Quando decidi escrever algo sobre a aposentadoria da camisa #19 do Vancouver Canucks, em honra a Markus Näslund, mandei uma SMS para o editor-chefe informando minha decisão de adicionar mais um artigo meu à edição #238. Ele me respondeu com a sugestão de ler o post do Puck Daddy sobre o assunto. Quando li o post do Ryan Lambert, resolvi traduzi-lo e inclui-lo na minha coluna, por apresentar uma ideia completamente oposta à minha.
Muito mais que gols, assistências e prêmios, por Thiago Leal
Já defendi aqui inúmeras vezes e continuo afirmando que títulos não fazem o atleta — independentemente do esporte. Por exemplo... quem é louco de dizer que Mazinho, Andrea Pirlo ou Jurgen Klinsmann, campeões mundiais com ativa participação em seus times, são melhores que Johann Cruyff, Zico ou Michel Platini, que nunca tiveram a sorte de vencer o mundial? E no futebol americano... Dan Marino, meu exemplo preferido, não foi um dos melhores jogadores de futebol de todos os tempos sem nunca ter vencido um Super Bowl?
Numa liga com 30 times e centenas de atletas por temporada, como é o caso da NHL, é impossível que todos os grandes jogadores sejam premiados e/ou agraciados com títulos. Pat LaFointaine, Dino Ciccarelli, Pavel Bure, Trevor Linden ou Mats Sundin encerraram suas carreiras sem títulos. Quem vai ser louco o bastante para questionar a habilidade de Bure? Por outro lado, o sempre controverso Claude Lemieux tem quatro.
Markus Näslund ofereceu seus serviços ao Vancouver Canucks por 12 temporadas e foi capitão do time de 2000 a 2008. Cansou de ganhar prêmios internos na franquia, o que pode não ser de grande significância para a NHL ou para torcedores de outras franquias, mas mostra o respeito que ele, Näslund, tem lá dentro. Venceu em 2003 o então Prêmio Lester B. Pearson, hoje conhecido como Prêmio Ted Lindsay, o que reflete também o reconhecimento de Näslund ante seus colegas de profissão. Então não estamos falando apenas de um jogador habilidoso e seu tão falado stickhandling (controle do disco), mas sim sobre um atleta de caráter e dedicação incomparáveis que honrou a franquia que defendeu.
É por essa razão que os Canucks escolheram aposentar a camisa de Näslund? Logo o número 19, tão místico neste esporte? Trevor Linden teve seu número aposentado pelos Canucks recentemente, num caso que em muito se assemelha a este de Näslund. Talvez Linden seja muito mais que Näslund para a franquia, até por tempos de serviço prestados, mas a comparação cabe, até porque dá para entender Näslund como jogador bem melhor que Linden.
Minha interpretação desta atitude da gerência do Vancouver Canucks vai além da qualidade da "lenda" em questão. Tanto por Linden quanto por Näslund, o Vancouver escolheu honrar aqueles que honraram a franquia com seus trabalhos. Linden e Näslund não foram só jogadores do Vancouver Canucks, foram a identidade do time por bastante tempo. E pra mim isso é o suficiente. Não tem título que pague melhor.
O que aprendemos: Já podemos parar com aposentadorias de camisas? por Ryan Lambert
Talvez Markus Näslund seja o cara mais legal no mundo. Talvez ele sozinho tenha trazido respeito ao Vancouver Canucks.
Mas isso não significa que o número do cara deva ser aposentado.
As camisas costumavam ser aposentadas
ao mérito de que o jogador foi um dos maiores de todos os tempos e sua carreira para com uma certa franquia tenha sido tão memorável e preenchida com momentos indescritíveis que não possam ser esquecidos a ponto de tornar um insulto a seu legado imortal que se deixe qualquer um vestir sua camisa.
Agora eles deixam que qualquer um tenham sua camisa pendurada nas vigas.
Em tempo: Ryan Lambert deixa claro em seus posts no Puck Daddy que sua opinião é provocativa e sua intenção é criticar com acidez fatos que considera superestimados na NHL, então não há motivo para se sentir ofendido com o cara. Ele até dá liberdade ao leitor para se queixar com o que escreveu.
Rich Lam/Getty Images Cerimônia de aposentadoria da camisa de Markus Näslund na Arena Rogers. (11/12/2010) |