Por: Thiago Leal

Semana passada um erro foi cometido em TheSlot.com.br. A capa não foi para a derrota do Boston Bruins. Aliás, pouco destaque foi dado à queda dos ursos pardos de Massachusetts. E da mesma forma que os Sharks mereceram todo o reconhecimento diante da sua derrota para os Ducks, os Bruins deveriam ter recebido o foco principal aqui, afinal, os caras foram líderes no Leste e, na prática, eram o melhor time da NHL já que, a meu ver, os Sharks eram mero engodo (e se você gosta de biologia marinha como eu, certamente entendeu o trocadilho).

Não que a eliminação do Boston tenha sido esquecida pela revista. De modo algum. Marco Aurélio Lopes dissecou a série em seu Diário do Torcedor sensacional, enquanto Marcelo Constantino dedicou alguns ótimos parágrados aos Bruins, em uma coluna que tratava da classificação dos Hurricanes, Blackhawks e Penguins.

Os textos são ótimos, e aconselho que se você ainda não tiver lido, tire o atraso e abra os links. Só que eu queria ter lido mais sobre os Bruins na edição passada. Queria inclusive ler um texto meu mesmo, e nem isso rolou. É que com a empolgação da série entre Wings e Ducks e da rivalidade pessoal de Sidney Crosby com Alexander Ovechkin, o foco principal da revista acabou dividido, e nenhuma parte dele atingiu em cheio o acontecimento mais revelante, que foi a derrota dos Bruins. Tudo bem que os Canes tiveram seus méritos e venceram a série com louvor, principalmente por causa dos seus triunfos no Berço da Liberdade, Boston. Mesmo assim, isso não me convence de que não foi uma série de vencedores, os Canes. Foi uma série de perdedores. Os Bruins.

Entendam que estamos falando da eliminação de um time que marcou 274 gols e tomou apenas 196 na temporada regular. Tratava-se do segundo melhor ataque e da melhor defesa disparada da NHL. O Boston era o verdadeiro favorito à Copa Stanley 2009. O "revival" da franquia foi comentado na revista, enquanto seu confronto contra os Sharks, um duelo de líderes, foi contemplado como o melhor jogo da temporada. Até mesmo a troca de Joe Thornton, criticada quando realizada, foi novamente abordada pela revista, ganhando desta vez elogios. Sim, os Bruins estavam com tudo rumo à decisão da Copa, pelo menos conforme todos esperavam. Receberam na primeira rodada seu arqui-rival Montreal Canadiens e passaram, fato que não ganhou todo destaque que deveria — Alessander Laurentino fez um bom trabalho abordando a série em detalhes, mas sua ausência na edição 229 deixou os comentários sobre sua conclusão restritos aos colunistas que abordaram um pouco de cada série. A meu ver os Bruins mereciam mais que isso.

Principalmente depois de eliminados pelos surpreendentes Hurricanes.

Talvez tenhamos poucos torcedores do Boston no Brasil — e poucos leitores também. Você é torcedor dos Bruins? Me escreva, para dizer o que achou das linhas a seguir.

Derrocada
Não vou dissecar os acontecimentos da série porque eles já foram suficientemente abordados na semana passada. Em termos técnios, a derrota dos Bruins para os Canes já foi devidamente comentada. Podemos passar rapidamente os fatos para que o leitor que tenha entrado diretamente aqui, sem ter acompanhado os acontecimentos a finco, entenda mais ou menos a situação.

Os Bruins passaram em primeiro lugar no Leste, sendo segundos na NHL em geral. Caso chegassem à Copa Stanley, só não teriam mando de gelo caso enfrentassem o San Jose Sharks. E na primeira rodada, encararam os seus grandes rivais Canadiens. Não tomaram conhecimento dos Habs e os varreram, 4-0, com vitórias amplas (4-2, 5-1, 4-2 e 4-1). O destaque da série? Phil Kessel. Do outro lado da chave, num duelo de goleiros, o Carolina Hurricanes eliminava o New Jersey Devils, campeão da Divisão do Atlântico, e se qualificava para encarar os Bruins.

Na série semi-final, os Bruins confirmaram o favoritismo e bateram os Canes por 4-1. Até aí tudo bem. Mas, em casa, tomaram um shutout de 3-0 no segundo jogo, e perderam as duas partidas que fizeram visitando o Carolina. Tomavam 3-1 na série e muitos acreditavam que seriam eliminados logo no jogo 5 ou 6. Surpreendentemente (quem diria, a surpresa mudou de endereço...), venceram ambos, e bem: 4-0, um shutout em casa, e 4-2 na Carolina do Norte. A moral voltou aos Bruins, que com a reação poderiam facilmente vencer a série em casa. Byron Bitz pôs os Bruins em vantagem no primeiro, os Canes viraram no segundo e Milan Lucic empatou no terceiro. Vamos à prorrogação. A menos de dois minutos do final da primeira, Scott Walker marcou o gol vencedor da série.

E dá para dizer que, assim como no caso dos Sharks, os Bruins foram eliminados porque aqui os principais nomes decisivos da equipe sumiram na hora da responsabilidade. Principalmente Chara e Thomas.

