longe de sua melhor fase nos Blues, a temporada 2001-02 quando chegou aos 75 pontos. Com uma média de 54 pontos por temporada, Tkachuk viveu seu auge na temporada 1995-96, ainda no Winnipeg Jets, quando chegou à marca dos 98 pontos. O que é surpreendente. Apesar de ter, hoje, 1033 pontos na carreira e fazer o gênero power forward, Tkachuk passou a maior parte da carreira como um jogador bem mais coletivo que individual, servindo de intimidador (seus minutos de penalidade não negam) e destacando-se por versatilidade, atuando tanto como central quanto como ponta direita ou esquerda. Sua característica mais marcante era sua capacidade de liderança, tanto que chegou a capitanear os Jets aos 21 anos de idade. Perdeu o posto um pouco mais para frente quanto brigou por questões contratuais com os Jets, mas logo recuperou o "C", quando o time já era o Phoenix Coyotes. Em 1997 foi o primeiro jogador estadunidense a liderar a NHL em gols, com 52.
Enfim, em 2001 foi trocado para o St. Louis Blues onde seus pontos diminuíram, mas sua importância como líder cresceu consideravelmente.
De qualquer forma Tkachuk saiu de Phoenix deixando dois recordes: o número de gols vencedores (40) e de minutos de penalidades (1508).
A chegada de Tkachuk a St. Louis foi logo após a melhor fase recente do time, com a conquista do Troféu dos Presidentes. Tkachuk que chegou a St. Louis para ser um jogador chave no desenvolvimento do time acabou sendo um herói da resistência em sua decadência na NHL, chegando à última colocação da liga em 2006 com apenas 57 pontos marcados. O time não era dos melhores. Tkachuk estava longe de seus melhores anos no Phoenix, e a dependência em Scott Young, Dean McAmmond, Dallas Drake ou Jamal Mayers obviamente não levou os Blues a lugar nenhum além do último lugar na tabela. A melhor coisa que o time tinha, Doug Weight, foi para a Carolina ganhar a Copa Stanley.
Ao longo de sua passagem pelo Missouri, Tkachuk envelhecia e via jogadores de sua idade chegarem e saírem do time. Drake, Young, Weight, Bill Guerin, Paul Kariya. Há quanto tempo faz que os Blues não montam um bom time? Há quanto tempo os Blues não possuem um jogador que desequilibre? Tkachuk não é esse jogador. Teve suas altas pontuações nos Jets/Coyotes, mas ainda sim estava mais como um destaque de personalidade, não de habilidade.
Pela Seleção dos Estados Unidos, Tkachuk levou a medalha de ouro na Copa do Mundo de Hóquei de 1996 e medalha de prata nos Jogos Olímpicos de 2002. Chegou a defender a seleção em outras edições de Jogos Olímpicos e na Copa do Mundo de Hóquei de 2004, mas sem medalhas. Falando de hóquei internacional, ele esteve ao lado de uma geração muito talentosa de jogadores americanos e que, aparentemente, tem tido uma boa renovação. Bill Guerin, Chris Drury, Doug Weight, Chris Chelios, Mike Modano, Brian Leetch, Brett Hull...
Fico me perguntando o que Tkachuk poderia ter agregado a um time como o New Jersey Devils ou o Colorado Avalanche, ou mesmo Dallas Stars. Se o Mighty Ducks of Anaheim tivesse um jogador tão técnico quanto físico como Tkachuk em 2003 poderia ter ganho a Copa Stanley. Ao longo desses anos, esse personagem também fez a falta na Região da Baía de São Francisco. Já pensou os Sharks com a energia de Tkachuk em 2004, já que a apatia em pós-temporada sempre afetou a franquia?
Infelizmente a história do hóquei subverte a carreira de grandes jogadores. E Tkachuk é mais um a entrar para este clube.
Arquivo TheSlot.com.br Tkachuk, bem jovem, como capitão do Winnipeg Jets. |
Arquivo TheSlot.com.br |
Arquivo TheSlot.com.br O time dos Estados Unidos, com Tkachuk, campeão da Copa do Mundo de 1996. |
Arquivo TheSlot.com.br Mais um grande jogador a parar sem levantar a Copa Stanley. |