Por: Marco Aurelio Lopes

Eternos rivais, New York Rangers e New Jersey Devils viram dois ídolos serem consagrados no Salão da Fama do Hóquei nesta última segunda feira. O brilhante defensor Brian Leetch representando os Rangers, e o competentíssimo gerente geral dos Devils Lou Lamoriello receberam em Toronto o anel que os colocaram no panteão do hóquei mundial. A seguir, uma breve história dos dois.

Brian Leetch
Dezoito anos de uma carreira gloriosa, onde imortalizou a camisa 2 no New York Rangers, fizeram Brian Leetch ser considerado por muitos um dos melhores defensores de sua era, e da própria história da NHL, além de ser citado como um dos maiores jogadores nascidos nos Estados Unidos.

Depois de uma temporada no hóquei universitário em Boston College, o texano de Corpus Christi, já selecionado pelos New York Rangers como a 9ª escolha geral em 1986, foi escolhido para defender a seleção americana nas Olimpíadas de Inverno em 1988. Na temporada 1988-89, fez sua estréia pelos Rangers, marcando 23 gols (recorde para defensores calouros) e 71 pontos, mais do que suficiente para ser eleito calouro do ano, e levar o troféu Calder. Em 1992, embora os Rangers ainda estivessem montando as peças do time que seria campeão 2 anos depois, Leetch mostrava que seria peça chave daquela conquista, marcando 102 pontos (sendo o 5º defensor na história a superar os 100 pontos, e o 1º americano a fazê-los), lhe garantindo ao final da temporada o troféu Norris como melhor defensor da liga.

Sua habilidade como patinador e como armador de jogadas já eram notadas na liga àquelas alturas, e em uma carreira repleta de honrarias, 1994 foi o ano da consagração de Leetch, ao capitalizar uma campanha histórica nos playoffs daquele ano com a conquista da Copa Stanley no sétimo jogo das Finais, no templo do Madison Square Garden, marcando o gol da vitória da partida que encerrou uma fila de 54 anos. Seus 34 pontos naquela pós-temporada, e seu índice de +19 lhe garantiram o troféu Conn Smythe como jogador mais valioso daqueles playoffs, o primeiro não canadense a ganhar o troféu (e até hoje o único americano).

Quando o eterno capitão Mark Messier deixou New York para se aventurar em Vancouver, Leetch herdou o “C” da famosa “blueshirt” de Manhattan, vestindo-o por 3 temporadas, até que, em um gesto de nobreza, o devolveu a Messier quando este retornou aos Rangers. Em 1998, Leetch novamente defendeu os Estados Unidos nas Olimpíadas de Inverno (também seria convocado em 2002, quando conquistou a medalha de prata, e antes disso, em 1996, já havia ajudado seu país a conquistar a Copa do Mundo de Hóquei).

Nessa época, entretanto, os Rangers começavam a ter uma grande queda de rendimento, onde apenas as finais de conferência em 1997 deram algum orgulho aos torcedores. Assim, os veteranos jogadores começavam a ser negociados, iniciando uma reconstrução nos Rangers, que já mal conseguiam se classificar aos playoffs. E nem mesmo o veterano ídolo escapou, quando em 2004 os Rangers negociaram Leetch com os Maple Leafs (igualmente desesperados por uma Copa), por um punhado de prospectos e escolhas de recrutamento. Infelizmente não foi em Toronto que Leetch conseguiu retornar à Copa Stanley, com os Leafs sendo eliminados na segunda rodada.

Já aos 37 anos, Leetch retornou para mais uma temporada, a de 2005-06, a primeira pós-locaute, jogando pelos Boston Bruins, assinando por um ano com a equipe de Massachussets. Embora não conseguindo se classificar para os playoffs daquele ano. Leetch se importalizou de vez entre os grande da história ao assinalar seu milésimo ponto na liga. Embora não tenha se retirado oficialmente, esta foi sua última temporada, já que ao final da temporada seguinte, a de 2006-07, onde já havia recusado ofertas de diversas equipes, inclusive os arquirrivais de New Jersey, Brian Leetch anunciou oficialmente que se retirava do hóquei após 18 temporadas, onde atuou por 1205 jogos, marcando 247 gols e incríveis 781 assistências, uma das suas marcas registradas, para um total de 1028 pontos, e 9 presenças em Jogos das Estrelas. Na famosa eleição dos maiores jogadores do século pela revista The Hockey News, Brian Leetch foi eleito o 71º maior jogador da história.

Em uma carreira repleta de premiações, era mais do que natural que elas continuassem vindo após sua aposentadoria. Ainda em 2007, Leetch recebeu o troféu Lester Patrick pela sua contribuição ao hóquei americano. No ano seguinte, foi eleito para o Salão da Fama do hóquei americano, além de ter sua camisa 2 imortalizada pelos Rangers no teto do Madison Square Garden. Para os saudosos torcedores dos Rangers, a imagem de Leetch marcando o gol do título em 1994 ficará para sempre na memória. E agora, com a indicação para o Salão da Fama do Hóquei, a celebração de uma carreira mais que vitoriosa.


