Ao final de cada mês, a National Hockey League elege os maiores destaques do período, escolhendo o melhor jogador ofensivo, o melhor defensivo e o calouro do mês.

Eric Staal, do Carolina Hurricanes, com nove gols e 22 pontos, foi o jogador ofensivo do mês de outubro. Aos 21 anos, Staal liderou a liga em pontos, graças a excelentes atuações individuais e um começo de temporada inspirado de sua equipe.

Staal pontuou em dez dos 11 jogos que disputou, sendo que por duas vezes marcou quatro pontos em um jogo e em outro anotou um hat trick. Seus concorrentes diretos foram os monstros Jaromir Jagr (12 gols, 19 pontos) e Peter Forsberg (dois gols, 19 pontos).

Manny Legace, do Detroit Red Wings, quebrou o recorde de vitórias por um goleiro em Outubro, com dez. Ainda, registrou 1,81 gol sofrido por jogo e 92,5% de defesas, com dois shutouts, números que o levaram ao prêmio de melhor jogador defensivo.

Legace superou o goleiro Tomas Vokoun (sete vitórias e 2,51 gols sofridos por jogo) e os defensores Bryan McCabe (três gols, 15 pontos) e Lubomir Visnovsky (três gols, 15 pontos).

Tanto Staal quanto Legace foram realmente os maiores destaques do mês de outubro em suas categorias. Porém, o mesmo não se pode dizer do escolhido como calouro do mês. A polêmica está lançada!

Aos 18 anos, recrutado com a primeira escolha geral no recrutamento deste ano pelo Pittsburgh Penguins, Sidney Crosby marcou dois gols e 14 pontos em seu primeiro mês na maior liga de hóquei do planeta, confirmando toda a fama conquistada em outras ligas menores desde quando era "um garotinho competindo contra os caras mais velhos".

Crosby pontuou em seus seis primeiros jogos, sendo que seu primeiro gol veio logo na terceira partida, no dia 8 de outubro contra o Boston Bruins. Seus concorrentes ao prêmio foram o russo Alexander Ovechkin (mais informações abaixo) e os goleiros Jason LaBarbera (seis vitórias e 1,70 gol sofrido por jogo) e Henrik Lundqvist (cinco vitórias e 1,76 gol sofrido por jogo).

Justiça seja feita, Crosby não foi o melhor calouro de outubro. Não é que ele não tenha tido um mês fenomenal, realmente foi muito bem, como era de se esperar. LaBarbera e Lundqvist foram sublimes ao conduzir seus times, mas nesta disputa atuaram apenas como coadjuvantes, porque na minha teoria — e na de muitos outros — Ovechkin foi imbatível.

Recrutado com a primeira escolha geral no recrutamento de 2004, somente aos 20 anos Ovechkin enfim pôde fazer sua estréia com a camisa do Washington Capitals.

Três noites antes de Crosby marcar o primeiro gol de sua carreira, Ovechkin marcou dois, logo na abertura da temporada. E se o canadense pontuou durante seis jogos seguidos, o russo o fez durante oito. O mais impressionante é que Ovechkin marcou oito gols em 11 jogos — Crosby marcou dois —, incluindo um gol da vitória.

Para os fãs dos Capitals, Ovechkin foi "roubado" para favorecer Crosby. É facil entender o porquê de pensarem assim.

Ovechkin é o cara que faz um sujeito de Washington que pouco gosta de hóquei ligar a TV para ver os Capitals jogarem. É quem tem levado a torcida à arena. Mais do que isso, é a primeira grande estrela iniciando a carreira na organização em mais de uma década.

O fato de jogar sozinho valoriza ainda mais os números do russo, que em outubro marcou 32% dos gols de sua equipe. O elenco dos Capitals é tão sofrível que você poderia colocar a maior parte dos atletas na avenida mais movimentada de Washington ao meio-dia de uma segunda-feira que eles passariam como turistas ao olhar da população.

