O ano de 2010 está por acabar. A virada de dezembro para janeiro muitas vezes mexe com a situação de vários times na tabela da NHL. Quem não lembra de 2008-09, quando o Pittsburgh Penguins virou o ano na parte de baixo do Leste e em junho se sagrava campeão da Copa Stanley? O sucesso neste esporte é tão fugaz quanto uma arrancada de Wayne Gretzky e, mesmo na atual temporada, clubes que começaram bem como Toronto Maple Leafs, New York Islanders e Los Angeles Kings, todos apostas minhas, agora passam por momentos ruins.

Como afirmar, então, que o Pittsburgh Penguins, líder soberano da NHL neste momento, terminará o mês de abril com o Troféu dos Presidentes e mando de gelo para a pós-temporada?

O mesmo raciocínio pode ser aplicado ao Wilkes-Barre/Scranton Penguins e a American Hockey League. Assim como seu time afiliado na liga de cima, o Wilkes-Barre/Scranton, infamemente apelidado "Baby Penguins" ou "Baby Pens", lidera a atual temporada regular da AHL com 42 pontos, um a mais que o San Antonio Rampage até o fechamento deste artigo. Propriedade de Mario Lemieux e Ron Burkle, o Wilkes-Barre/Scranton já perdeu seu maior pontuador na temporada: o central canhoto Dustin Jeffrey somava 30 pontos, 13 gols e 17 assistências, na liga de baixo quando foi chamado pelo time de cima. Em sua primeira oportunidade com o Pittsburgh na temporada 2010-11, o rapaz, 171ª escolha de 2007, marcou seu primeiro gol e assistência no retorno à NHL, na vitória por 5-2 sobre o Buffalo Sabres.

Se a certeza de que o Pittsburgh irá jogar os playoffs é pouca, imagine então quanto ao Wilkes-Barre/Scranton, que possui nada menos que 16 dos seus 22 atletas em contrato com o time de cima?

Sidney Crosby e Dustin Jeffrey
Sid the Kid dispensa apresentações. Personagem principal da NHL desde que foi recrutado como escolha número 1, em 2005, Crosby vem pouco a pouco cumprindo com o enredo de sua carreira e se firmando como o principal jogador de sua geração. Apesar de toda controversa (sem a menor razão) em torno de sua pessoa, que faz com que seja adorado pelos fãs dos Penguins e odiado por torcedores das demais franquias, Crosby vem espantando o olho gordo e só melhora com o passar dos anos. Atualmente, lidera a liga em pontos e gols.

Crosby levou o Pittsburgh a uma Copa Stanley como capitão do time, deu o ouro olímpico ao Canadá, conquistou o Prêmio de Liderança Mark Messier (2010) e o Troféu Rocket Richard de goleador do ano (2010), mas, três anos antes disso, no melhor ano individual de sua carreira até aqui, Crosby conquistou o Art Ross (maior pontuador), Prêmio Lester B. Person (escolha popular), Jogador do Ano pelo Sporting News, Troféu Memorial Hart (melhor jogador da temporada regular) e foi primeiro time no Jogo das Estrelas. Tudo isso em 2007, quando Crosby tinha apenas 20 anos de idade.

Curiosamente foi neste mesmo ano que o Pittsburgh recrutou Dustin Jeffrey, então jogador do Sault Ste. Marie Greyhounds. Jeffrey jogou mais uma temporada com os Greyhounds e foi jogado aos leões da AHL nos playoffs da temporada 2007-08. Na temporada 2008-09, sua primeira temporada profissional completa, Jeffrey jogou 63 jogos de temporada regular e mais pós-temporada com os Baby Pens. E também teve uma breve passagem de 14 jogos com o Pittsburgh. Estreou em 26 de dezembro, contra o New Jersey Devils. Em 30 de dezembro, contra o Boston Bruins, marcou seu primeiro ponto. No dia seguinte, também contra o Boston, seu primeiro gol. Dustin voltou para a AHL onde concluiu a temporada 2008-09 e jogou toda temporada 2009-10 com o Wilkes-Barre Scranton. Jeffrey voltaria a ter uma nova oportunidade nos Penguins na temporada 2009-10, em um único jogo, mas não marcou gols ou assistências. Se redimiu em sua reestreia nesta temporada, contra os Sabres, marcando dois pontos.

Em contraste com os 30 pontos em 25 jogos de Jeffrey na AHL, Crosby tem 51 pontos em 31 jogos, 26 gols e 25 assistências. Jogam na mesma posição e se caracterizam por ser mais marcadores de gols que assistentes.

Pittsburgh Penguins e Wilkes-Barre/Scranton Penguins
Apesar de ter começado a temporada de modo muito irregular, alternando partidas boas e ruins, vitórias e derrotas, e ter levado todo o mês de outubro nesta toada, recuperando-se da metade de novembro para frente. Invicto há 12 jogos, os Pens só tiveram que encarrar shutout uma vez dentro dessa sequência, contra o Carolina em Pittsburgh, no dia 19 de novembro. As outras 11 vitórias vieram em tempo regulamentar. Além de Crosby, o defensor Kris Letang vem sendo crucial para o bom desempenho dos Penguins.

Claro, pode-se considerar que neste período os Penguins enfrentaram apenas duas equipes que vão bem na tabela, o Vancouver Canucks e o New York Rangers. De resto, pegou equipes mais fracas. Mas esse tipo de reciocínio não funciona tão bem assim na NHL. O Detroit Red Wings tropeçou recentemente contra os irregulares San Jose Sharks e Nashville Predatores. O Philadelphia Flyers também teve problemas com os Sharks e com o New Jersey Devils. Tanto Wings quanto Flyers estão bem na tabela, respectivamente em terceiro e segundo na liga. O quarto colocado, Washington Capitals, tomou 3-0 do Florida Panthers e também perdeu para Atlanta e Toronto.

