Antes
do começo da temporada havia um quase consenso na liga: o Detroit
Red Wings seria um dos times mais abalados pelo novo Acordo Coletivo
de Trabalho. Time com uma das mais altas folhas salariais da liga
nos últimos anos, os Red Wings sempre gastaram tubos de dinheiro
para conseguir montar um grande time, montando quatro fortes linhas.
Com a restrição orçamentária imposta, seria difícil para o time
manter o padrão. O declínio era certo.
Além disso, tinha um elenco já pesando na idade, com dois quarentões
— Chris Chelios e Steve Yzerman — e um Brendan Shanahan
na curva descendente da carreira. A aposta seria na dupla em ascensão
Pavel Datsyuk e Henrik Zetterberg. Estrela mesmo, no auge da carreira,
somente Nicklas Lidstrom.
No gol, nada mais daqueles tempos de três goleiros (Hasek, CuJo
e Legace) e uma montanha de dinheiro por eles. Restava o sempre
eficiente Manny Legace e, para ser seu reserva, o temeroso Chris
Osgood de volta.
Na defesa, antes da temporada começar, a equipe perdeu o jovem
valor Niklas Kronwall, no que deveria ser a verdadeira estréia
dele na NHL. Mais tarde perdeu Jiri Fisher, então o melhor jovem
talento do setor no time. O que fazer? Tiveram de recorrer ao
quarentão Chris Chelios. Surpresa: aos 44 anos de idade, Chelios
joga mais que boa parte dos defensores com metade da sua idade.
Havia também uma expectativa generalizada de que a profundidade
da equipe seria abalada, já que não haveria condições de abrigar
todo aquele leque de estrelas. Jogadores menos cotados e mais
baratos — Mikael Samuelsson, Andreas Lilja, Brett Lebda,
Dan Cleary, Johan Frenzen e Jason Williams — preencheriam
o espaço.
E o que aconteceu? O time seguiu rolando as quatro linhas, os
desconhecidos preencheram muito bem os espaços, superando expectativas.
Samuelson é uma das mais gratas surpresas da NHL na temporada,
Franzen chegou a comer muito do espaço que era exclusivo de Kirk
Maltby. Williams finalmente estourou, caindo nas graças do treinador.
Lebda e Lilja supriram as necessidades defensivas, apesar de tropeços
aqui e ali, característicos de defensores jovens. No fim das contas
a profundidade segue como característica marcante da equipe: são
nada menos que oito jogadores com 20 ou mais gols. Dentre eles
estão Samuelsson e Williams.
O resultado é esse: os Red Wings são os melhores da temporada
da NHL, campeões do Troféu dos Presidentes, concedido ao time
com mais pontos.
É bem verdade que cerca de 30% dos jogos foram contra adversários-sparring,
os lamentáveis rivais de divisão Chicago, St. Louis e Columbus.
Isso relativiza, sem dúvida alguma, o sucesso dos Red Wings, mas
não apaga o brilho do time ter chegado em primeiro geral quando
todos acreditavam no seu declínio.
Conforme os Rankings da Slot, o Detroit é um dos times com mais
vitórias sobre adversários com aproveitamento superior a 50% (contabilizados
semanalmente). À frente estão apenas o Ottawa, Calgary e San Jose.
Ou seja, ainda que tenha jogado mais vezes contra times horrorosos,
quando jogou contra os grandes, também foi eficiente.
Lidstrom está cotado para vencer mais um Norris, enquanto Mathieu
Schneider, conhecido por suas habilidades ofensivas, está entre
os líderes em +/- da liga. Legace está entre os cinco goleiros
com melhores números na temporada. Shanahan, aquele da curva descendente,
aos 37 anos, faz sua melhor temporada com os Wings desde sua primeira
com o time. Thomas Holmstrom faz a melhor de sua carreira. Datsyuk
lidera o time em pontos e Zetteberg é tido como o mais versátil
jogador da equipe. Sequer há como apontar decepções no elenco.
O capitão Steve Yzerman merece um capítulo à parte. Enquanto Brett
Hull jogou a toalha no começo, Mario Lemieux decidiu parar no
meio, Dave Andreychuk foi largado pelo seu próprio time e Luc
Robitaille saiu correndo atrás do bonde que já tinha passado há
algum tempo, Yzerman foi melhorando ao longo da temporada. O longo
tempo sem jogar parece ter rejuvenescido o quarentão, que veio
evoluindo até estourar agora no fim. Jogando de asa, com menos
tempo de jogo, sem matar penalidades e na segunda linha de vantagem
numérica, ele vai liderar o time na sua 20ª pós-temporada da carreira.
Com um considerável histórico de contusões em época de playoffs,
Yzerman pode agora, quando poucos apostariam em qualquer coisa
próxima ao que ele vem jogando, levantar a Copa Stanley mais uma
vez.
Eu lembro de uma revista de hóquei que li um pouco antes dos playoffs
de 1997. Lembro que o articulista, descrente em relação aos Wings,
duvidava que o "cara bacana" (good guy, como o artigo chamava
Yzerman) alguma vez na vida levantaria a Copa Stanley. Hoje em
dia especula-se se ele levantará pela 4ª vez. Steve Y é espelho
dos Wings.
Se o time vai longe nos playoffs, não se sabe. Pode ir, como pode
ser eliminado na primeira rodada. O fato é que, na temporada,
o Detroit demonstrou sua supremacia. Foi o 5º Troféu dos Presidentes
em 11 temporadas.
Marcelo Constantino vai encarar pela primeira vez os playoffs
da NHL sem jogos para assistir na TV. Viva o rádio!
SUPREMACIA
Cinco vezes líder da NHL em 11 temporadas,
eis a supremacia do Detroit Red Wings.
(Dan Mears/Detroit News - 23/03/2006)
NORRIS Nicklas
Lidstrom vive a expectativa de conquistar mais um Troféu
Norris, como melhor defensor da temporada.
(Icon SMI/Corbis - 15/12/2005)
REJUVENESCIDO
O capitão Steve Yzerman, 40 anos de idade,
jogando como um garoto na segunda metade da temporada, espera
levantar a Copa Stanley pela quarta vez.
(Jeff Kowalsky/epa/Corbis - 06/12/2005)