Mais de um quarto de temporada se foi e podemos dizer que, até aqui, o Calgary Flames é seguramente um dos piores times desta temporada. Brigando pela lanterna da Conferência Oeste ao lado do Edmonton Oilers e do Minnesota Wild (por acaso, todos da Divisão Noroeste), o time de Jarome Iginla não se acerta há tempos.
Até aqui o comando do gerente Darryl Sutter e seu irmão-técnico Brent Sutter tem sido um desastre. Ponto. Parágrafo.
O péssimo momento suscita a cada vez mais forte onda para cima de uma possível negociação da estrela maior do time, o próprio Iginla. Difícil saber se é mera onda da imprensa ou se há gente pensando seriamente nisso em Calgary. Eu realmente não acredito que negociar o craque, goleador e líder (atual e histórico) do time (e da franquia) seja uma saída positiva -- mas, por outro lado, não descarto mais a velha máxima de que há males que vêm para bem.
De qualquer forma, qual o sentido de negociar seu melhor atacante (e seguramente um dos melhores e mais completos da liga, ainda que evidentemente que num patamar abaixo de Crosby-Ovechkin), quando o problema mais antigo do time é justamente marcar gols?
Aliás, outro dos problemas mais antigos dos Flames é “encontrar um central para Iginla”. Perdi a conta das vezes que li isso, sobretudo nas férias, perto dos dias-limites de troca, ou no período de pré-temporada. Por outro lado, por mais bizarramente infantil que seja, negociar Iginla de fato “resolveria” esse problema! Não, já basta ter se desfeito de Dion Phaneuf na temporada passada. Desmontar por completo a espinha dorsal do time não me parece solução razoável.
Se o ataque sofre de anemia há tempos, agora a defesa decidiu fazer sua parte também. Miikka Kiprusoff não consegue mais carregar o time como antes, a defesa sem Phaneuf (na verdade, mesmo com ele a defesa já andava mal) vai de mal a pior. É uma das piores da liga, tal qual os times especiais. Paradoxalmente, o ataque do time (exceto quando está em vantagem numérica, quando se torna inofensivo) é o que há de menos catastrófico no momento.
As tentativas de dar profundidade ao time, ou meramente para melhorar o ataque, para esta temporada -- Olli Jokkinen e AlexTanguay -- parecem piada, embora Tanguay não esteja de todo mal.
Claro, ainda é dezembro, ainda não chegamos ao Natal, ainda há muita temporada pela frente. Os Flames podem mudar radicalmente, claro. A distância do time para o oitavo colocado nem é tão grande assim, em termos de pontos. O problema maior é mudar a tendência do time, é fazer o Calgary funcionar. Não há qualquer indicativo nessa direção. Ainda que até a partida de quinta-feira (esta matéria foi escrita antes) o time esteja num momento de ganha-perde, o mês de novembro fez um estrago muito grande nas pretensões da equipe.
A goleada sofrida para o Vancouver Canucks no primeiro dia deste mês, por 7-2, é daquelas que deveriam desmoralizar um time. Era a décima derrota em 14 jogos, e foi uma derrota feia. Porém, o mais significativo ocorreu durante a partida: num determinado momento do terceiro período, Sutter, o técnico, colocou cinco defensores no gelo para uma vantagem numérica, tamanha era a inoperância dos atacantes. É claro que uma atitude dessas não é digerida tranquilamente e, evidentemente, cria atritos na relação do técnico com o time.
Então, o que fazer? Cortar a cabeça do técnico? É normal um gerente demitindo um técnico. Entretanto, por mais profissionais que sejam as relações executivas na América do Norte, o que dizer de um irmão demitindo o outro? Você consegue imaginar isso?
Talvez a solução mais fácil para a franquia seja detonar de uma vez os irmãos Sutter. Ter ficado de fora dos playoffs passados, ter entregue um defensor do porte de Dion Phanuef, anunciar o retorno de Olli Jokinnen como um “reforço”, a expectativa de ficar novamente fora dos playoffs este ano, tudo isso deveria motivo mais que suficiente para que a casa caia toda de uma vez.
Sim, porque voltar aos bons tempos em que Darryl Sutter acumulava a gerência e o comando técnico (quando os Flames foram às finais da Copa Stanley) é daqueles movimentos de retorno ao passado que dificilmente acontecem e, quando acontecem, dificilmente funcionam. Sobretudo porque aquela NHL era outra, diferente da atual.
Se o momento enseja atitudes drásticas, e eu entendo que sim, a queda conjunta dos irmãos Sutter me parece a saída mais próxima.
Marcelo Constantino tem saudades de Scott Stevens.