Existem dias em que você sente a necessidade de mudar o rumo das coisas. Você sabe que tudo está errado e tem que fazer algo para mudar essa situação. Isso aconteceu comigo nessa semana e minha angústia reside no fato que Dallas James Drake não vem recebendo sua cota semanal de respeito por parte dessa revista eletrônica, assim como de quase todas as publicações de hóquei do planeta Terra.

O jornal "The Globe and Mail", de Toronto, está acompanhando diariamente Sidney Crosby, a página da Sports Illustrated na internet fala sobre Roberto Luongo e Fedor Fedorov, a capa da The Hockey News dessa semana mostra Jason Allison, e por aí vai. De Dallas Drake pouco se fala. E quando falam, esculacham. Na edição passada da nossa TheSlot.com.br, nosso conceituado colunista Humberto Fernandes escreveu brilhantemente, como é de seu costume, sobre o St. Louis Blues e o oceano de mediocridade que ameaça inundar a equipe e dar fim à seqüência de 25 anos de classificação aos playoffs. Mas até os grandes erram e, como Fernandes não está imune a essa verdade, cometeu a heresia de chamar Drake de estúpido. Repetiu o que o lendário Scotty Bowman havia dito há mais de dez anos.

É bem provável que Dallas Drake jamais tenha acrescentado algum requisito extra à sua forma de atuar. Dallas nasceu moldado. Um guerreiro por definição. E Bowman, o maior treinador da era moderna da NHL junto a Al Arbour, talvez tenha tentado fazer de Dallas um jogador diferente, mais polivalente talvez. É claro que não conseguiu e isso gerou declarações infantis de ambos os lados, culminando com a famosa frase onde Scotty afirmava que Dallas foi o atleta mais estúpido que ele já tentou treinar.

Já o lance contra os Red Wings — também citado na coluna de Fernandes — no qual Drake, ao tentar acertar um tranco no sueco Johan Franzen, colidiu com a borda e caiu sozinho, nada mais foi que o resultado de vontade excessiva. Perder é feio, é imoral, é ruim. Drake odeia perder e por isso disputa cada lance com intensidade descomunal. Às vezes erra, afinal erros fazem parte do jogo.

Quem define com perfeição esse tipo de entrega no gelo é o atual treinador dos Blues, Mike Kitchen, que tem plena confiança no asa direito: "Ninguém — e isso significa ninguém — esvazia seu tanque no gelo por sua equipe como Dallas Drake". Quando Kitchen diz isso, ele não está afirmando que Dallas faça suas necessidades fisiológicas no gelo, e sim que cada turno (shift) seu é como o último. Kitchen não poderia estar mais certo.

O companheiro de equipe Keith Tkachuk é outro que não poupa elogios: "Dê-me 20 Dallas Drakes e eu lhe mostrarei um time inteiro usando anéis da Copa Stanley quando a temporada acabar". Tkachuk sabe que poucos jogadores na NHL podem igualar esse grau de intensidade que Drake desfila gelo a fora da NHL. E sabe que é muito melhor ter uma peste dessas atuando ao seu lado do que contra.

E por ser um líder natural e uma espécie de treinador dentro do gelo que o inevitável acabou acontecendo e Dallas Drake agora tem a honra de ser capitão de uma franquia da National Hockey League. E isso não é tarefa para simples atletas, basta conferir que entre os últimos oito capitães dos Blues estiveram jogadores como Scott Stevens, Brett Hull, Shayne Corson, Wayne Gretzky, Chris Pronger e Al MacInnis.

Por isso tudo me causa asco ver tantas coisas ruins sendo ditas pela mídia especializada nacional e estrangeira sobre Dallas Drake. Mas a TheSlot.com.br é justa e aceitou minha proposta de levar aos nossos valiosos leitores informações desse atleta incompreendido e injustiçado. Será - já está sendo - o primeiro tributo a Dallas em língua portuguesa, e devo confessar a vocês que tanta responsabilidade me levou a perder o sono, temendo não ser apto a realizar tal feito. Pelo menos essa falta de sono me deu o direito de invadir algumas madrugadas pesquisando e revendo vídeos onde estivesse presente essa figura carismática, que tem o rosto marcado pelas agruras do gelo. Tudo isso para fazer o melhor possível para seu deleite, estimado leitor.

Aí que eu descobri que a falta de atenção da mídia para com Drake tornou essa missão quase impossível. Seria muito mais fácil escrever sobre Mário Lemieux, Jose Sakic ou Bob Corkum (ok, péssimo exemplo esse último), mas quem quer facilidades? Vou do jeito Dallas Drake de atuar: brigando pelas bordas ou enfrentando o tráfego pesado frente à meta adversária.

Foi dessa forma que saiu a imensa maioria de seus 167 gols na NHL. E é uma tarefa quase impossível encontrar um gol de Drake que tenha sido bonito. Foram gols achados, gols sem querer, gols de rebote, gols de desvios. Mas foram gols. Outra faceta do nosso ídolo - quero dizer, espero que seja seu também - é não fugir da briga mesmo não sendo o maior dos atletas para o padrão da NHL (1,83m e 89 kg). Destemido como Dallas, iniciei aqui esse humilde tributo a um símbolo do hóquei disputado como ele tem que ser: com intensidade e entrega.

Na próxima edição da The Slot abordaremos o início da carreira de Dallas Drake. De sua Trail natal, passando pelas ligas de juniores e chegando até ser recrutado pelo Detroit Red Wings. Até lá.


Eduardo Costa espera não assustar o leitor com tanta obscuridade.
ASSIM SÃO OS GOLS DE DRAKE Na foto, entre Evgeni Nabokov e Patrick Marleau, nos playoffs de 2001. E faltam apenas 727 para chegar aos 894 de Wayne Gretzky! (Paul Sakuma/AP - 2001)
EM SEUS TEMPOS DE COYOTE Mostrando que um disco deve ser tratado como um suculento canelone de camarão com catupiry (Arquivo TheSlot.com.br)
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Página publicada em 19 de outubro de 2005.