A legetimidade da liderança do Pittsburgh Penguins não deve ser comprometida por este fato, portanto.

O Wilkes-Barre/Scranton Penguins, por outro lado, começou a temporada regular da AHL bem demais. Foram nove vitórias consecutivas, da sua estreia contra o Hersehy Bears ao nono triunfo sobre o Rochester Americans. Mais tarde, engatou mais uma sequência: seis vitórias, numa sequência que começou contra o Rochester e encerrou em cima do Toronto Marlies. Os Baby Penguins vêm de duas derrotas, ambas para o Norfolk Admirals, e foi a primeira vez na temporada regular que os Penguins perderam duas partidas consecutivas.

Assim como o Pittsburgh Penguins tem Crosby como líder absoluto da franquia em pontos, o Wilkes-Barre/Scranton tinham a soberania de Jeffrey. O maior pontuador do Pittsburgh depois de Crosby é Letang, com 26 pontos, seguido de Evgeni Malkin com 22. Brett Sterling e Tim Wallace, ambos com 19 pontos, sucedem Jeffrey na liderança de estatísticas do Wilkes-Barre/Scranton. Claro que nunca é tarde para Jeffrey retornar ao Wilkes-Barre/Scranton, mas levando em consideração seu desempenho, dá para acreditar que sua oportunidade em Pittsburgh desta vez seja maior. Jeffrey teve dez minutos de jogo contra os Sabres.

Por outro lado, enquanto Marc-Andre Fleury é o goleiro titular sem nenhuma questão em Pittsburgh, Wilkes-Barre/Scranton revesa entre John Curry, que já chegou a jogar pelo Pittsburgh, e Brad Thiessen. Ambos têm desempenhos bem parecidos e seguram os Baby Penguins como a segunda melhor defesa da AHL, atrás apenas do Peoria Rivermen. A defesa do Baby Pens no final das contas é tão segura quanto a do Pittsburgh, uma das melhores da NHL, principalmente entre os times na ponta da liga.

História recente
O Pittsburgh Penguins teve duas escolhas de número 1 e uma de número 2 em recrutamentos de entrada da NHL, de onde vieram Marc-André Fleury, Evgeni Malkin e Sidney Crosby. Os últimos lugares amargados por anos foram o preço que os Penguins pagaram para ter um futuro promissor. Antes da Era Sidney Crosby, o último título de divisão veio em 1998. O último título de Conferência, em 1992, mesmo ano da Copa Stanley. Troféu dos Presidentes, o único, em 1993. Com Crosby & cia. os Penguins voltaram a levar a Divisão do Atlântico (2008), a Conferência Leste (2008 e 2009) e a Copa Stanley (2009). Além de ter se estabelecido como um time de ponta e não um dos últimos colocados.

O Wilkes-Barre Scranton foi fundado em 1999. Antes disso, o Pittsburgh tinha como filiado o Cleveland Lumberjacks da extinta International Hockey League (existe atualmente outra liga com este nome). Em 1996 os Penguins compraram o Cornwall Aces e a franquia foi reaberta em 1999 como o Wilkes-Barre/Scranton Penguins, talvez o melhor time afiliado de uma franquia da NHL, no sentido de ficar bem próxima de sua franquia afiliada em liga de cima e desenvolvier seus jogadores.

Em 2001 o Wilkes-Barre venceu a Conferência Leste. Repetiu o título em 2004 e em 2008. Perdeu a Copa Calder em todas as ocasiões: em 2001 para o St. John Flames, em 2004 para o Milwaukee Admirals e em 2008 para o Chicago Wolves. A Divisão Leste foi conquistada em 2006 e 2008. Apenas em uma ocasião os Penguins tiveram vencedor de prêmio individual, o goleiro Dany Sabourin, Melhor Goleiro e melhor média de 2006, atualmente jogando com o Hershey Bears, filiado do Washington Capitals na AHL. John Slaney fora defensor do ano em 2001, mas já havia trocado o Wilkes-Barre/Scranton pelo Philadelphia Phantoms durante a temporada regular.

O que vem pela frente
A tabela de dezembro põe o Pittsburgh de frente com os Flyers, Rangers, Phoenix Coyotes e Washington Capitals, além de times da parte de baixo, como novas partidas contra o New York Islanders e Florida Panthers. O ano dos Penguins começa com o Winter Classic contra os Capitals e o mês de janeiro segue com uma difícil tabela que vai incluir Tampa Bay Lightning, Boston Bruins e Montreal Canadiens.

O Wilkes-Barre tem pela frente uma sequência de times que não fazem uma boa temporada: Albany Devils, Abbotsford Heat, Syracuse Crunch e Hershey Bears. Em 1º de janeiro volta a enfrentar o Norfolk, terceiro colocado na AHL, mas a tabela continua teoricamente tranquila com Charlotte Checkers, Bridgeport Sound Tigers e Providence Bruins. Claro, não se sabe se o Wilkes-Barre/Scranton terá Jeffrey e, caso não tenha, como o time deve se sair sem seu principal central.

Até aqui, o desempenho dos pinguins, tanto na NHL e AHL, é impecável. Da última vez que os dois foram simultaneamente bem, em 2008, alcançaram e perderam a decisão do campeonato. Por pouco 2008 não foi o ano do pinguim.

• Capa
• Editorial
• Um olhar do Canadá
• Ovechkin na Flórida?
• Calgary insiste no erro
• De volta ao início
• O ano do pinguim?
  
• Kovalev e Clouston brincam de jogar a culpa
• Valores opostos