Depois
de perder jogadores do quilate de Mark Messier, Al MacInnis, Ron
Francis e Scott Stevens, a NHL perde mais um de seus grandes.
Brett Hull anunciou na semana passada que está se aposentando.
Terceiro maior goleador da história da liga, quarto maior goleador
em playoffs, MVP de 1991, artilheiro da NHL por três temporadas
consecutivas (entre 1990 e 1992), campeão da Copa Stanley em 1999
e 2002, 41 anos de idade, um dos maiores atacantes da história
do hóquei. Esse é Brett Hull.
Sempre sincero, Hull admitiu que o longo tempo parado lhe fez
mal. Fora de forma, lento, envelhecido para o jogo de hoje em
dia, mais rápido do que na última temporada em que atuou. Ele
poderia ficar, marcar seus gols, contribuir de alguma forma e
terminar a temporada? Claro. Mas isso não combina com ele: jogar
apenas para ganhar dinheiro não é a cara de Hull.
O locaute foi cruel com o famoso Golden Brett. Tivesse ele participado
de mais uma temporada (e na de 2003-04 ele ainda esteve muito
bem), é provável que tivesse ultrapassado outro grande, Gordie
Howe, em gols.
Não faz mal, ele está lá em terceiro, atrás apenas dos maiorais
Howe e Wayne Gretzky. Mas também está ao lado de outros grandes
goleadores da história da liga, como Mike Bossy e Maurice "Rocket"
Richard.
Filho de outro grande do hóquei, Bobby Hull, ele estava usando
a camisa 9 do pai, aposentada pelo Phoenix Coyotes e "desaposentada"
especial e exclusivamente para ele. Em cinco jogos pelo time de
Gretzky, apenas uma assistência e a certeza de que o tempo passou.
A evolução do jogo
Todo jogador que se preza na NHL aprendeu a jogar defensivamente
da primeira para a segunda metade dos anos 90. Com Hull não foi
diferente. Do atacante nato e goleador da virada da década de
80 para a de 90, passamos a ver um jogador mais completo, que
sabia defender, matar penalidades e conter atacantes adversários.
Esse aprendizado começou ainda nos Blues, com Joel Quenneville,
mas foi com Ken Hitchcock que ele realmente se consolidou como
um atacante completo. E foi em Dallas que ele ganhou sua primeira
Copa Stanley, com gol ilegal e tudo.
Quando chegou a Detroit, dois anos depois, já estava lapidado
para jogar com Scotty Bowman e conquistar sua segunda Copa. E
assim o fez, atuando numa linha que muitos consideravam a quarta
do Detroit, ao lado do então novato Pavel Datsyuk e de Boyd Devereaux
(!).
Eu adorei ver Brett Hull jogar. Toda vez que ele empunhava o taco
para disparar de primeira você podia ter certeza de que algo bom
aconteceria. No mínimo um belo movimento. E como era bonito vê-lo
batendo de primeira no disco, em direção ao gol.
Polêmica e Mike Keenan
Sempre polêmico, quando a liga se preparava para o que viria a
ser um ano obscuro sem hóquei, Hull declarou publicamente que
a maioria dos jogadores recebia mais do que deveria, mas que isso
havia sido obra dos próprios gerentes, não dos jogadores. Alguma
mentira?
Um dos alvos preferidos de Hull era o técnico e gerente Mike Keenan.
Começou nos tempos de Blues, quando Keenan chegou e começou a
derrubar o reinado de Hull na franquia. Keenan saiu e Hull ficou,
mas este nunca esqueceu o antigo desafeto.
Conta Hull sobre a época em que Keenan era gerente e técnico do
St. Louis Blues e estava para contratar Wayne Gretzky: "Uma vez
eu disse a Wayne Gretzky para não fazer uma coisa, e ele não me
ouviu, então eu nunca mais digo a ele pra deixar de fazer qualquer
coisa. Eu disse a ele pra não sair do Los Angeles para o St. Louis
e que o [então técnico Mike] Keenan era um idiota. Ele disse que
[Keenan] não seria um idiota uma vez que ele fosse pra lá. Eu
disse: 'Ele nunca vai mudar.' Eu tinha razão."
Quando a ESPN programou uma sessão do "Budweiser Hot Seat" com
ele, em 2003, foi um grande sucesso. Especialmente pelas respostas
rápidas, deslavadas e sinceras que ele deu. Uma delas é absolutamente
inesquecível.
Pergunta: "Se você pudesse tirar as luvas e partir pra cima de
algum jogador ou técnico, quem você escolheria?"
E Hull, na lata: "Mike Keenan."
Trata-se de uma época áurea a que estamos vivendo. Num relativamente
curto período — dez anos —, teremos assistido ao melhor
plantel da história da NHL se aposentando: Wayne Gretzky, Mario
Lemieux, Mark Messier, Steve Yzerman, Brett Hull, Paul Coffey,
Patrick Roy, Dominik Hasek, Ron Francis, Scott Stevens etc.
O hóquei perde mais um dos seus grandes. Somente o Hall da Fama
sai ganhando.
REI DOS BLUES
Hull foi rei dos Blues por quase uma década. Foi lá
que ele foi artilheiro por três temporadas seguidas e
eleito MVP de 1991 (Arquivo TheSlot.com.br)
O GOL 700 Durante
seus três anos com o Detroit Red Wings, Hull foi campeão
da Copa Stanley, marcou seu gol n.º 700 e ainda foi fundamental
no desenvolvimento de Pavel Datsyuk (Arquivo TheSlot.com.br)
GOL (ILEGAL)
DO TÍTULO O famoso gol ilegal que deu o título
ao Dallas Stars em 1999. Todos os outros gols em que o atacante
estava com o pé dentro da área do goleiro foram
anulados naquela temporada, exceto esse (Arquivo TheSlot.com.br
- 1999)