Torcedor dos Red Wings que se preze sempre espera que o time vença e faça uma ótima campanha, seja lá contra quem ou onde for, independente de como esteja ou quem vista a camisa da equipe.

O mês de novembro não foi nada agradável para a turma de Detroit. Sete vitórias, cinco derrotas e duas derrotas na prorrogação não era o retrospecto esperado da equipe que liderou a liga em outubro.

O mês até começou bem: embora tenha perdido a sequência de nove vitórias seguidas na derrota para o Edmonton Oilers em casa no dia 3, os Red Wings venceram quatro dos seis primeiros jogos. Claro, com a ajuda do calendário, afinal três destas vitórias foram contra Chicago Blackhawks, St. Louis Blues e Minnesota Wild, todos times de aspirantes.

Na terceira semana do mês, entre os dias 13 e 17, a equipe viajou pela Costa Oeste do Canadá. O passeio não foi nada agradável, afinal os anfitriões Vancouver Canucks, Calgary Flames e Edmonton Oilers, fortes concorrentes de conferência, impuseram aos Red Wings uma sequência de três derrotas. Justamente após a derrota na prorrogação em Edmonton é que começou a se falar mais abertamente nos problemas da equipe.

Passada a sequência de derrotas, os fãs se tranquilizaram ao saber que no sábado, 19, os Blues visitariam Detroit. "Vitória garantida", pensaram, mas a fase estava tão ruim que os Red Wings conseguiram perder para o que sobrou do St. Louis pela primeira vez em nove jogos, o que não acontecia desde outubro de 2003.

A segunda-feira, 21, ficou marcada na história esportiva da cidade como um dia trágico. Quando o time local enfrentava o Nashville Predators, Jiri Fischer sofreu uma espécie de parada cardíaca e, não fosse o atendimento especializado, provavelmente teria morrido no banco de reservas da equipe. Os Red Wings perdiam por 1-0. (Em tempo: a partida será disputada em tempo integral no dia 23 de janeiro, mantendo-se o placar favorável aos Predators.)

O ponto-chave da campanha em novembro foi a vitória por goleada contra o Colorado Avalanche. Mas não pense que foram fáceis 7-3 aplicados pelos Red Wings. Tanto era um lampejo de bom hóquei que dois dias depois, iniciando a excursão pela Costa Oeste americana, a equipe perdeu do Mighty Ducks of Anaheim, que havia vencido apenas um dos últimos dez jogos disputados.

A paz voltou a Detroit nas duas partidas seguintes, com uma vitória nada empolgante contra San Jose Sharks e outra um pouco melhor diante do Los Angeles Kings, o que equilibrou a balança do mês. Ao todo os Wings conquistaram 16 dos 30 pontos disputados, contrastando com a campanha de outubro, quando registraram 22 dos 24 pontos em jogo.

Mês de novembro esquecido, os Wings voltaram para casa para enfrentar os Flames. Perderam por 3-2. Tudo bem, eram os quentíssimos Flames. No jogo seguinte receberam o New York Islanders, então com aproveitamento de 50% na temporada... e também perderam. Desta vez nem a involuntária ajuda do calendário resolveu.

O que aconteceu aos Red Wings tem explicação, mas na verdade o que se esperava da equipe antes de a temporada começar era justamente a campanha dos últimos 16 jogos (7-7-2), não aquela formidável sequência de nove vitórias do mês de outubro.

É estupidez pensar que um time possa vencer todos os seus adversários, noite após noite. Sempre há uma má fase pelo caminho, isso é quase certo. Até na temporada regular de 2002 foi assim, quando por dois momentos os Red Wings relaxaram e passaram por momentos ruins, porém felizmente conquistaram a Copa.

As dúvidas quanto ao real potencial da equipe começaram a ser levantadas após a excursão pelo Canadá. Em todos os três jogos os Wings estiveram lentos e confusos no gelo, sendo superados facilmente, sem grandes esforços defensivos e como consequência sofrendo gols de trás da rede nas três noites. No geral a equipe pouco ameaçou os adversários, quase não construiu claras oportunidades de marcar.

Um prato cheio para críticas em Detroit. É claro que a viagem ao país do hóquei foi um fiasco total, os Wings não mereciam nem mesmo o único ponto conquistado diante dos Oilers na prorrogação. Mas é normal ser derrotado pelos Canucks em Vancouver, porque eles têm um time muito forte. Também é natural perder para os Flames em Calgary, ainda mais na ótima sequência em que eles estavam. E contra os Oilers, não há nada de errado em perder pra eles em Edmonton, mesmo que isso somente tenha acontecido porque os Wings tiveram uma péssima atuação defensiva.

Agora, não é normal sofrer quatro gols em vantagem numérica do Phoenix Coyotes em Detroit, não se pode perder para os Blues em lugar nenhum no mundo, muito menos em casa, e quando você enfrenta um time em péssima fase, é sua obrigação afundá-lo ainda mais — e os veteraníssimos Wings perderam dos Mighty Ducks.

