O Atlanta Thrashers existe desde a temporada 1999-00. Em sua curta história de vida dois nomes de destacam entre os demais.
Don Waddell é o único gerente geral que a franquia já teve, ocupando o cargo há quase dez anos, sendo o responsável direto por todas as atividades dos Thrashers. Tão responsável que em dois períodos distintos tornou-se o técnico do time, comandando os jogadores por 86 jogos enquanto acumulava os dois cargos.
Ilya Kovalchuk é o melhor jogador que já vestiu a camisa da equipe. Selecionado com a primeira escolha do recrutamento de 2001, o russo disputou quase 500 jogos, com média exata de um ponto por jogo. É o recordista da franquia em jogos, gols, assistências, pontos, gols em vantagem numérica, gols da vitória e chutes a gol, ou seja, ele é o time.
Até hoje Waddell e Kovalchuk estiveram do mesmo lado, mas esta relação tem data para acabar. Só não se sabe ainda quem arrebentará a corda primeiro.
O contrato de Kovalchuk expira após a temporada 2010 e ninguém imagina que ele possa continuar em Atlanta, tanto que a imprensa local já especula sobre uma possível transferência.
Mark Bradley, de The Atlanta Journal-Constitution,
sugere que Waddell negocie o russo imediatamente. Segundo ele, Kovalchuk tem jogado como alguém que gostaria de estar em algum outro lugar. O atacante teve média de 42 gols por temporada nas últimas seis campanhas, mas na atual está a caminho de marcar apenas 28, pouco mais da metade do que marcou em 2007-08 (52). Em 26 jogos nesta temporada Kovalchuk somou 26 pontos, mantendo a produção que caracterizou a sua carreira em Atlanta.
Ninguém pode culpá-lo. Os Thrashers não foram competitivos em quase toda a sua história e Kovalchuk enfiou discos na rede para vencer jogos para o time, o que remete a uma questão intrigante: em sua oitava temporada na equipe, por que Kovalchuk não é o capitão? "Eu não estou aqui para ser 'o cara' da franquia ou algo assim," respondeu o próprio.
Em um jogo recente contra o Montreal Canadiens, o russo foi rebaixado pelo treinador John Anderson para a linha 4, a linha de combate, geralmente formada por quem não consegue manusear o taco e patinar ao mesmo tempo. Que espécie de tratamento é esse dispensado ao craque do time?
Quem defende a troca imediata de Kovalchuk afirma que ele quer jogar por um time realmente competitivo, que não está feliz com a direção da equipe e que o Atlanta não tem como piorar sem o craque, o que não deixa de ser verdade para quem ocupa a penúltima colocação na liga. Diante da impossibilidade de renovar o contrato do jogador, não resta outra opção senão trocá-lo para conseguir o máximo retorno em cima do ídolo.
Mas primeiro os Thrashers precisam decidir se Waddell é o homem ideal para arquitetar a (potencial) maior negociação da história da franquia.
Waddell está há tempo demais por trás da organização sem, contudo, fazer progresso. A duas temporadas atrás, na única classificação dos Thrashers aos playoffs, a equipe foi varrida na primeira rodada pelo New York Rangers. No ano passado, a campanha de 34-40-8 foi a terceira pior da liga, boa o suficiente para recrutar o promissor Zach Bogosian.
Na atual temporada as nove vitórias em 26 jogos indicam que o Atlanta conquistou 40,4% dos pontos disputados. Se quiser disputar a pós-temporada terá que ganhar 73 dos 112 pontos ainda em disputa nos próximos 56 jogos, o equivalente ao aproveitamento de 65,2%. Apenas quatro times têm aproveitamento acima dessa marca atualmente: San Jose Sharks, Boston Bruins, Detroit Red Wings e Montreal Canadiens. Portanto, se os Thrashers jogarem como qualquer um desses quatro times eles estarão nos playoffs.
Isso não vai acontecer. Mais uma derrota para o histórico do gerente.
Waddell já esteve na situação de "ter que trocar" anteriormente. Em fevereiro passado, incapaz de convencer Marian Hossa a permanecer na organização, Waddell foi obrigado a negociá-lo para não perdê-lo a troco de nada no mercado de agentes livres. Os Thrashers receberam do Pittsburgh Penguins os atacantes Colby Armstrong e Erik Christensen, o prospecto Angelo Esposito e a 29.ª escolha no recrutamento, utilizada para selecionar o central Daultan Leveille.
Nesse período pós-Thrashers, Hossa disputou 38 jogos de temporada regular pelos Penguins e pelo Detroit Red Wings, marcando 18 gols e 39 pontos.
Pascal Dupuis, também envolvido na troca, permanece em Pittsburgh, onde acumula cinco gols e 17 pontos em 40 jogos. Juntos, Hossa e Dupuis marcaram 23 gols e 56 pontos considerando apenas os jogos da temporada regular.
Enquanto isso, em Atlanta, Armstrong e Christensen somaram 11 gols e 32 pontos desde então.
Naquela época já se sabia que Armstrong e Christensen não seriam máquinas de marcar gols ou fazer passes precisos. Waddell conseguiu o máximo retorno que a situação permitia, embora o principal atrativo do pacote, justamente os garotos Esposito e Leveille, ainda estejam a dois ou três anos de distância da NHL.
Duas temporadas atrás, em fevereiro de 2007, Waddell cometeu o maior equívoco de sua carreira quando trocou o promissor Braydon Coburn pelo veterano Alexei Zhitnik. Os Thrashers estavam próximos de sua primeira classificação aos playoffs mas escorregavam na reta final. O gerente tinha que fazer alguma coisa, porém tomou o caminho errado. Hoje Coburn é um dos principais nomes do Philadelphia Flyers e Zhitnik recebe mais de US$ 1,166 milhão por temporada no conforto de seu lar, após ter dois anos de seu contrato comprados pelo Atlanta.
Esse passado recente não credencia Waddell a ser o homem que vai negociar Kovalchuk e obter o máximo retorno em troca — algo como prospectos realmente bons, escolhas entre as primeiras do recrutamento e pelo menos um jogador pronto para a NHL.
A iminente saída do russo pelo mesmo motivo do adeus de Hossa demonstra que nada mudou no Atlanta. A torcida se pergunta se Kovalchuk será o último ou se outros jogadores serão leiloados pela incompetência da franquia. Talvez seja mais eficaz trocar o gerente, o maior responsável por toda essa triste situação.