Enquanto isso, Crosby joga nos Penguins, joga com a mídia a seu favor. Também arrasta multidões à arena, mas joga em um time que tem Mario Lemieux, Zigmund Palffy, Mark Recchi, John LeClair e Sergei Gonchar, ainda que boa parte desses esteja em fim de carreira.

Fica a pergunta: por que Crosby foi eleito o calouro do mês? Ele não teve números melhores que Ovechkin e nem foi mais importante para os Penguins que o russo foi para os Capitals.

Não resta outra saída senão pensar que pode haver uma "conspiração" para favorecê-lo. Há tempos a NHL espera pelo momento de entregar ao canadense o Troféu Calder, concedido ao novato do ano. Afinal, Crosby é visto como o salvador do jogo, aquele que irá expandir as fronteiras do esporte além das atuais. Como alguém fez no passado. Alguém chamado Wayne Gretzky.

Na gaveta onde guardo souvenirs de hóquei está a edição de "The Hockey News" do dia 28 de junho de 2002, comemorativa da conquista dos Red Wings. Em "Player Profile", ninguém mais, ninguém menos que Crosby, aos 14 anos de idade, desde então chamado de "The Next One".

Para tentar estragar os planos da liga Ovechkin terá de fazer muito mais do que tem feito. Ser o super-herói dos Capitals parece não bastar. Por isso, melhor ficar de olho neles. Não apenas nos jogadores, mas também naqueles que definem os vencedores, fora do gelo.

Esta questão é tão complicada que resolvi perguntar aos três maiores colunistas de hóquei do país quem eles escolheriam como calouro do mês de outubro. Deu empate.

Para Alexandre Giesbrecht, torcedor dos Penguins, Crosby foi realmente melhor, por ter conseguido o feito de liderar em pontos e assistências um time com estrelas que deveriam produzir mais do que ele. "A corrida foi apertada, e quem ganhasse teria merecido", acrescentou Giesbrecht.

Marcelo Constantino, fã dos Red Wings, subiu em cima do muro, não escolhendo um favorito. Em sua análise, acredita que Crosby tenha sido o vencedor por estar em um time melhor, com mais destaque na mídia, enquanto Ovechkin joga em uma equipe horrorosa. "Tivessem os Caps uma campanha melhor, seria Ovechkin cravado. Já o Crosby, independente de toda a mídia que tem em cima, melhora a cada jogo", escreveu Constantino.

Eduardo Costa, também fã dos Red Wings e admirador do hóquei russo, votou em Ovechkin, ressaltando que ele foi melhor em quase tudo, até mesmo defensivamente, ajudando sua equipe sem cometer penalidades estúpidas — ao contrário de Crosby —, jogando duro e limpo nas bordas. "Crosby só teve desempenho melhor no quesito servir seus companheiros, mas para quem, diabos, o russo vai passar o disco no time dos Capitals?", afirmou Costa.

Duas das páginas que costumo acessar acompanham diariamente o desempenho dos calouros na corrida pelo Calder. Tanto para a TSN quanto para o TheFourthPeriod Ovechkin é o novato do ano até o momento.

Fica o receio de que o prêmio já esteja definido desde o recrutamento deste ano, independente do que aconteça no gelo — salvo aberrações.


Humberto Fernandes ainda não teve tempo de ler suas últimas aquisições literárias: "O Santo Graal e a Linhagem Sagrada", de Richard Leigh, "Assassinatos na Acabemia Brasileira de Letras", de Jô Soares, e "O Guia do Mochileiro das Galáxias — volume 1", de Douglas Adams.
SUPER-HERÓI O russo Alexander Ovechkin faz milagre jogando sozinho no Washington Capitals. (Kevin Wolf/AP - 11/11/2005)
SUPER-MÍDIA Sidney Crosby é mesmo um fenômeno com o taco na mão, mas a imprensa exagera, não? E a NHL segue a mesma linha (Gene J. Puskar/AP - 10/11/2005)
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Página publicada em 16 de novembro de 2005.