Em uma entrevista para a revista da ESPN há alguns anos, Sean
Avery, na época jogador do Detroit Red Wings, respondendo ao repórter
que perguntara se seu objetivo era tornar-se o "novo" Claude Lemieux,
disse que sim, mas com um pouco de classe. Ele completou afirmando
que o homem-tartaruga não tinha nenhuma classe. Nisso a peste
mais falante da NHL atual está certíssima, mas se tem alguma coisa
que Avery não vem apresentando, nem mesmo em doses mínimas, é
classe.
E também falta coragem. Após provocar a ira dos franco-canadenses
— jogadores e fãs — com declarações preconceituosas
contra os atletas que possuem essa origem, ele correu da briga
quando três deles — Ian Laperriere, Georges Laraque e Denis
Gauthier — demonstraram interesse em acertar as contas com
o garoto de Ontário. Laperriere, do Colorado Avalanche, foi o
mais claro em suas intenções de não demonstrar que é um franco-canadense
que acerta um jogador e depois se esconde atrás de um visor ou
o que for. Mas nada do jogador dos Los Angeles Kings aceitar o
"convite" quando os dois se encontraram durante uma partida em
Outubro.
Lembram do tranco covarde sobre Kris Draper, que muito deve ter
contribuído para que Claude tenha sido considerado um jogador
sem classe por Avery? Pois bem, em um lance com certa similaridade
o nosso amigo Avery acertou covardemente o pacato e diminutivo
asa esquerdo Simon Gamache, do Nashville Predators no último dia
5. Gamache teve muita sorte em sair ileso após o golpe baixo.
Avery foi expulso do jogo. Sem classe e sem coragem. Definitivamente
o "gol" de Avery é mesmo se transformar no "novo" Claude Lemieux,
só que, infelizmente para Sean, sem a mesma sorte do homem tartaruga.
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Evgeni Malkin: dominante na Superliga russa
Se outubro não foi um mês para se esquecer por completo em Pittsburgh,
isso se deve basicamente ao jovem astro Sidney Crosby, eleito
o novato do mês. Mas com tanta badalação em torno de Sid e tanta
preocupação pelo pífio rendimento do time, pouco se falou de outra
peça chave do futuro da equipe — ainda que essa esteja muito
longe da Pensilvânia — que também foi o melhor em sua respectiva
liga em Outubro. E, mais significante ainda, foi eleito não o
melhor novato, mas sim o melhor jogador de toda a liga.
Assim como Pittsburgh é a cidade do aço nos Estados Unidos, Magnitogorsk
é conhecida como a cidade do aço na Rússia e é lá que atua Evgeni
Malkin, líder em gols (10 em 22 jogos) e segundo em pontos (22)
da Superliga — sempre bom lembrar que a principal competição
do hóquei russo, assim como as outras grande ligas da Europa,
são geralmente de placares baixos — atuando pelo Metallurg
Magnitogorsk (ou, de uma forma mais fácil, Magnitka).
Para quem ainda não entendeu o porque do craque russo declinar
o convite de atuar na NHL já em 2005, aí vão três bons motivos
para permanecer na Rússia por mais uma temporada:
1 - Magnitka é uma das mais fortes equipes do país, com muitos
atletas selecionáveis. E uma das que melhor paga. Provavelmente
Malkin esteja recebendo mais do que receberia na NHL com o novo
sistema de salários;
2 - Em ano de Jogos Olímpicos, poderia ser arriscado ir para Pittsburgh
e correr o risco de ser enviado para uma liga menor ou ter um
papel secundário no time;
3 - Esperar mais um ano e fugir da concorrência com Ovechkin e
Crosby pelo troféu Calder. Malkin acha que está pronto para competir
com essas duas feras, mas não nega que foi influenciado pelos
seus agentes a fugir dessa competição, já que será menos complicado
vencer o Calder sem os dois na disputa.
Na próxima edição da TheSlot.com.br continuaremos mantendo esse
espaço para o hóquei russo, falando de Valeri Kharlamov e Igor
Grigorenko.
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Dallas Stars domina o lado negro da força!
Um dos poucos pontos negativos dessa excitante "nova" NHL é a
falta de brigas — se bem que isso é uma coisa que já vinha
acontecendo mesmo nos últimos anos, na era dos agarrões. Para
se ter uma idéia, com praticamente um mês de liga, só no último
dia 3 que deixamos de ter equipes "virgens" nessa categoria. As
duas últimas perderam a pureza juntas quando Jason Strudwick,
dos Rangers, e Grant Marshall, Devils, duelaram na Continental
Airlines Arena. A luta na verdade foi fraca, mas pelo menos o
"combate" serviu para que todos os times tenham ao menos uma penalidade
major por briga na NHL.
