Por: Igor Veiga

Fazer uma seleção com os grandes jogadores da história do Montreal Canadiens realmente não é uma tarefa fácil. Apesar de alguns nomes serem cartas certas no baralho, algumas (se não muitas) injustiças podem acabar sendo feitas. Não seria surpresa. O clube centenário que por mais vezes levantou a Copa tem sua história marcada por grandes e lendários jogadores, que não só deixaram a sua marca na franquia, como também na história do esporte.

Até já existe uma espécie de "time oficial de todos os tempos" dos Habs. Foi em 1985, durante as comemorações pelo 75º aniversário da franquia, numa votação feita pelos torcedores. Os escolhidos na ocasião foram: Jacques Plante (G), Doug Harvey e Larry Robinson (D), Dickie Moore (LW), Jean Beliveau (C) e Maurice Richard (RW).

A lista abaixo não segue nenhuma ordem de preferência, nem de importância... nada disso. Na verdade, para evitar polêmicas, a lista segue a ordem dos números que cada jogador escolheu para usar em seus mantos sagrados. 

A principal intenção aqui é somente destacar alguns jogadores que ficaram na memória e nos corações dos torcedores tricolores durante as 10 décadas de existência do Club de Hockey Canadien. Como tentei me ater a apenas 12 nomes, algumas figuras memoráveis ficaram pelo caminho. Mas o que seria das listas de melhores, maiores ou piores se sempre houvesse unanimidade?

Jacques Plante (G)


N
úmero: 1
Carreira nos Canadiens: 1953-63
Jogos: 556 / Vitórias: 314 / SO: 56 / GGA: 2,23 
Copas Stanley: 6

Como deixar Plante de fora de nossa lista? Um jogador que marcou história no clube e no hóquei, revolucionando a posição de goleiro durante os anos em que esteve em atividade. Tinha um estilo de ser muito particular. Muito fechado, não gostava de se relacionar com seus colegas de time.

"Jake the Snake", que fez parte do elenco vencedor de cinco Copas seguidas (1956-60), além de sua incrível habilidade em fechar o ângulo dos atacantes adversários tem sua lista de inovações recheada: foi o primeiro goleiro a usar máscara; o primeiro goleiro a levantar os braços para avisar um icing aos seus defensores; e também o primeiro goleiro jogar atrás do gol e deixar o disco pronto para os zagueiros saírem jogando. Ele ainda estabeleceu um recorde na NHL ao ganhar sete troféus Vezina de forma consecutiva.

Doug Harvey (D)

 

Número: 2
Carreira nos Canadiens: 1947-61
Jogos: 890 / Pontos: 447
Copas Stanley: 6

Bobby Orr pode ter sido o maior defensor com habilidade de atacante de todos os tempos, mas, sem dúvida, Doug Harvey foi o primeiro de todos. Ele mudou a forma dos zagueiros jogarem, mostrando que uma maior habilidade com o disco também era importante para a posição, fosse para administrar o controle do disco, fosse para contribuir com os números do ataque.

Preocupado também com as causas dos jogadores, Harvey participava ativamente da recém criada Associação de Jogadores da NHL. Esteve presente no elenco que venceu a Copa por cinco anos consecutivos, de 1956 a 1960, e ainda venceu o Troféu Norris em seis oportunidades no período de 1955 a 1961.

Jean Beliveau (C)

 

Número: 4
Carreira nos Canadiens: 1951-71
Jogos: 1.125 / Pontos: 1.219
Copas Stanley: 10

O maior capitão da história dos Canadiens jogava com classe e fino trato com o disco. Foi sem dúvida um dos melhores centrais na história do esporte, capaz de controlar o disco, chutar a gol e ainda liderar seus companheiros dentro e fora do gelo como poucos.

"Le Gross Bill" é considerado até hoje um dos melhores atacantes que o hóquei já viu. Com os Habs, venceu 10 Copas Stanley e detém 14 recordes do time em todos os tempos, 11 deles nos playoffs. Foi o primeiro jogador a receber o Troféu Conn Smythe, como o jogador mais valioso dos playoffs de 1965.