Saldo
Tem coisas mais dolorosas que perder um jogo. Tony D'Amato, personagem de Al Pacino no filme Um Domingo Qualquer, costumava dizer, citando seu falecido patrão Art Pagniacci, antigo dono do Miami Sharks, que, "num domingo qualquer, ganhe ou perca, desde que ganhe como homem ou perca como homem". Talvez tenha doído nos Bruins o fato da franquia não ter perdido como homens — ou pelo menos não tão homens quanto supostamente deveriam ser. A vitória do Carolina foi totalmente incontestável. E as duas vitórias dos Bruins, nos jogos 5 e 6, chegaram a ser surpreendentes, como eu mesmo citei no parágrafo acima. Porque realmente era de se esperar que os Hurricanes matassem a fatura no jogo 5 ou 6. Não porque até ali eles tinham vencido três jogos e as estatísticas mostram que quem vence um número x de jogos nunca perde, mas por virem sendo bem melhores que os Bruins na série.

Tim Thomas não foi tão decisivo quanto vinha sendo, inclusive na temporada regular, mesmo tendo conseguindo um shutout. O muro que ele formava com Zdeno Chara definitivamente foi destruído pelos Hurricanes. A intensidade do jogo dos Bruins também diminuiu e isso contribuiu para a derrota.

Mas como eu disse, não analisaria dados técnicos.

Os Bruins viveram nesta temporada sua melhor fase em décadas. Podemos dizer que este foi o melhor desempenho da franquia desde sua última decisão de Copa Stanley, em 1990, perdendo para os Oilers. A última vez que os Bruins passaram da peimeira rodada dos playoffs foram em 1999. E até aqui, sua última participação tinha acontecido em 2004. Ver os Bruins voando na temporada foi como relembrar os anos 70. Foi uma temporada para empolgar uma torcida que, nos últimos anos, viu todos os "concorrentes" dos Bruins, o Boston Red Sox (MLB), o New England Patriots (NFL) e o Boston Celtics (da outra liga) vencerem campeonatos, e certamente achava mais interessante pagar para ir ver os Celtics jogarem hip-hop ball de que para ver os Bruins tomarem cacete do Tampa Bay Lightning.

Um saldo positivo da temporada, então, foi ver uma nova realidade em Boston. O que, nem de longe, diminui o saldo negativo da derrota. Principalmente do jeito que ela aconteceu.

Outra coisa que a temporada pode animar é no número de jogadores jovens que vêm se densenvolvendo bem. Bitz, Hunwick, Kessel, David Krejci, Milan Lucic, Blade Wheeler... se isso não acontecesse logo, certamente preocuparia, uma vez que PJ Axelsson e mais alguns jogadores importantes para a franquia, como Zdeno Chara ou Tim Thomas vêm envelhecendo. Mas vale salientar que boa parte dos jogadores com idade adiantada, como Manny Fernandez, Shane Hdiny, Mark Recchi ou Aaron Ward não são velhas caras da franquia. Todos foram adquiridos de pelo menos cinco anos para cá. Bitz, Hunwick, Kessel, Krejci, Lucic e Wheeler , por outro lado, são jovens se desenvolvendo em Boston e a temporada mostrou que os Bruins devem desenvolver bons jogadores para o futuro.

Não é impossível sonhar com a Copa mais para frente. Mas é bom perceber que alguns desses nomes, a exemplo de Kessel, Krejci e Bitz, estão tornando-se agentes livres restritos e devem ter salários renegociados para ficarem em Boston. E é desses caras o futuro da franquia.

É tão importante quanto a renovação a não-renovação com os agentes livres irrestritos. Me refiro a Axelsson, Recchi, Stephane Yelle, Hdiny, Steve Montador e Fernandez. Dá para extrair de saldo aqui também que os Bruins chegaram onde chegaram com a garotada. E é nela que o dinheiro tem que ser investido.

Dá para sonhar com uma grande temporada em 2009-10? Dá. Mas não tão boa quanto 2008-09. Esta temporada foi um momento único, com grandes atuações de nomes como Chara, Thomas, Recchi, Michael Ryder e Marc Savard. Não dá para esperar o mesmo rendimento deles na temporada que vem. Não que isso não possa acontecer. Só não é seguro contar apenas com isso.

O que mais temo é que essa temporada regular me pareça ter sido um momento único de brilho dos Bruins, embora o desempenho de Krejci, Kessel e compainha tentem provar o contrário. Espero que eu esteja errado e ele certo.

ERRATA: Também cometi um erro! A cena de Rocky Balboa que citei no início do artigo A Vitória é Outra? da edição passada não se refere ao final de Rocky, e sim Rocky II.

Thiago Leal lê e recomenda a revista National Geographic.
Elsa/Getty Images
Tim Thomas falhou quando não podia falhar.
(14/05/2009)

AP
Decepção total em Boston.
(14/05/2009)

AP
O capitão Zdeno Chara se retira. Essa cena deve ter acontecido antes da série contra os Hurricanes.
(18/05/2009)
AP
Phil Kessel está saindo de férias. Os fãs esperam que ele volte na pré-temporada, trazendo consigo o seu talento.
(18/05/2009)
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Página publicada em 21 de maio de 2009.