Por: Marco Aurelio Lopes

Passadas menos de duas semanas na nova temporada da NHL, nem o mais pessimista torcedor do Toronto Maple Leafs (ou se preferir, o mais otimista torcedor de qualquer outro time canadense) imaginaria que o time da "Nação Leaf" estaria vivendo seu pior início de temporada da história da equipe — história essa de mais de 90 anos. Um mísero ponto, conseguido em uma derrota na prorrogação para o arquirival Montreal Canadiens na abertura da temporada e só. O ápice (até agora) da futilidade dos comandados de Ron Wilson foi a acachapante derrota por 7 a 2 para os Rangers, com direito a dois gols do carrapato Sean Avery (e olha que você terá dificuldade em achar outro jogo onde ele tenha repetido o feito).

Quando você leu o Guia da Temporada de TheSlot.com.br, viu que o gerente Brian Burke, conhecido por montar bons elencos em Vancouver, além de ter moldado o Anaheim Ducks de forma a levá-lo a um título inédito, tinha por objetivo reconstruir o elenco em Toronto, retomando sua credibilidade, e prevendo que os Leafs em breve poderiam voltar a brigar por um retorno às Finais da Copa Stanley, e que o título poderia voltar ao lado azul de Ontário em alguns anos. Afinal, embora sendo um controverso e polêmico personagem da liga, sua competência já havia sido demonstrada anteriormente. Junto com Wilson, o que faltava era montar um elenco competitivo. Mas até aqui o plano não vem dando certo. Vamos fazer um breve apanhado dos motivos que têm levado os Leafs à lanterninha da temporada até agora (ao lado dos Islanders, o único time sem vitórias).

Equipes desesperadas tendem a tomar decisões precipitadas, ainda mais em uma cidade que vive para sua equipe, onde a pressão por resultados é enorme, como os Yankees de New York no beisebol, ou os Cowboys de Dallas no futebol americano (com a diferença que essas equipes conquistam títulos). Já nas temporadas passadas o gerenciamento dava sinais de incompetência, ao investir fortunas em jogadores medianos como Martin Gerber, Jeff Finger, baseados em uma boa temporada, ou "renegados" como Mikhail Grabovski, Ryan Hollweg, entre outros, que com certeza não fariam dos Leafs ameaça às potências da NHL. A chegada de Burke no meio da temporada passada sinalizava-se como o sopro de mudança que Toronto precisava. Desse jeito, a temporada 2009 acabou servindo mais para fazer uma limpa no elenco, como uma entressafra para 2010, onde Burke teria controle completo sobre as operações da equipe, podendo montar o elenco do seu jeito, sabidamente baseado em força física (leia-se agressividade) tanto na defesa como no ataque.

Já no recrutamento, Burke tentou das suas ao buscar algo maior que sua quinta escolha, na perseguição à torre sueca Viktor Hedman. Mas o preço seria nada menos que Luke Schenn, badalado garoto que vem sendo preparado para ser o líder dos Leafs em um futuro próximo. Se Burke não abriu mão de Schenn, ponto para ele. No entanto, acabou dando ao jovem uma pressão extra ao deixar claro que ele era o pilar da reconstrução do time, um time que já vive diariamente com pressões. Não ajudaram também as distrações envolvendo uma possível negociação de Tomas Kaberle, defensor mais técnico da equipe, o líder da defesa, mas cujo tempo em Toronto parecia ter passado. Ofertas não apareceram, ou não agradaram, Kaberle ficou, mas a intenção de negociá-lo evidenciou que ele não parece ter o mesmo prestígio.

No mercado de agentes livres, a grande chance de trazer nomes de peso para uma franquia que deveria ser um sonho para qualquer jogador. O primeiro golpe foi tirar dos rivais de Montreal o valorizado Mike Komisarek, e os Leafs pareciam no caminho certo. A chegada do vigoroso Garnet Exelby de Atlanta, e de François Beauchemin (que havia sido destaque no título dos Ducks, sob a tutela de Burke), só fizeram aumentar a expectativa em torno dos Leafs, que agora contavam com uma defesa de respeito. Se no gol o único nome que restava era o do questionadíssimo Vesa Toskala, a contratação do “Monstro” Jonas Gustavsson, desconhecido na América mas com enorme reputação na Europa animou a torcida, que sabia que em pouco tempo teria um goleiro de verdade.

Entretanto, parece que esses reforços cegaram a direção da equipe, que não se preocupou em reforçar o ataque da mesma forma. Embora a aquisição de Phil Kessel possa dar um alento ao time, o preço pago foi alto e o jogador acabou sendo o único reforço de peso (a menos que você queira considerar o pugilista Colton Orr nesse patamar). E quando a solução parecia estar em casa, com o talentoso Nazem Kadri arrebentando na pré-temporada, eis que o recruta de primeira rodada acabou sendo enviado ao London Knights da Liga Júnior de Ontario. Assim, a responsabilidade de liderar o time ofensivamente novamente caiu nos ombros de Jason Blake, Matt Stajan, entre outros. Embora o promissor novato Viktor Stalberg tenha conseguido uma vaga de titular no elenco, a esperança é mesmo a recuperação de Kessel para que este marque os gols que o time precise.

