Por Marcelo Constantino

Quando o Detroit Red Wings venceu o Vancouver Canucks nestes playoffs, de um modo geral todos em Hockeytown ficaram aliviados quando viram que o próxmo adversário seria o St. Louis Blues. Fregueses cativos dos Wings nos playoffs da última década, todos se sentiam acostumados a vencê-los.

Deve ser frustrante para o time de St. Louis, que vem montando boas equipes e sempre vislumbrando uma chance de chegar à Stanley Cup, enfrentar de forma cada vez mais desnivelada os Wings nos playoffs. Ou ser varrido por um Colorado Avalanche, claro.

É fato que, desde o primeiro encontro que vamos relembrar, em 1996, as séries têm ficado cada vez mais fáceis para os Wings, a ponto de todos em Detroit realmente torcerem para pegar os Blues nos playoffs.

Neste ano, quando ficou definida a semifinal de conferência, ainda foi levantada a hipótese de os Blues entrarem mordidos justamente por serem grandes fregueses. Seria a única hipótese de vitória do time. Nem assim: este ano foi o mais fácil de todos.

Vejamos então um breve histórico desses confrontos.

1996 -- Semifinais da Conferência Oeste, o time recordista de vitórias dos Red Wings amarela nos playoffs e tem graves dificuldades para superar os Blues de Wayne Gretzky e Brett Hull. Chega a estar perdendo a série por 3-2, mas consegue chegar ao jogo decisivo. A vitória definitiva só chegou na segunda prorrogação do jogo 7, através do histórico gol de Steve Yzerman.

1997 -- Os times se encontram novamente, desta vez na primeira fase. Os Wings chegam desacreditados e os Blues também, desta vez sem Gretzky. Após ficar mais de cem minutos sem fazer um gol, os Wings conseguem o feito com Kris Draper, em desvantagem numérica, aos 4:05 do terceiro período do jogo 2. Depois de estarem empatados em 2-2 na série, os Wings vencem duas e seguem adiante. Neste momento, segunda derrota para os Blues e série empatada, é que ocorre o momento mais importante para o time nos playoffs - segundo os próprios jogadores -: Yzerman convoca o grupo, diz que as coisas não estão bem e que é necessário mudar. E o mais importante: "A começar por mim, eu não estou jogando o que deveria". Dali em diante o time perdeu apenas duas partidas para o Colorado Avalanche até sagrar-se campeão da Stanley Cup de 1997.

1998 -- Novo encontro entre ambos, mais uma vez na semifinal de conferência. Os Wings são os campeões e os Blues já começam a ser considerados fregueses. Mesmo com alguns sustos, o Detroit passa por 4-2, incluindo uma convincente e definitiva goleada de 6-1 no jogo final.
Na partida mais emocionante da série, Chris Osgood ainda tentou ajudar os Blues, aceitando um despretensioso chute de Al MacInnis do meio do gelo, com menos de um minuto para acabar a partida. O jogo vai para a prorrogação e, no primeiro período, Craig Conroy dá um chute que bate numa trave. O disco rola sobre a linha até bater na outra trave e Osgood finalmente defender. A revisão em vídeo mostra que o disco nunca ultrapassou a linha do gol. Na segunda prorrogação, Brendan Shanahan entra livre pela esquerda após um face-off e marca o suado gol da vitória. O VT do jogo foi transmitido de madrugada para o Brasil, repleto de cortes.

2002 -- Quatro anos depois, lá está o Blues novamente comprando derrota dos Wings, dessa vez por 4-1, a mais fácil de todas. Na solitária vitória, por 6-1 — justamente a única partida transmitida de madrugada para o Brasil —, o único alento dos Blues. Para fechar, o capitão do St. Louis, Chris Pronger, numa tentativa de atingir o capitão dos Wings, se machuca e fica de fora do jogo final, vencido com absoluta tranqüilidade por 4-0. Poucas vezes o desnível ficou tão evidente na liga: enquanto um joga machucado e não admite sair do time, o outro tenta atingi-lo, se contunde e ainda desfalca o time para o resto dos playoffs.