Bernie Geoffrion (RW)

 

Número: 5
Carreira nos Canadiens: 1950-64
Jogos: 766 / Pontos: 759
Copas Stanley: 6

Força, espírito de luta e uma pontaria fenomenal eram o cartão de visitas do "Boom Boom". Seu slap shot marcou época e serviu para mudar a percepção dos goleiros. Na verdade, chegou a sofrer devido ao seu faro de artilheiro. Em 1955, com a suspensão de Richard, Geoffrion tornou-se o goleador do time, superando o "Rocket". Muitos torcedores acharam aquilo uma ofensa ao seu maior ídolo e começaram a vaiar o jovem atacante.

Novato do ano em 1951-52, tornaria-se o primeiro jogador depois de Richard a marcar 50 gols em uma temporada, em 1960-61. Ganhou seis Copas com os Canadiens e dois títulos de artilheiro da liga. 

Howie Morenz (C)

 

Número: 7
Carreira nos Canadiens: 1923-34, 1936-37
Jogos: 460 / Pontos: 412
Copas Stanley: 3

Jogador acima do seu tempo, Morenz era uma espécie de Guy Lafleur e "Rocket" Richard dos anos 1920. Além de possuir um verdadeiro canhão em seus chutes, jogava com espírito, habilidade, velocidade e um vigor físico poucas vezes vistos. Foi a primeira superestrela do tricolor canadense.

O "Stratford Streak" venceu o Troféu Hart, como melhor jogador dos playoffs, por três vezes, foi por duas vezes líder em pontos da liga, e ganhou três Copas com os Habs. Sua melhor temporada foi 1927-28, quando marcou 33 gols e 51 pontos. Acabou morrendo em decorrência de uma contusão ocasionada após um tranco sofrido durante uma partida contra o Chicago, naquela que seria a sua última temporada pelo time, 1936-37.

Maurice Richard (RW)

 

Número: 9
Carreira nos Canadiens: 1942-60
Jogos: 978 / Pontos: 965
Copas Stanley: 8

Um dos maiores jogadores de hóquei de todos tempos. Antes de "The Rocket", ninguém tinha um pacote que incluísse habilidade, técnica, liderança, intensidade, paixão, fúria euma espetacular pontaria. Jogando em todos os espaços do rinque, lutava até o fim pela posse e domínio do disco. Um ícone na província do Quebec, sua figura ultrapassava a imagem de esportista. Ele era muito mais do isso. 

Artilheiro nato, Maurice foi o primeiro jogador a marcar 50 gols em 50 jogos, e fez 544 gols em temporada regular e mais 82 nos playoffs (incluindo um recorde de seis gol da vitória em prorrogações que só seria batido anos mais tarde por Joe Sakic). Ganhou oito Copas com o Montreal e foi o capitão durante a dinastia dos cinco títulos seguidos (1956-1960). Mesmo não sendo o melhor dos cavalheiros, Richard permanece até hoje nos corações de todos os franco-canadenses.

Guy Lafleur (RW)

 

Número: 10
Carreira nos Canadiens: 1971-85
Jogos: 961 / Pontos: 1.246
Copas Stanley: 5

 

Primeira escolha geral do recrutamento de 1971, Lafleur chegou aos Habs um dia após a saída de Beliveau. "Le Demon Blond" era um verdadeiro artista dentro do gelo, um daqueles jogadores que até as torcidas rivais tinham prazer em ver jogar. Muito talentoso, hábil com o disco e muito rápido, sabia se movimentar como ninguém dentro do gelo. Seus wrist e slap shots eram mortais.

 

Com seis temporadas consecutivas marcando 50 ou mais gols e 100 ou mais pontos, ele guiou os Habs em quatro títulos de Copa Stanley e foi artilheiro da liga por três vezes. É dele o recorde de pontos e de assistências na história da franquia, só perdendo em número de gols para Maurice Richard.

Dickie Moore  (LW)

 

Número: 12
Carreira nos Canadiens: 1951-63
Jogos: 654 / Pontos: 594
Copas Stanley: 6

 

A palavra "raça" pode descrever bem o que era Dickie Moore, que chegou a ganhar o título de artilheiro da liga mesmo jogando com o pulso quebrado. Numa característica particular, exigia que os jogadores mais jovens fossem confiantes e que dissessem para si mesmos que eram os melhores, embora ele mesmo nunca tenha feito o mesmo.

 

Guerreiro, batalhador, goleador e armador, Moore participou do elenco vencedor das cinco Copas seguidas nos anos 1950 quase todo o tempo lesionado, vítima de contusões no ombro e nos joelhos. Em 1998, foi escolhido como o 31º numa lista dos 100 Maiores Jogadores de Hóquei de todos os tempos, divulgada pela revista The Hockey News.