Com este cenário nebuloso a temporada começou. Toronto e Montreal, duas equipes tradicionais mas bastante alteradas, e com a mesma expectativa de todos os anos. No gelo, o que se viu foi uma prévia das dificuldades que os times terão. No caso dos Canadiens, ainda podemos dar um crédito, afinal o time foi bastante modificado, inclusive no comando, o que sempre exige um tempo de adaptação. Mas para Toronto, a coisa parecia pior, já que os mesmos erros do passado, com a mesma base da equipe do ano passado, se repetiam. Houve aqui na redação quem comparou esse jogo a um Fluminense x Botafogo (embora sem citar quem seria quem, e também não procurei saber...). Mas o fato é que a sobrecarga em cima de Schenn e os erros de Beauchemin (que não parecia nem de longe o mesmo de Anaheim), somados à inconstância notória de Toskala, e a falta de poder de fogo do ataque, liderados pelos esforçados Stajan, Alexei Ponikaroviski, Grabovski, John Mitchell, Jason Blake e outros ainda menos famosos, mostra que o planejamento não parece ter sido executado da melhor forma. Assim, a derrota no tempo extra para os Habs na estreia foi o primeiro sinal de alerta.

O segundo veio dias depois, quando Ovechkin e os Capitals não deram a menor chance à decantada defesa dos Leafs, montada justamente para parar ataques explosivos como os de Washington. A derrota por 6 a 4, isso depois do placar mostrar sonoros 6 a 1 ao final de 40 minutos não ajudou nem a Gustavsson, que pela primeira vez atuava em substituição a Toskala, e foi logo bombardeado com 3 gols em 19 chutes. Gustavsson foi titular contra Ottawa, o que não adiantou muito, pois uma nova derrota acabou levando os Leafs à 15.ª colocação da Conferência Leste. Para piorar, o Monstro sofreu uma lesão que levou Ron Wilson a contar novamente com Toskala no gol. Com os ofensivos Penguins e Rangers na agenda, o panorama era sombrio.

E assim foi, um time que começa mal a temporada, acaba apelando em certos momentos, ainda mais quando a "estratégia" é a intimidação e a agressividade resultando em penalidades. E quando as equipes especiais também não ajudam, o que se vê é o adversário marcando em vantagem numérica, como Pittsburgh fez três vezes e New York mais duas. Os Leafs definitivamente não aprenderam também nesse ponto, já que desde 2008 são o pior time da liga matando penalidades, e caminha para manter a hegemonia neste quesito por mais um ano. Com o agravante que este Leafs é em tese mais agressivo, ou ao menos tenta ser, já que atualmente a agressividade está mais para indisciplina, o que tradicionalmente pautou as equipes de Burke. Regra que a NHL pós-locaute não tolera mais.

O fato é que passados cinco jogos, velhos erros estão sendo evidenciados. Indisciplina com as seguidas penalidades desecessárias cometidas, defesa pesada que não defende, não tem saída para o ataque (apenas Kaberle parece ter essas características no elenco), e que joga a responsabilidade em um jogador na sua segunda temporada, um goleiro que não inspira confiança alguma, um ataque que não assusta, equipes especiais que não marcam quando tem jogador a mais e que cedem gols quando tem jogador a menos. A realidade é que o Toronto Maple Leafs versão 2010 até agora não justificou o título de um novo time, já que no gelo o que se vê é uma cópia do time desinteressado de 2009 (o que foi evidenciado especialmente em New York), e a continuar nessa toada, o plano de Brian Burke poderá ser considerado um fracasso, e ser repensado com muita antecedência. Ou, conforme a torcida espera, que Phil Kessel faça valer o investimento pesado em cima dele e devolva os Leafs aos playoffs depois de quatro temporadas. E subitamente Burke será o novo gênio em Toronto.

Marco Aurelio Lopes não ganhou presente no Dia das Crianças.

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Luke Schenn: talento ele tem. Mas está pronto para ser o líder dos Maple Leafs?
(01/10/2009)

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Coulton Orr, o novo pugilista dos Leafs. Curiosamente, um dos únicos reforços para o ataque de Toronto. Então tá.
(01/10/2009)

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Desconfiança, teu nome é Vesa Toskala. Abre o olho, rapaz...
(10/10/2009)

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... Por que o Monstro está chegando. Jonas Gustavsson está louco para assumir o posto de numero 1 no gol azul.
(06/10/2009)

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Mais um dia, mais uma derrota. A triste sina deste início de campanha em Toronto. Os adversários só comemoram.
(12/10/2009)

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Página publicada em 14 de outubro de 2009.