Os
Bruins estão sofríveis desde o começo. Os Sharks começaram bem
e desceram ladeira abaixo em novembro. São dois times que precisam
urgentemente de uma sacudida para produzirem o que se espera de
ambos. É basicamente isso que permeou a bombástica troca da semana
passada. Joe Thornton por Brad Stuart, Marco Sturm e Wayne Primeau.
Os Sharks, que não tinham um jogador referencial na equipe, agora
têm. Os Bruins, que tinham, agora não têm mais. Simples assim.
É polêmica a discussão sobre o que é melhor, se um craque ou dois
bons jogadores no time. Eu entendo que há casos e casos, e, neste
caso, a gerência dos Bruins agiu de forma incompreensível. Na
minha cabeça, por mais necessário que seja sacudir a equipe, você
não faz isso negociando o seu melhor jogador.
Os Bruins decidiram trocar o capitão, o principal jogador do time,
aquele que deveria figurar em qualquer cenário futuro da franquia.
Trocaram-no por mais profundidade no elenco, por duas boas peças
jovens, um bom defensor e um rápido asa, além de um chove-não-molha
Wayne Primeau. Valeu a pena? Do meu ponto de vista, não.
A gerência dos Bruins, contrariando qualquer mandamento lógico
da eficácia, sequer anunciou aos demais gerentes da liga que Thornton
estava disponível para trocas. Quando você decide trocar um jogador
da estirpe de Joe Thornton, e se ele não tem cláusula impedindo
sua troca, a primeira coisa que se faz é informar aos times que
tenham material bom para dar em troca. A segunda é informar a
todos os demais times. Algum deles virá com a melhor oferta, aquela
que vence a concorrência.
Que fique claro, isso não é fritar o jogador. Com craque você
faz esse mini-leilão em questão de horas, porque os gerentes
interessados não vão deixá-lo em paz enquanto houver negociação
e você não bater o martelo. Não é como rifar um peso-morto qualquer
do time, daqueles que você precisa buscar alguém que queira.
Nesse sentido, é bem diferente, por exemplo, da recente troca
do Fedorov. No caso do russo, era difícil achar um time que arcaria
com o salário dele. No caso de Thornton é certo que haveria uma
boa quantidade de gerentes interessados. Disso você pode imaginar
também o que os Bruins conseguiriam mais do que um Stuart e um
Sturm em retorno.
Há ainda fatos curiosos. Acredito que ninguém na liga —
fora os mais imaginativos — esperava que os Bruins fossem
trocar Joe Thornton. Duvido inclusive que ele, Thornton, esperasse
por isso. O cara estava jantando, o telefone toca, ele atende:
"Oi, Joe, tudo bem? Você foi trocado para o San Jose". Imagine
só. Ele havia assinado um contrato de três anos com o clube, era
o capitão, era o líder, era o ponto de referência para o futuro.
Deve existir alguma farpa sobressalente na relação de Thornton
com os Bruins, que provavelmente data da eliminação dos últimos
playoffs. Não deveria ser algo assim surpreendente, afinal, os
Bruins foram eliminados pelo time que os elimina nos playoffs
ultimamente: os Habs. Mas tem alguma coisa que vem de lá.
Porque não é possível que a solução para sacudir uma equipe seja
negociar o seu principal jogador, o seu capitão. Isso não faz
sentido. Você quer balançar seu time, você faz trocas médias,
muda técnico, manda algum sinal ao elenco. Faz até grandes trocas
envolvendo grandes jogadores, mas nunca envolvendo o seu grande
jogador, aquele que é seu craque número 1 e seu capitão.
A diferença em termos orçamentário-financeiros entre Thornton
e os três jogadores que vieram é de cerca de US$ 1,5 milhão (a
mais para o ex-Bruin), ou seja, a troca também não faz sentido
para os Bruins pelo lado financeiro.
Melhor para os Sharks. Há tempos precisando de um líder na equipe,
agora eles têm. Pode ser que Thornton decepcione, pode ser que
estoure ainda mais, vamos ver. A temporada dele não vem sendo
nada ruim, são 33 pontos em 23 jogos. Os Sharks perdem dois bons
jogadores da equipe, mas agora têm aquele jogador que se encaixa
no perfil "central-número-1-líder-da-equipe".
As estréias pelos novos times
Como esperado, a troca deu uma sacudida em ambas as equipes. Os
Bruins meteram impressionantes 3-0 sobre o melhor time da liga,
o Ottawa Senators, com direito a gol da vitória de Marco Sturm
e tudo. De quebra eles mantiveram Danny Heatley sem pontuar pela
primeira vez na temporada, impedindo que o craque batesse um recorde
de Wayne Gretzky. Dias depois, perderam para os Canucks.
Os Sharks arrasaram os Sabres por 5-0, com direito a duas assistências
de Thornton. No jogo seguinte, contra os Maple Leafs, nova vitória,
novamente duas assistências.
Tudo indica que a decolagem do San Jose será mais sólida
com Joe Thornton no comando.
Marcelo Constantino não se recorda de algum filme
ruim com Denzel Washington no elenco. E a dica da semana para o
cinema: "O exorcismo de Emily Rose", para quem gosta de
um bom suspense.
JOE THORNTON,
AINDA NOS BRUINS O time ia mal, ele se sobressaía,
mas mesmo assim foi o culpado escolhido pela gerência
(Jim McIsaac/Getty Images - 29/11/2005)
JOE THORNTON,
AGORA NOS SHARKS Tudo indica que os tempos em San
Jose serão melhores (Peter Jones/Reuters - 03/12/2005)
ESTRÉIA
REJUVENESCEDORA Marco Sturm estreou pelos Bruins
marcando o gol da vitória e fazendo o time derrotar o
líder Ottawa por impressionantes 3-0 (Winslow Townson/AP
- 01/12/2005)