Quando as coisas não vão bem, sempre procuramos apontar os responsáveis e, utilizando uma linguagem vulgar, tirar o nosso da reta. Esta é uma verdade tão antiga quanto a própria humanidade, quase chegando a ser tão remoto quanto o inoxidável Chris Chelios. Com o New York Islanders em sua mais recente crise não seria diferente. A torcida aponta para o imperecível gerente geral Mike Milbury e sua histórica falta de discernimento para negociar contratos, trocas e tudo mais que um gerente geral tenha que fazer. Já Milbury aponta para o treinador Steve Stirling, por este ter perdido o controle sobre seus comandados. Stirling, por sua vez, credita ao capitão Alexei Yashin boa parcela da culpa pelas recentes derrotas. Já Yashin não aponta para ninguém, pois tem muita grana para gastar e não tem tempo para a caça às bruxas. Os jogadores, em especial os veteranos, como Brad Lukowich e Alexei Zhitnik, mostram-se insatisfeitos com Stirling por suas críticas em público ao grupo de atletas. O dono, Charles Wang olha torto para o fato de que por apenas duas vezes a torcida encheu o Nassau Coliseum nesta temporada. Enfim, o desalinho está instaurado na franquia.

Por isso, a TheSlot.com.br mergulhou nesse profundo e turvo oceano de intrigas que vem banhando Long Island e analisou brevemente os personagens principais desse dramalhão. Vamos por ordem hierárquica. E, depois, alguns fatores que contribuíram para as cinco derrotas nas últimas cinco partidas da equipe. Uma delas por meia dúzia de gols e em casa, para os Rangers. E três delas após obter vantagem de dois gols no placar.

Charles Wang: o dono ausente

Cansados de investir em pastel e caldo de cana e de propagar mercadoria de qualidade duvidosa em todo o território nacional, os chineses agora tentam dominar a mais prestigiosa liga de hóquei, a NHL. E começaram com os Islanders, cujo proprietário é o ex-executivo da Computer Associates Charles Wang. O discípulo de Mao Tsé-Tung já admitiu que não manja muito de hóquei — manter Milbury é a prova cabal disso. Mas a quantidade de trapalhadas do GG do time foi tanta nesses cinco anos de convívio entre Wang e Milbury que o chinês teve que abrir, mesmo que com extrema dificuldade, seus cerrados olhos para a realidade e propôs a Mike não negociar mais os jovens talentos da equipe. Então, se Milbury obedecer às ordens de Wang, a torcida não verá seu time entregar ótimos valores como Trent Hunter, Petteri Nokelainen, Robert Nilsson, Chris Campoli e Mattias Weinhandl. Nem trocar veteranos decadentes ou supervalorizados no mercado. Isso é um bom início, já que Wang precisa realmente agir como dono do time.

Mike Milbury: o gerente (?) geral

Se fôssemos fazer uma lista de todas as trapalhadas deste indivíduo, teríamos que dividir a tarefa em fascículos. Além disso, o sujeito é um descarado cara-dura e balbuciou que não estava nada feliz com sua equipe após a mesma ser goleada por 6-2 pelos rivais mais odiados, o New York Rangers, na última semana de 2005. Como se não fosse ele o responsável pela manutenção do treinador e pelas contratações feitas no início da temporada. Ele ainda alertou, para temor instantâneo dos torcedores do time, que fará algo em breve. Foi durante uma sede de mudança ou imediatismo do senhor Michael James Milbury que a equipe recentemente perdeu grandes valores, como Roberto Luongo e Zdeno Chara, ou se desfez de escolhas preciosas que valeram a outras equipes jogadores da estirpe de Jason Spezza. A pergunta que não quer calar então é: por que, após uma década com muito mais fracassos que sucessos, Milbury segue como GG dos Isles? A resposta para essa questão, creio eu, nem mesmo o próprio Milbury sabe.

Steve Stirling: o treinador

Tem menos comando que diretor de escola pública localizada em entrada de favela. Chegou a assumir sua parcela de culpa, mas tem jogado sobre as estrelas do time — Yashin e Miroslav Satan — a maior parte da responsabilidade da recente série de derrotas. Brad Lukowich, jogador com Copa Stanley no currículo, já divergiu publicamente de Stirling e vice-versa. O mesmo aconteceu com o defensor Zhitnik. Outro fator que depõe contra ele é sua indecisão sobre as combinações de linhas. Elas mudam jogo a jogo, muitas vezes durante as partidas, fazendo com que a química praticamente inexista. Já tem gente em Long Island sentindo falta do ex-treinador Peter Laviolette. Pelo menos, Stirling teve a coragem de enviar Satan e Yashin para a quarta linha da equipe contra os Sens, para ver se os caras acordam, e também para deixar claro que não é por ser o mais bem pago jogador do elenco que Yashin poderá fazer o quiser no gelo.

