Dois de nossos leitores, Thiago Leal e Guigo, recentemente comentaram sobre a falta de artigos em TheSlot.com.br sobre o Mighty Ducks of Anaheim, um dos times mais populares no Brasil.
Esse é um dos feedbacks que buscamos dos nossos leitores, o que eles querem ler na revista. E sempre que possível procuramos atender e escrever sobre o que está em falta.
Embora atualmente não sejam um assunto muito frequente, os Ducks nas últimas duas temporadas foram nome certo na mídia, desde a histórica varrida sobre o Detroit Red Wings em 2003 ao fiasco de 2004. O mais curioso é que a versão 2004 da equipe era considerada ainda mais forte que a do ano anterior que se sagrou vice-campeã. Coisas do hóquei.
Como eu ainda não tinha definido um bom tema para o artigo desta semana, resolvi abraçar a causa e escrever sobre os Mighty Ducks, os Super Patos, ainda não tão poderosos quanto o nome pode sugerir.
Patos da Disney
A história da franquia tem suas raízes ligadas ao projeto da Walt Disney Pictures de levar o hóquei no gelo ao cinema. Em outubro de 1992 foi lançado o filme "The Mighty Ducks", estrelado por Emilio Estevez e por um bando de garotos que aprendem a jogar e a vencer como um time. A obra desencadeou uma onda de interesse pelo esporte, principalmente entre os jovens norte-americanos, e então a Disney resolvou ter sua própria franquia na NHL.
Imediatamente após a divulgação das cores e do logotipo da equipe, que não poderia ser outro senão aquele do filme, os produtos com a marca Mighty Ducks viraram fenômeno de venda em todo os Estados Unidos.
A Disney ainda lançou mais dois filmes, D2 e D3, completando a hat tri-logia, porém nenhum deles fez tanto sucesso quanto a versão original.
Hoje os Mighty Ducks não pertencem mais ao conglomerado Disney, mas a história desta parceria será contada continuamente através dos tempos. Talvez por um filme.
Os Ducks hoje
Na sala de seu escritório em Arrowhead Pond o gerente-geral Brian Burke, recém-contratado à época, pensava o que fazer com os Mighty Ducks para esta temporada. Rígido, dizia que os jogadores teriam que atuar como ele queria, senão poderiam procurar um dos outros 29 times da liga.
Sua primeira decisão foi oferecer ao então treinador Mike Babock um contrato de um ano, porque Burke sentia que Babcock poderia treinar o time da forma desejada. O acordo não aconteceu, o treinador mudou-se para Detroit e em Anaheim desembarcou Randy Carlyle.
Carlyle atuou por mais de 1000 vezes na NHL, sempre por Toronto Maple Leafs, Pittsburgh Penguins ou Winnipeg Jets. Aposentou-se em 1993 e três anos mais tarde serviu como assistente técnico nos próprios Jets. Depois assumiu o cargo de treinador no Manitoba Moose, da IHL, por cinco temporadas. Em seguida
retornou ao mundo da NHL como assistente no Washington Capitals, onde exerceu a função por mais dois anos, até 2004. A última empreitada de Carlyle foi treinar o Moose, agora na AHL, durante o locaute.
Em cerca de um mês os Ducks tinham um novo dono, um novo gerente-geral, uma nova filosofia de jogo e um novo treinador, muitas novidades para quem se preparava para conhecer a nova realidade da liga.
Burke armou seu time como pôde. Para a defesa trouxe o atual vencedor do Troféu Norris, Scott Niedermayer, que preferiu a família ao dinheiro quando assinou com os Ducks. O defensor tinha propostas melhores de outras partes do país porém optou por se aproximar dos pais e do irmão Rob, também jogador do time.
Não satisfeito, o gerente apostou no retorno de Teemu Selanne, finlandês que atuou por seis temporadas na equipe, entre 1995-96 e 2000-01. Segundo maior artilheiro da história da franquia, Selanne sempre declarou que os melhores anos de sua vida foram vividos em Anaheim.
Burke acertou em ambas as contratações. A afirmativa é facilmente justificada pelo talento de Niedermayer e pelos números de Selanne até o momento na temporada.
De bem com a vida e com seu jogo, o finlandês assume a condição de ídolo máximo da equipe. Inspirado, lidera o time em gols, assistências, pontos, pontos em vantagem numérica e +/-. Mas não é só isso. O finlandês atrai o torcedor de volta aos jogos como ninguém faria melhor pelos Ducks, nem mesmo o líder histórico da franquia, Paul Kariya, que teve um trágico rompimento com a organização ao sair.