Lou Lamoriello
Quando você pergunta a algum torcedor dos Devils quais os maiores ídolos da história da franquia, certamente você ouvirá os nomes de Martin Brodeur e Scott Stevens. Mas seguramente também poderá ouvir o nome de Lou Lamoriello, gerente geral da equipe desde a longínqua temporada 1987-88, sendo assim o gerente com mais tempo no cargo dentre todas as equipes da liga. E essa idolatria é mais que justificada, afinal, sob sua tutela, os Devils (recém chegados a New Jersey vindos de passagens desastrosas por Kansas e Colorado), se transformaram de uma das chacotas da NHL a uma das mais vitoriosas franquias da liga, tendo vencido 3 Copas Stanley no período, e sendo um membro quase perene dos playoffs (onde ficou de fora em apenas duas temporadas).

Embora reconhecidamente um homem competente no esporte, onde foi diretor do programa esportivo da Universidade de Providence, onde também foi técnico de sua equipe de hóquei. Até que em abril de 1987, ao receber o convite para ser presidente dos Devils, Lamoriello passava a escrever uma das mais vitoriosas relações gerente-franquia da NHL. Homem de personalidade forte, Lou causou alvoroço logo em sua chegada, ao se auto-nomear gerente geral da equipe para a campanha que iniciaria no segundo semestre de 1987, mesmo sem ter tido experiência alguma como jogador, treinador, etc, na NHL. E assim, os Devils começaram a se fazer presença constante nas pós-temporadas da NHL, e chegando ao ápice em 1995, quando os azarões de New Jersey superaram de forma surpreendente os favoritíssimos Red Wings, varrendo o time de Detroit e levando pela primeira vez a Copa Stanley. Naquele ano, até o Albany River Rats, afiliado dos Devils na American Hockey League, conquistou a Calder Cup, o maior troféu daquela liga.

Depois daquele ano, os Devils ainda voltariam a chegar às finais em 2000, 2001 e 2003, onde saiu derrotado apenas em 2001, contra o Avalanche de Ray Bourque (e ainda assim no sétimo jogo), tendo vencido nos outros anos contra Dallas e Anaheim. Além desses títulos, os Devils de Lamoriello ganharam 8 títulos da divisão Atlântica, sendo 3 nas últimas 4 temporadas (pós-locaute). Tal currículo também o conduziu à direção da equipe americana nas Olimpíadas de Inverno em 1998, e o troféu Lester Patrick, pelos serviços prestados ao hóquei nos Estados Unidos.

Além da competência, Lamoriello também é conhecido pela dificuldade que impõe aos jogadores e seus agentes na hora de negociar os contratos. Para ele, salários de jogadores utilitários podem ser o mesmo de jogadores estelares, se na sua ótica a importância de ambos for a mesma. Dessa forma, ídolos em Jersey deixaram a equipe em busca de melhores vencimentos, mas é nessas horas que surge a competência dos Devils em formar novos valores, que suprem de forma brilhante a saída de nomes importantes. Assim, os Devils dificilmente terão um elenco recheado de estrelas, mas sim recheado de bons jogadores que dão uma regularidade quase singular aos Devils na NHL em termos de campanhas. Lamoriello também já protagonizou quedas-de-braço com treinadores, e em duas vezes assumiu o comando da equipe (embora notadamente ele não tenha a menor intenção de ser um técnico efetivo), ao substituir o demissionário Larry Robinson e mais recentemente após demitir Claude Julien, isso a 6 jogos do final da temporada, com a equipe rumando para o título da Divisão (em ambos os casos, no entanto, os Devils foram eliminados na segunda rodad dos playoffs).

Outra faceta curiosa de Lamoriello diz respeito aos uniformes da equipe. Se os Devils são o único time que até hoje nunca ostentou um uniforme alternativo (a popular terceira camisa), agradeça ao gerente que diz que seu time não precisa mais do que duas camisas diferentes, para jogos em casa e como visitante, e isso é suficiente para manter a identidade da equipe. Curioso também notar que um dos blogs mais famosos sobre os Devils leva seu nome, o In Lou we trust (Em Lou nós confiamos, traduzindo para o português), tamanha sua popularidade, e mais uma demonstração de como ele tem a plena confiança de todos em New Jersey.

Lou Lamoriello é um dos gerentes mais respeitados hoje na liga, e prova desse respeito é dada também pela própria organização dos Devils, que mesmo com algumas mudanças de dono ao longo desses mais de 20 anos, sempre confiaram plenamente em Lou para gerenciar as operações da franquia, nas mais diversas posições. Lamoriello também é membro do Comitê Executivo do Painel de Governantes da liga, e sua experiência também foi fundamental na negociação entre jogadores, donos de equipes e a NHL que cancelou a temporada 2004-05. Ao ser nomeado para o Salão da Fama do Hóquei nesta temporada, na categoria de “Construtores”, Lou Lamoriello deu a prova final do porquê é considerado um dos ídolos da história do New Jersey Devils.

Marco Aurelio Lopes também foi vítima do apagão. Mas nem isso apaga o amor pela sua morena.

Arquivo TheSlot.com.br
Para personalidades importantes da NHL, Brian Leetch foi o defensor que mais se aproximou de Bobby Orr.

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Nenhum outro gerente geral está há tanto tempo no poder quanto Lou Lamoriello, que desde 1987 gerencia o New Jersey Devils.

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Página publicada em 11 de novembro de 2009.