Entre as equipes, quem domina esse quesito é o Dallas Stars. A
torcida da equipe texana já teve a honra de ver seus atletas decidirem
nos punhos questões de honra por 16 vezes. Duas a mais que os
Flames. A liderança dos Stars é motivada principalmente pela dupla
Steve Ott — que lidera a liga no individual, juntamente
com Brian McGrattan, dos Senators, com seis brigas — e John
Erskine, com cinco.
Já os Flames têm como ponto alto não os seus brigões e sim o cara
que comanda o som quando as luvas caem no gelo. Acompanhei pela
web-radio as quatro brigas no primeiro jogo contra os Canucks
— no último dia 6 — e a preferência do DJ foi por
músicas do Pantera - Walk e Fucking Hostile!!!.
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O visor e seu precursor
Como agora a TheSlot.com.Br paga por Km de coluna escrita, é bom
o valioso leitor se acostumar, pois dados completamente irrelevantes
— ou nem tanto — também vão ocupar esse nobre (?)
espaço a cada semana no intuito de engordar a minha raquítica
conta bancária.
Para começar, um assunto em voga na NHL: Visor, usar ou não? A
lista de vítimas é grande e inclui nomes como Bryan Berard e Steve
Yzerman. Mais recentemente Mats Sundin, Kris Draper e John LeClair
— esse último durante num simples treinamento — também
engrossaram a lista. Até aí nada de muito obscuro nessa nota.
Mas a questão é: quem foi o primeiro atleta a usar um visor na
NHL, para evitar esses acidentes? Questão complicada, não? Mas
antes que essa pergunta destrua alguns neurônios de nossos sagazes
leitores, aí vai a resposta: O sueco Anders Kallur começou a usar
o visor assim que chegou à NHL em 1979, numa época em que boa
parte dos jogadores da liga sequer usavam capacete. Kallur também
é conhecido por ter sido o primeiro sueco — junto com Stefan
Persson — a vencer a Copa Stanley. Ele fez parte do esquadrão
do New York Islanders tetracampeão da Stanley de 1980 a 1983 e
vice em 1984.
Outro sueco também começou a usar visor naquele ano: o lendário
defensor dos Leafs, Anders Börje Salming. Mas, ao contrário de
Kallur, ele começou a usar o visor apenas após ser atingido na
vista por um taco. O mesmo aconteceu com Yzerman e Sundin, que
esperaram fraturas no osso orbital para usar a proteção. O exemplo
de Kallur hoje é seguido por 38 % dos jogadores de linha (244
de 640) da NHL, de acordo com uma pesquisa da nossa rival de morte,
The Hockey News. Para fechar essa nota com chave de zinco fica
aqui meu voto incondicional para o visor de Alexander Ovechkin,
como o mais legal de toda a NHL.
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A semana tricolor em revista
Bob Gainey, competente e vitorioso gerente geral dos Canadiens,
avisou antes do início da temporada que as novas regras e o comportamento
bem menos tolerante dos árbitros para com os muitos atletas adeptos
do jeitinho Bobby Holik de atuar — enganchando, obstruindo,
segurando etc. — iriam favorecer equipes como os
Senators e os próprios Canadiens. Em relação aos Senators até
era esperado, já que possuem o time mais talentoso da NHL, mas
o Montreal Canadiens era visto com um pouco de desconfiança pela
maioria dos analistas. Bem, até agora quem apostou nos Habs desde
o início não pode deixar de olhar com satisfação para a tabela
da Conferência Leste e ver o time da província de Québec no lugar
mais alto.
Nessa última semana, por exemplo, o aproveitamento foi de 100%
dos pontos disputados. Quatro vitórias, sendo duas delas fora
de casa, o que fez com que essa atual versão Habitant tenha atingido
uma marca que nem mesmo esquadrões que chegaram a vencer quatro
— e até mesmo cinco — Copas Stanley
consecutivamente, obtiveram: foram seis vitórias e apenas uma
derrota — no tempo extra — em sete partidas
longe de seu domínio, o que constitui a melhor marca para uma
equipe quase centenária em um início de temporada!
Vamos então a uma rápida análise dos quatro confrontos dessa última
semana.
(31/10/05) 4-1 NY Rangers no Madison Square Garden —
Goleados pelo NY Rangers dois dias antes em plena Montreal, o
troco veio em território inimigo. No primeiro jogo sem o contundido
Radek Bonk, o treinador Claude Julien mexeu consideravelmente
nas linhas da equipe. Richard Zednik voltou a integrar a principal
linha com Saku Koivu e Alexei Kovalev. Com isso a flecha das estepes
russas, Alexander Perezhogin, foi para a quarta linha. Com essas
e outras mudanças, a coisa não ficou muito agradável de se ver
nos primeiros dois períodos. Os Rangers também não exibiram muita
coisa, com exceção de Jaromir Jagr e Michael Nylander, que deram
um trabalho considerável a José Théodore no primeiro período.