Alexei Yashin: o capitão

Negar o talento de Yashin seria assinar um atestado de incapacidade mental, mas até hoje não encontro explicações viáveis de por que o russo já capitaneou duas equipes na NHL. Serei eu um idiota — não respondam — por achar que Yashin nunca foi um líder natural? Por exemplo, ele não pensou em sua equipe ao dar uma evitável enganchada no monstruoso Zdeno Chara, na partida do último dia 30 em Ottawa. Os Isles venciam por 3-2, mas, com Yashin no banco de penalidades e os fortíssimos Sens com um homem a mais no gelo, Peter Schaefer empatou, iniciando a reação dos locais, que acabaram vencendo por 4-3. Como punição pela penalidade estúpida, Stirling deixou Yashin de fora dos 16 minutos restantes da partida, o que significou um prazer quase sexual para a torcida do time da capital canadense, que considera Yashin o maior mercenário do universo.

Acomodação: inimiga da "nova" NHL

Na "antiga" NHL, se seu time estivesse perdendo por dois gols de diferença e com o terceiro período já aparecendo no horizonte, você já poderia "desligar" a Web Radio do site da NHL, porque a vaca já estava mais do que atolada no brejo. Era apenas o time com a vantagem abrir o manual Bobby Holik de como obstruir e enganchar para garantir os dois pontos. Agora, com os árbitros fazendo o que deveriam estar fazendo há tempos, nenhuma vantagem de dois gols está segura até o apito final. Então, nada de ficar cozinhando o tempo. Os Islanders deveriam saber disso, mas eles parecem dormir nos logros conquistados e se esquecem que uma partida de hóquei dura 60 minutos — em seu tempo regulamentar, é claro. Como já citei, das últimas quatro partidas de 2005, eles desperdiçaram vantagens de dois gols no marcador em três.

Equipes especiais

Se olharmos na tabela de aproveitamento, veremos que as equipes de vantagem e desvantagem numéricas do time se situam no meio termo. Nem tão boas nem tão catastróficas. Mas a coisa desandou em dezembro. Levaram gols em desvantagem numérica em nove jogos consecutivos — nada anormal na atual conjuntura — e tornaram-se a equipe que mais gols levou em casa nessas situações. Nas vantagens, a coisa também não foi muito bela de se ver. Na última partida, contra os atuais campeões Bolts, o time aproveitou apenas uma de oito oportunidades, chegando a desperdiçar algumas quando possuía dois homens a mais no gelo. Ah, nesse jogo, quando o time estava em vantagem numérica, Yashin cometeu outra penalidade desnecessária, o que, novamente, lhe rendeu um castigo por parte do treinador, ficando de fora do momento final da partida, quando os Islanders tentaram o gol de empate no desespero.

A que veio...

Brent Sopel, Janne Niinimaa e Alexei Zhitnik? Todos geraram muitas expectativas quando chegaram a Long Island, mas até agora a atuação dos três defensores tem beirado o conceito "muito ruim". Sopel nem de longe vem lembrando aquele bom defensor do Vancouver Canucks, e foram raras as vezes em que atuou bem pela sua nova equipe. Já o finlandês Niinimaa foi uma alternativa mais em conta para suprir as saídas de Roman Hamrlik e Adrian Aucoin. Mas o barato vem saindo caro. Contra os Rangers, Jagr e os tchecos do time pintaram a cara de Niinimaa.

Um rival pode mostrar o caminho

Por incrível que pareça, um exemplo a ser seguido é o de um odiado vizinho, que, até bem pouco tempo atrás, era sinônimo de inaptidão na liga. Portanto, seria bom os Islanders olharem para o que os Rangers vêm fazendo, já que os camisas azuis possuem uma equipe com apenas uma estrela — já formada —, alguns tchecos renascidos e dois novatos produzindo bastante, que compensam suas limitações com garra, entrega e concentração. Estando assim bem mais perto da pós-temporada que os Isles, que no momento está em 12.º lugar no Leste, a seis pontos do Montreal Canadiens, oitavo colocado. Time os Isles têm, até mais que os Rangers, mas, se as figuras destacadas acima continuarem em desarmonia e desfilando incompetência, a fase vai continuar negra para a equipe.


Eduardo Costa escreveu essa coluna na hora do almoço, e torce para que ela não tenha ficado tão ruim quanto as almôndegas consumidas minutos antes.
 
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INSUCESSO Mark Parrish tenta, sem sucesso, vazar Sean Burke. Ao fundo assentos vazios, o que reflete o atual momento da equipe (Paul J. Bereswill/Newsday - 02/01/2006)
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Página publicada em 4 de janeiro de 2006.