Quatro de cem é pouco, não importa sobre o quê se es-teja falando. Quando se está falando de vantagens nu-méricas na NHL, então, é um desastre completo.
E "desastre completo" foi, talvez, a definição mais simpá-tica que as equipes de vantagem numérica dos Devils re-ceberam nos últimos tempos, graças à produção acima mencionada, de quatro conversões em cem tentativas com um homem a mais no gelo. As coisas melhoraram li-geiramente na semana passada, quando, em dois jogos (e 18 tentativas), o time conseguiu tantos gols quanto
nos 14 jogos anteriores.
Mas só ligeiramente, mesmo, porque a coisa ainda está feia, com uma produtividade de 6,78% desde que a seca começou. Aliás, a coisa não está feia apenas na vantagem numérica. Com 11 derrotas nos últimos 14 jogos, quase tudo vai mal na região dos pântanos: nesses 14 jogos, a única vez que o time marcou mais de três gols foi contra os Capitals, atualmente a pior defesa da liga. Na última quinta, conseguiu perder para os Penguins, vindos de seis derrotas consecutivas e 12 nos 13 jo-gos anteriores. De nada adiantou ter disparado 46 chutes contra o gol adversário, uma clara mostra de que a pontaria não vai bem.
A defesa
vai um pouco melhor, considerando-se que cinco das derrotas dos comandados de Lou Lamoriello foram por um gol de diferença, mas isso só serve para destacar a inoperância da vantagem numérica. É, os gols em vantagem numérica estão fazendo muita falta.
Lamoriello, gerente geral e técnico
interino da equipe, disse a jornalis-tas na semana passada que está tentando dar uma chacoalhada no ti-me. Normalmente, ele comenta menos sobre movimentações do que deputados brasileiros sobre trabalho, por isso já surgiram especulações a respeito de nomes como Bryan Berard, dos Blue Jackets, e Dick Tarnström, dos Penguins.
Os Devils construíram sua reputação vencedora com base num estilo construído com solidez na defesa. E agora estariam considerando "me-lhorar" o time
com jogadores eficientes no ataque, mas considerados fracos na defesa? Seria isso um sinal de pânico?
Outra opção
seria Scott Young, do St. Louis, um ponta de origem, mas com vasta experiência em comandar equipes de vantagem numérica a partir da linha azul. Nesta era de teto salarial, ele é muito mais convi-dativo que Berard ou Tarnström.
Quem os Devils cederiam em troca, em qualquer caso, é uma incógnita. Em Nova Jersey, mesmo, circularam boatos de que a moeda de troca seria o goleiro Martin Brodeur, talvez o commodity de maior valor que os Devils tenham à disposição, mas é difícil acreditar que eles estejam dispostos a correr o risco de perder o goleiro mais vitorioso da história da franquia.
"As pessoas que [inventam esses boatos] deveriam se informar que eu tenho uma cláusula que proíbe trocas em meu contrato e que não te-nho intenção alguma de sair daqui", reclamou Brodeur ao jornal Toronto Sun. "Por que eu iria querer sair? Meus filhos vão à escola aqui, tenho raízes aqui, tenho família aqui, tenho uma casa aqui e eu gosto daqui. Depois do sucesso que tive aqui, ganhei o direito [de uma cláusula anti-trocas]."
Há ainda uma opção que não exigiria nenhum jogador em troca: Patrik Elias, artilheiro do clube em 2003-04, com 83 pontos, está prestes a voltar
ao time, depois de se recuperar de uma hepatite A que ele con-traiu enquanto jogava na Rússia, na temporada passada. A doença deixou-o fora do gelo desde antes de a temporada começar. Na sema-na passada, inclusive, ele ficou na base direita da vantagem numérica durante um treino, devotado única e exclusivamente à vantagem nu-mérica.
Ainda não há data estipulada para o retorno de Elias. Durante a sema-na passada, foi divulgado que ele voltaria contra os Penguins e, de-pois, que a volta se daria em Toronto, no sábado. Nenhuma das pre-visões se confirmou. Voltando nesta semana ou não, ele já notou — e quem não teria notado? — os problemas que o time tem enfrentado quando está com um jogador a mais no gelo: "Bom. Eu vou ter um lugar quando estiver pronto."
Quem sabe até Elias não consegue fazer Scott Gomez pegar no tranco. Até aqui, Gomez está jogando burocraticamente. Os 33 pontos que conseguiu em 39 jogos não refletem suas atuações apagadas (curiosa-mente, mais da metade de seus pontos vieram em vantagem numéri-ca). No último sábado, é verdade, jogou bem e marcou um hat trick, mas o resto do time não colaborou, e o jogo terminou com uma derrota feia frente ao Toronto, por 6-3.
Se ao menos o problema da vantagem numérica for resolvido, Lamoriello poderá se dedicar à tarefa mais urgente na sua lista de prio-ridades: achar um técnico de verdade para o lugar que está ocupando interinamente desde a saída de Larry Robinson.
De acordo com o jornal Ottawa Sun, o principal candidato é Robbie Ftorek, que já treinou o clube e hoje cuida do time de baixo, o Albany River Rats. Entre os técnicos que se supõe estarem no páreo, desta-cam-se Brent Sutter, técnico da seleção canadense, que não parece muito disposto a deixar o Red Deer Rebels, da WHL, e o ex-técnico do Detroit Dave Lewis, vice-campeão no comando, ao lado de Marc Habscheid, da Copa Spengler com uma "seleção" canadense. O jornal New York Post ainda sugeriu o nome de Paul Maurice, ex-técnico do Carolina.
É, definitivamente a vida já foi mais fácil nos pântanos de Nova Jersey!
Alexandre Giesbrecht, 29 anos, acaba de adquirir um livro maravilhoso da Sports Illustrated sobre futebol americano e agora fica imaginando como seria um igual, mas de hóquei.