Tudo foi decidido nos últimos 20 minutos de jogo. Dois gols em
vantagem numérica. Primeiro através do capitão dos Canadiens,
Saku Koivu. Depois chegaria o empate, cortesia do tcheco Jagr.
Os dois especialistas em matar penalidades dos Canadiens fizeram
mais que anular uma oportunidade do adversário e o ótimo —
sem exageros, um dos que podem lutar pelo Troféu Selke no final
da temporada — Steve Bégin colocou Montreal na frente
novamente. Alexei Kovalev e Niklas Sundstrom completaram a goleada
de 4-1.
(1/11/05) 5-4 Flórida Panthers no Bell Centre — Essa
partida foi um retrato do que está sendo essa temporada para o
time de Québec: vitórias conquistadas nos instantes finais, vindo
de placares adversos. Os méritos dessa vitória devem ser dados
principalmente à equipe de vantagem numérica do time, que decidiu
o jogo. Com dez segundos de jogo restando — Gelinas
penalizado e Théodore no banco para dar ao Montreal uma vantagem
de dois homens — Steve Bégin empatou. Já no tempo
extra Michael Ryder, que vinha atuando mal e cometendo penalidades
estúpidas, virou herói. Um 5-4 emocionante para deleite de uma
arena cheia.
(04/11/05) 3-2 Buffalo Sabres na HSBC Arena — Após
ter assistido a uma das mais humilhantes derrotas da franquia
em plena HSBC arena — uma surra de 10-4 imposta pelo
Ottawa Senators — os torcedores de Buffalo preferiram
ficar em casa. Bom para os torcedores tricolores que, aos milhares,
atravessaram a fronteira e foram determinantes em duas coisas:
um raro jogo com todas as entradas vendidas na arena dos Sabres
— primeira vez nessa temporada — e em
mais uma vitória fora de casa dos Canadiens. Foi também o duelo
dos goleiros reservas. Com Ryan Miller (contundido) fora, Martin
Biron teve a missão de enfrentar sua equipe de infância, e é bom
frisar que ele sempre atuou bem contra o Montreal - 10 vitórias
e 3 derrotas, com média de 1,83 gol sofrido por jogo, antes dessa
partida. Do lado canadense, Yan Denis participando de seu terceiro
jogo na NHL — segundo, desde o início —
e dando um descanso ao titular Théodore. Mais uma vez a vitória
veio de virada e no final da partida. Antes disso, o ídolo de
milhões no Cazaquistão e de meia dúzia aqui no quarteirão da TheSlot.com.br,
Alexander Perezhogin, marcou seu quarto gol na temporada. Porém,
mais importante que esse gol foram os de Ryder e Sundstrom no
terceiro período. Com o 3-2 final, os Habs voltaram a vencer em
Buffalo, o que não acontecia desde outubro de 2001.
(05/11/05) 3-2 Buffalo Sabres no Bell Centre — Mais
um jogo de casa cheia em Montreal e os presentes foram recompensados
ao ver a equipe local chegar à liderança isolada da Divisão Nordeste
com mais uma vitória de 3-2 sobre os rivais Sabres. Só que dessa
vez foi sem aquela carga extra de drama no final. Quando foi iniciado
o terceiro período, eram os Habs que estavam vencendo. Os medalhões
do time produziram bem: Kovalev marcou duas vezes e seu companheiro
de linha, Zednik contabilizou um gol e uma assistência. Koivu
(nove pontos nos últimos cinco jogos) e Markov também somaram
dois pontos (com passes para gols), e Théodore defendeu 28 de
30 chutes. Uma boa alteração feita por Julien para essa partida
foi tirar o irregular Pierre Dagenais da segunda linha, dando
uma chance para Chris Higgins ocupar essa vaga. E essa chance
não foi desperdiçada.
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Projeto grandes clássicos da NHL
Por sugestão do nosso amigo leitor Thiago Leal, em breve traremos
grandes momentos da rivalidade quase centenária entre Canadiens
e Maple Leafs, e também sobre a já extinta batalha de Québec entre
Nordiques e Habs. Thiago é um desenhista de mão cheia, que sempre
flerta com o hóquei quando está de posse de um grafite, o que
você pode conferir através desse link: http://www.fotolog.net/thiagoleal/?photo_id=10517058.
Eduardo Costa agradece à imensa colaboração
de Marcelo Constantino nesta coluna.