A matemática é simples: se você pára de fazer gols e começa a sofrê-los em excesso, as derrotas tornam-se mais frequentes. A queda de rendimento dos times especiais dos Wings justificam a afirmação. Em outubro o aproveitamento em vantagem numérica beirava os 28% e quando tinha um homem a menos no gelo a equipe não sofria gol em 93% das vezes. Nos últimos dezesseis jogos a equipe marcou em 22% das oportunidades, o que é razoavelmente bom, e não sofreu gol em apenas 79% dos momentos em desvantagem numérica, o que é péssimo. Não é de hoje que se ganha jogos na NHL matando penalidades — da mesma forma que se perde não matando.

O pior é que parece que o treinador Mike Babcock, tido como durão, não cobra de seus pupilos como deveria. O que ele tem feito é mudar as linhas, procurando encontrar uma química entre novos companheiros. O máximo a que ele chegou foi chutar o balde com o goleiro Chris Osgood e buscar no Grand-Rapids Griffins um novo substituto para Manny Legace: o calouro Jimmy Howard. Legace, número um da equipe, sofreu duas contusões no joelho em 24 dias. Osgood, que deveria ser o reserva imediato, levou seis gols por duas vezes nos últimos três jogos que disputou. Howard, por sua vez, jogou e agradou, sendo sem dúvida o goleiro do futuro, mas não do presente.

A defesa sofreu com a perda de Fischer e a ausência de Jason Woolley, que reagravou uma contusão na virilha após retornar prematuramente ao jogo. Resultado: além do calouro Brett Lebda os Wings escalaram Kyle Quincey, também dos Griffins. Foi apenas uma experiência, já que está claro que Babcock não agrada do veterano Jamie Rivers, encostado no time. Outro que definitivamente tem um alvo pintado nas costas é Chris Chelios. Também, com quase 44 anos, o americano deveria estar jogando golfe, não hóquei.

Ainda sobre a defesa, que parece ser o ponto mais fraco do time graças às contusões, o pior de tudo é que em quase todas as partidas os Wings sofrem gols estúpidos, sempre em erro de algum jogador, até mesmo de Nicklas Lidstrom ou Mathieu Schneider. Andreas Lilja, com todo o seu tamanho, não desfere trancos, pelo contrário: está sempre "abraçando" os atacantes ao invés de esmagá-los nas bordas.

Por contusão a equipe também perdeu o grande central Robert Lang. Grande no tamanho, porque suas atuações estão muito aquém do esperado, como acontece com boa parte do elenco. Aliás, o que Detroit tem mostrado no gelo nos remete ao pífio desempenho nos playoffs de dois anos atrás, quando foi eliminado pelos Flames em seis jogos.

O declínio em novembro também foi causado pelo ataque da equipe, que no mês anterior havia marcado 51 gols, média de 4,25 por jogo. Nos últimos 16 jogos a média foi de apenas 3,25 gols por jogo, inflacionada pelas duas noites em que marcou sete vezes. Sem a "ajuda" de Sharks e Avs, a média seria de 2,71, idêntica à dos Blues na última posição da liga.

Quem tem se salvado é Brendan Shanahan, que continua marcando seus gols rumo a mais uma excelente temporada. A dupla Henrik Zetterberg e Pavel Datsyuk pontua freqüentemente, mas menos do que deveriam fazer como as estrelas ofensivas do time. E se o assunto é ataque, esqueça Kris Draper e Kirk Maltby. Os Wings encontram-se no ponto em que o artilheiro da equipe, Jason Williams, até ontem era tido como inútil.

Em meio a tantos maus momentos uma bomba quase detonou em Detroit. O rumor de que Steve Yzerman se aposentaria ficou fortíssimo graças ao que escreveu um experiente colunista, que certamente jamais escreverá em TheSlot.com.br — não porque ele não queira, mas porque nós não o aceitaríamos aqui. Yzerman continua na equipe, sabe-se lá até quando, mas parece que a palavra desistir não passa pela sua cabeça. Certamente é a última temporada do Capitão, que ajuda como pode. E verdade seja dita, se houvesse alguém melhor do que ele na reserva, até poderia se dizer que era hora de retirá-lo do time, mas essa não é a realidade.

Pode ter sido apenas um mês ruim, como todas as equipes da liga tiveram ou ainda vão ter, mas as atuações dos Red Wings preocupam e muito. É uma longa estrada até os playoffs e você nunca deve se empolgar demais com vitórias nem decepcionar-se exageradamente com derrotas. Que o amargo novembro sirva de lição.


Humberto Fernandes se empolgou tanto com o primeiro volume da "trilogia de quatro livros" de O Guia do Mochileiro das Galáxias que comprou o restante da série por R$ 45,00.
FEIRA DA FRUTA Sean Avery, o novo tartaruga da NHL, desfere um forte tranco no russo Pavel Datsyuk. Os Red Wings sempre apanham dos adversários, não é de hoje que falta alguém para fazer o jogo sujo (Danny Moloshok/AP - 28/11/2005)
DECEPÇÃO O New York Islanders, do amigo MecWhalers, foi até Detroit e derrotou os Red Wings por 2-1. Ao fundo Jimmy Howard no terceiro jogo de sua vida (Jerry S. Mendoza/AP - 04/12/2005)
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Página publicada em 7 de Dezembro de 2005.