Henri Richard (C)

 

Número: 16
Carreira nos Canadiens: 1955-75
Jogos: 1.256 / Pontos: 1.046
Copas Stanley: 11

 

Algumas vezes injustamente "ofuscado" pela figura do irmão Maurice, Henri foi um jogador que sempre buscava a vitória, guiado mais por seu lado racional do que pelo passional. Jogador com um espírito de equipe e visão de jogo que poucos possuíam, ele fazia tudo o que fosse possível para não sair do rinque derrotado.

 

Por ser 15 anos mais novo do que seu irmão e também um pouco mais baixo, acabou recebendo o apelido de "The Pocket Rocket". Seus 20 anos de serviços aos Habs lhe deram o recorde de partidas disputadas por um jogador da franquia (1256) e sua dedicação e trabalho duro não foram em vão, pois somente uma pessoa como ele poderia ter o prazer de levantar a Copa Stanley por 11 vezes.

Serge Savard (D)

 

Número: 18
Carreira nos Canadiens: 1966-81
Jogos: 917 / Pontos: 412
Copas Stanley: 8

 

Já bastaria dizer que nenhum outro defensor na história ganhou tantas Copas quanto ele. Excelente patinador e muito forte no combate, ele sabia exatamente como mudar o ritmo do jogo em prol de sua equipe, de acordo com o momento da partida. Fez uma das maiores duplas de zaga já vistas no hóquei, ao lado de Larry Robinson.

Deixou como sua assinatura original a jogada conhecida como "The Savardian Spin-a-rama" em que protegia o disco, com a ajuda de sua grande estatura, e logo a seguir girava o corpo, evitando receber os trancos que certamente viriam em sua direção. 

Larry Robinson (D)

 

Número: 19
Carreira nos Canadiens: 1972-89
Jogos: 1.202 / Pontos: 883
Copas Stanley: 6

 

Um verdadeiro xerife dentro do gelo, Robinson era um jogador muito forte, que não tinha medo das intimidações dos adversários e quase sempre estava envolvido em alguma confusão dentro do gelo se fosse necessário. Fazia da raiva sua motivação para jogar cada vez melhor. Apesar desse estilo marcante, também tinha uma excelente visão de jogo, um passe de altíssima qualidade e uma capacidade única de se ajustar a cada circunstância da partida.

 

Foi selecionado pelo Montreal no recrutamento de 1971, um dos melhores já feitos por um time na história — no mesmo ano, os Habs selecionaram ninguém mais, ninguém menos que Guy Lafleur — e formou, ao lado de Serge Savard e Guy Lapointe, o que ficaria conhecido como "The Big Three", um dos maiores trios de defensores na história do hóquei. Venceu a primeira de suas cinco Copas em 1973, ainda como novato. 

Patrick Roy (G)

 

Número: 33
Carreira nos Canadiens: 1985-95
Jogos: 551 / Vitórias: 289 / SO: 29 / GGA: 2,77 
Copas Stanley: 2

 

Um dos maiores goleiros da história, Patrick Roy era a auto-confiança em pessoa, porém muitas vezes confundida com arrogância. Com sua capacidade de transformar times apenas bons em excelentes, ele foi um dos últimos gladiadores a vestir um uniforme de goleiro e, até hoje, serve de referência e inspiração para os jovens goleiros dispostos a encarar uma carreira na NHL.

 

Roy também foi um divisor de águas, tanto na história dos Habs como de toda a liga, ao transformar a posição do goleiro numa das mais importantes (se não a mais importante) do time (quem não concorda com a afirmativa de que um time sem um bom goleiro não pode ganhar a Copa?). Com os Habs, ganhou os títulos de 1986 (com uma brilhante atuação ainda como novato) e 1993 (quando praticamente não saía do gelo).

Igor Veiga é colunista da TheSlot.com.br e dos blogs Canadiens Brasil e Hóquei Europeu.
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Jacques Plante: o goleiro revolucionário.

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Doug Harvey: o primeiro grande defensor da liga.

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Larry Robinson: o xerifão do gelo.

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Dickie Moore: o artilheiro nato.

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Jean Beliveau: o maior capitão que os Habs já tiveram.

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Maurice Richard: o mito supremo.

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Página publicada em 10 de janeiro de 2010.