Calculado o risco, a gerência não hesitou em contratar Selanne, mesmo considerando o insucesso do jogador nas últimas temporadas. Mas nem tudo são flores para Burke, que negociou Steve Rucchin, jogador que mais vestiu a camisa verde, branca e roxa dos Ducks, para o New York Rangers, em troca de Trevor Gillies e uma escolha condicional no recrutamento de 2007.
Atualmente os Ducks encontram-se na última posição da Divisão do Pacífico, com apenas a 12ª melhor campanha da Conferência Oeste. No geral o retrospecto é positivo — ganharam 17 dos 32 pontos disputados —, mas é pouco para quem investiu e sonha em chegar novamente aos playoffs.
O maior problema da equipe está no departamento médico, onde atualmente encontram-se duas de suas maiores estrelas: Sergei Fedorov (virilha) e Sandis Ozolinsh (costelas). Por lá também estão os durões Kip Brennan (ombro) e Todd Fedoruk (costas), e o calouro Corey Perry (concussão), uma das esperanças do time. Até mesmo o goleiro Jean-Sebastien Giguere perdeu jogos por contusão.
A boa notícia é que o russo Fedorov deve retornar ao time no sábado, contra o Phoenix Coyotes, após perder os últimos 13 jogos. Mas FedEx nunca apresentou em Anaheim o mesmo nível de jogo que manteve com os Red Wings. Mesmo os 31 gols marcados em sua única temporada na Califórnia não foram suficientes, até porque os Ducks lhe ofereceram um contrato milionário para que fosse o líder do time, em todos os aspectos e números.
Foi em busca desse status que Fedorov deixou Detroit.
Substituindo Giguere pelo inexperiente reserva Ilya Bryzgalov, os Ducks experimentaram a sensação de possuir uma dupla competente de goleiros, aliada a um sexteto defensivo de excelente qualidade. Não resta dúvidas de que o ponto forte do time é a defesa.
O que Carlyle ainda não conseguiu é extrair o melhor de alguns de seus atacantes, como Petr Sykora. Mas o mais notável é que os Ducks ainda não têm consistência, não são confiáveis, e esse é o ponto-chave a ser trabalhado.
Definitivamente os Super Patos estão na feroz briga do Oeste, mas há muito o que melhorar. O grande alívio é saber que dentro do elenco existe muito talento a ser explorado, seja dos veteranos milionários, seja das jovens promessas.
Miracle — um bom filme de hóquei
No último fim de semana finalmente assisti ao filme "Miracle" (2004), também lançado pela Disney. Ao contrário da série estrelada pelos Mighty Ducks, Miracle é um verdadeiro filme sobre hóquei no gelo, mais precisamente sobre a história do treinador Herb Brooks, que liderou os Estados Unidos à vitória nos Jogos Olímpicos de Inverno de 1980.
O milagre em si foi a inacreditável vitória sobre o então imbatível esquadrão da União Soviética nas semifinais dos Jogos, retratada com fiel perfeição no filme, exceto por pequenos detalhes provenientes da maneira americana de narrar os fatos.
A história do falecido Brooks é fascinante, pra ser sempre contada no cinema, assim como a fenomenal vitória dos norte-americanos, um dos maiores exemplos de superação esportiva do último século.
Miracle foi tão bem produzido que durante diversos momentos você se esquece que está vendo um filme e tem a sensação de estar diante de um jogo ao vivo. É recomendado para todos os fãs de hóquei no gelo.
Humberto Fernandes recomenda os filmes "A Intérprete", "A Vida de David Gale" e "Meu Nome é Rádio", além de "Miracle", como os melhores vistos nos últimos meses.
DA FINLÂNDIA PARA ANAHEIM Teemu Selanne (13) disputa o disco com Nils Ekman, do San Jose Sharks. De volta aos melhores anos de sua vida, o finlandês é o artilheiro do time (Mark J. Terrill/AP - 04/11/2005)
JIGGY
Contra o Minnesota Wild de Mikko Koivu, Jean-Sebastien Giguere foi derrotado na disputa de pênaltis. A torcida tem saudades do Jiggy de 2003 (Henry J. DiRocco/AP - 06/11/2005)